segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Não temos bases tão firmes como pensamos ter


Não temos bases tão firmes como pensamos ter

 

Encontro com os pacientes com a proposta de ser ajuda de alguma forma

Mas só nos encontramos por um breve espaço de tempo

Como posso realmente ajudar em um encontro de alguns minutos, uma pessoa que habita a si, a milhares de centenas de horas?

Um fala bem colocada, um gesto de carinho e acolhimento, a provocação de um insight ou o fazer pensar, podem até reverberar de alguma forma, para um depois dos furtivos encontros com um paciente

Mas, será que esse terá a capacidade de sustentar em seu ser, em sua memória a ajuda que lhe foi dada?

Será que a ajuda, é forte o bastante para sobreviver aos impactos da vida?

Honestamente não sei, porém,

O que sei, é que os encontros são muito mais prováveis que os desencontros

A sensação é como se os encontros, fossem eventos naturais, insondáveis e de um acaso probabilístico, como se nunca pudessem acontecer novamente e comumente não acontecem

Nossa relação com um outro que acontece no encontro é sustentada por um acaso tanto quanto a própria vida manifesta com seus eventos

Sem garantias, sem muitos controles, nós e os pacientes tentamos de alguma forma encontrar algo para se agarrar

Verdades, conceitos, entendimentos, ideias, porém, a qualquer momento, basta que um pequeno evento da vida se manifeste, como um conflito familiar, de relação, de saúde, econômico e bummmmm

Tudo explode e desmorona

Ficamos novamente procurando se estabilizar em terrenos instáveis

O acaso dos encontros e desencontros e tudo que diz respeito às nossas vidas, é o algo mais certo que temos

Não há certezas, não a verdades e entendimentos absolutos a única coisa que nos resta é se entregar ao acaso dos encontros e ter a consciência que talvez ele possa ser o último

Compreendendo a sua insubstancialidade, apenas nos entregamos ao que aparece e nos colocamos a proporcionar uma micro ajuda no espaço que nos é permitido ter um encontro.

                                                                                                        

                                                                                                      @professormichelalves

                                                                                                                                                  

Quando a Insanidade se apresenta humana


Quando a Insanidade se apresenta humana


“Ela me olha nos olhos, como se estivesse buscando algo no fundo do meu espírito para ajuda-la

Seu espírito tem sede, por repousar em um lugar calmo e pacífico

Quando meus olhos fitam os seus olhos, nossos espíritos se tocam e se reconhecem

Nesse hora, tenho uma escolha a fazer:

Desvio meu olhar para desencontrar os nossos espíritos fingindo não perceber que seu espírito clama pela sede de pacificação e então finjo não perceber essa fome do seu espirito?

Ou escolho compartir minha humanidade com esse olho que me olha e resolvo comungar da dor que lhe aflige?

Essa dor já é longa, segundo ela, há mais de 20 anos luta para se desvencilhar mas não consegue

Já tentei me matar de muitas formas... cortando a minha carne, queimando a minha pele

E nem mesmo assim, a dor que sinto internamente é remediada

Continuo a olhá-la deixando que nossos espíritos se entrelacem pelas janelas dos nossos olhos que fitam um ao outro

Ela me olha com um olhar como se fosse de quem sentisse muita sede pela água da paz e eu a olho, pensando como posso me tornar esse posso que jorraria essa água da qual ela a tanto tempo procura se banhar

Por muito estranho que pareça, existe um lugar agradável dentro desse encontro pintado por um cenário de dor  

Me sinto bem na verdade, por essa dor ser escancarada, óbvia, sem máscaras

É um lugar de autêntica humanidade. Não há fingimentos algum aqui

O sentir-me bem aqui, não entenda em um sentido perverso de estar indiferente a dor alheia

Mas no sentir bem, como um lugar de refúgio do qual me conforta

O conforto é uma instância na qual sei que estou diante da verdade de um outro, que clama por uma real solução e necessidades para se manter existindo e vivendo com algum sentido

Mesmo sua dor sendo insuportável, ela escancara o demasiadamente estado humano pela busca de sentido para viver e para existir

Não há máscaras no pedido de ajuda daqueles que lutam para encontrar algum sentido para ainda estarem vivos

Não há mentiras nesse estado... e é nessa verdade, mesmo que dolorosa, onde paradoxalmente em meio a tanta dor, é que nasce, se encontra ou talvez se mostre um lugar honesto e digno para existir... para ser

Quando olho nos olhos desse espírito que busca por honesta ajuda, percebo que existe mais verdade do que quando olho nos olhos, daqueles que em seu olhar nem se quer mostram presentes, vivos

A insanidade em seu extremo, pode fazer com que o espírito resolva não mais habitar o corpo do qual a pessoa vive

Mas em contrapartida, a luta por aqueles que tiveram que passar das áreas limítrofes entre o normal e o insano e se retornados a sua sanidade intrínsecas

Talvez retornem com seus espíritos mais fortalecidos e demasiadamente humanizados por isso

Não sei se isso é verdade, mas tendo a acreditar nisso!

O que me entristece de verdade, não é o encontro através do olhar com o espírito daquele que sofre e busca por paz verdadeira, por mais doloroso e trágico que esse encontro possa parecer

O que me entristece, é perceber pessoas sãs em meio as insanidades ao seu redor

Fingindo ou não percebendo nada de errado, como se nada estivesse acontecendo, com a condição que a sua própria normalidade não seja abalada

É esse encontro com a frieza, com a indiferença, com a normalidade é que quando o meu espirito toca um olhar que olha dessa forma, é que vejo que tudo está acabado”

 

                     @professormichelalves

O perverso não quer entrar em contato com a sua perversidade


O perverso não quer entrar em contato com a sua perversidade

 

Quando estiver diante da constatação de algum sinal de perversidade no outro

Tome cuidado ao desmascará-la

pois escancará-la para o próprio de uma vez só, pode ser muito agressivo ou sem efeito

Não fomos educados a fazer os devidos mergulhos nos mundos mais profundos das nossas sombras

Pelo contrário, fomos educados cinicamente a nos vermos como seres éticos, bondosos e caridosos, quando para a maioria de nós, tais virtudes ainda não bateram em nossa porta no sentido de uma prática conquistada e uma ação consumada

É muito confortável, estufarmos o nosso peito e dizermos em forma de palavras vazias que somos pessoas de caráter, dignas, éticas, incorruptíveis

Se assim o fossemos em sua maioria, por que o “mundo humano” encontra-se às ruínas de um espírito ético?

Como nós, seres da “boa família e dos bons costumes”, seres éticos como nos autodenominamos, deixamos que minorias altamente privilegiadas, manipulem o enredo de nossas vidas e de toda a natureza da qual nos oferta o viver?

Se ancoramos os nossos valores tão invendáveis e incorruptíveis, porque doamos o nosso bem mais preciso, como a nossa paz e o nosso tempo de estadia nessa vida, para pessoas, grupos e instituições, que destroem nossas culturas, nossos povos nativos e o nosso próprio planeta?

Que ética é essa que em troca da minha própria segurança eu fragilizo a segurança do outro, ou pior, de um mundo de outros que pisam no mesmo chão que eu piso?

Onde a ética nisso?

Onde a bondade nisso?

Onde a humanidade nisso?

Gosto de pensar, que só nos humanos “animais superiores” que somos, topamos essa empreita de aceitar em troca do próprio benefício, fuder com a maioria, mesmo sabendo que se está dando um tiro no próprio pé, quando o assunto é fuder com o próprio planeta para ter o que se quer e na melhor das hipóteses, se manter vivo no modus sobrevivência.

Se pensarmos bem nessa lógica, matamos e matamos muito, para nos mantermos “bem” quando a lógica que nos leva a esse bem-estar, custa ao sofrimento de muitos outros.

Voltando ao cuidado em desmascarar a perversidade do outro, digo que é preciso ter cuidado, como diria no filme matrix: “as pessoas vão lutar com unhas e dentes para se manter na matrix”, e isso é verdade!

Quando entendemos esse conflito, essa fricção que está prestes a ocorrer ao apresentar para o outro às suas perversidades ou mesmo o atentado que esse (a), comete contra o seu entorno e a si próprio, podemos talvez, nos precaver de saber que o monstro enjaulado, vestido de pessoa benevolente, irá sair e para que esse mantenha a sua própria autoimagem benevolente, irá se impor com uma força descomunal em sua direção, com todas as formas de guerrear possíveis e imagináveis

Quando as máscaras do ser ético e virtuoso caem, os implodidos explodem, os manipuladores iram elegantemente usar o seu intelecto até o fim que lhes custarem, como uma forma de persuasão e tirania velada. Os ditos doutores ou representantes institucionais são bons nisso!

No fim, são muitas formas possíveis e imagináveis para nós, “seres humanos”

Então nesse momento, todo cuidado não é pouco, quando nos colocamos nessa tarefa de mostrar que ações angelicais possam estar sendo muito mais diabólicas do que se pensa

Filósofos, como Emanuel Kant, já tinha nos informado sobre isso, quando nos diz da dificuldade que é para nós deixarmos a nossa condição de minoridade

Poderíamos até dizer que sair dessa minoridade é como um novo parto, uma nova crise de crescimento

O sujeito ao sair da sua condição de menoridade, seria o mesmo que sair daquela condição medíocre e alienada onde somos manobra de manipulação, e por isso, tornamo-nos parte de uma massa acrítica das nossas condições e direitos

É bom lembrar, que a maioria de nós, não recebeu nenhuma forma de educação libertadora, nem de um ponto de vista enquanto sujeitos sociais e políticos nem enquanto sujeitos espirituais

Isso nos faz entender que a alienação contém várias dimensões e ela é estruturada para que assim persista

Refletindo nesse sentido, vamos compreendendo que por detrás de retirarmos as máscaras de um “anjo” repletas de ações perversas, tal movimento além de doloroso, é na realidade como se fosse um parto

Sim, é um parto, porque estamos indo contra uma condição estrutural e como tal, tem bases firmes

Acredito pessoalmente, que na tarefa de apresentarmos aos perversos a sua perversidade, em primeiro plano, seria necessário que reconhecêssemos a nossa própria perversidade para não incorremos apenas em uma atitude demagógica

Seria o mesmo que um capetinha com sua máscara de anjinho ir atender outro capetinha com sua máscara de anjinho e na oportunidade do encontro, esses não se encontram e a única coisa que puderam ver, foram suas faces de anjinho

Dentro da psicanálise Freudiana, é dito sobre a importância de muitas vezes, o analisado ou o paciente, não adentrar-se em determinadas coisas, que podemos dizer aqui se tratar de certos “terrenos lodosos”, “sombras”, ou mesmo o desvelar dessas perversidades enrustidas (aspectos do inconsciente em si), pois se o acesso desse no momento errado, buuuummmm, poderia ser danoso para o analisado

Por concordar com isso, é que digo, ser necessário o cuidado na hora de desvelar a perversidade do outro, o saber fazer e o feeling do quando fazer é uma tarefa e das mais artísticas

Por outro lado, não é necessário que você seja um ser iluminado para que possa ajudar o outro, o simples fato de você começar a lidar de forma honesta com a sua própria perversidade (sombras), isso lhe dá mais condição de ir ao encontro da perversidade do outro

Como um praticante das tradições orientais, entendo por prática e compreendo por narrativa epistemológica-científica a luz das Yogas e dos Budismos, que em nossa condição natural fundamental, somos espíritos, consciências ou o nome que adeque melhor ao seu sistema de construções internas, ou seja, in natura, somos seres maravilhosos, compassivos, sábios, genuinamente alegres e contentes

Porém, quanto adentramos a um condição de sujeitos que portam corpos físicos-biológicos e todos os atravessamentos, sociais e políticos que nos perpassam através desse, por estarmos tão envolvidos com todas as nossas tramas de sobrevivência advindas da forma como nós nos  organizamos por aqui, esquecemos dessas nossas condições naturais, esquecemos que somos generosos e compassivos, afinal, fomos educados estruturalmente para sermos competitivos, para entender o outro como uma ameaça e para sermos diferenciados e especiais

Nessa forma de narrativa educacional, não sobra, quase espaço para emergir essas condições intrínsecas como a compaixão, a generosidade, a não ganância e todas as virtudes que conhecemos e que tanto falamos aos quatro cantos portar, mas que na verdade, mais aspiramos telas do que as portamos em prática, devido a forma como nos estruturamos e nos organizamos por aqui

Quando é dito em ensinamentos Budistas que todos nós somos Budas nublados, permita-me olhar para essa afirmação de um ponto de vista socio-histórico

Entendo no que diz respeito às nuvens, toda essa rede de organizações estruturadas no nosso modo de viver e nos organizar enquanto sociedade. Poderíamos dizer que dentro dessas nuvens que nublam a nossa Budicidade, contemplaríamos: a meritocracia neoliberal, o consumismo desenfreado, a estrutural ganância capitalista, a depredação do meio ambiente, o mercado da doença e da pobreza, as instituições religiosas sectárias que de fato não ensinam a prática de uma espiritualidade libertária e um modos operandi de educação bancária e alienante. Por aí vai e a coisa não para por ladeira abaixo!

Sabendo de tudo isso, e compreendendo todo esse enredo

Quando estiver diante da constatação de algum sinal da perversidade no outro

Não tema de desmascará-lo, mas vá com cuidado, pois da mesma forma que foi árduo estruturar a sua ignorância e alienação, será árduo tanto quanto, desestruturar ambas e aí sim, criar um terreno fértil para nascer a ética e as virtudes que tanto dizemos possuir.

                                                                                                            @professormichelalves

Não há nada a se buscar, apenas ser

 


Não há nada a se buscar, apenas ser 

“Quando a mente está frouxa, ela vagueia

Quando a mente está tensa, ela não se entrega e não encontra paz

Porém, a paz e o nosso estado fundamental de mente

só o encontraremos quando verdadeiramente relaxamos e nos entregamos a esse lugar natural e sem esforço

Nele, não há nada a se buscar, apenas ser”.

                        @professormichelalves

A mente enquanto um fenômeno é apenas uma consequência de correlatos neurais biológicos?


A mente enquanto um fenômeno é apenas uma consequência de correlatos neurais biológicos?

Acreditar na maneira reducionista e intelectualmente desonesta que o que chamamos de mente, pensamentos ou espírito, se reduz apenas à organizações neurais que são estimuladas em nosso cérebro quando pensamos por exemplo, é claramente uma afirmação pseudocientífica por parte das ciências naturais em nosso tempo, quando alguns neurocientistas em alguns casos, ousam afirmar que já se entendem as origens biológico-causais dos fenômenos mentais. Definitivamente, não podemos ainda inferir tal juízo! A constatação desses movimentos neurais na matéria densa do cérebro averiguando repercussões nos quadros de humor e nos comportamentos dos sujeitos é um fato científico sim! mas é de longe uma prova factual e conclusiva, aonde podemos afirmar que correlatos neurais são a gênese estruturadora e a própria mecânica conclusiva daquilo que vivenciamos através dos fenômenos psíquico-mentais, como os pensamentos, a imaginação e às amplas faculdades que gravitam em nosso espectro de mente.

Como diria o neurocientista Christof Koch que realiza pesquisas entre correlatos neurais da consciência: “As características dos estados cerebrais e dos estados fenomenais parecem muito diferentes para serem completamente redutíveis uma à outra. Desconfio que a conexão é mais complexa do que tradicionalmente se imagina. Por ora, é melhor manter a mente aberta com relação a este assunto e se concentrar em identificar os correlatos da consciência no cérebro”

                                                                                                @professormichelalves

                                                                                                                                                 

A INVESTIGAÇÃO BIOLÓGICA DA MENTE E A INVESTIGAÇÃO INTROSPECTIVA DA MENTE A PARTIR DE NÓS MESMOS

 


A INVESTIGAÇÃO BIOLÓGICA DA MENTE E A INVESTIGAÇÃO INTROSPECTIVA DA MENTE A PARTIR DE NÓS MESMOS

Quando pensamos no amplo espectro do que significa “a mente” entendendo-a como algo não limitado a uma visão biológica ou material da vida e por não ser através da investigação laboratorial física que compreenderemos a sua natureza, mas sim de uma maneira de investigação aonde o laboratório torna-se a própria prática contemplativa do sujeito, a partir de sua própria humanidade, compreendemos que nós mesmos tornamo-nos o instrumento dessa jornada de investigação. Sempre gosto de contemplar sobre os possíveis terrenos inexplorados pela nossa ciência que ainda não estão sendo investigados com a devida atenção e nesse aspecto a meditação e a própria natureza da mente nos dias de hoje vem sendo muito bem investigada do ponto de vista das ciências naturais e epistemologias materialistas como no caso das neurociências que olham para o tema a partir das relações da mente e da introspecção meditativa ligando às suas fenomenologias como pensamentos, emoções, sentimentos a correlatos neurais biológicos, porém, a investigação da mente nas neurociências dá por encerrada suas pesquisas aos limites da  biologia pelo simples fato das epistemologias das ciências naturais não terem abertura a estudar qualquer entidade de ordem do não físico, como no caso da mente.

As pesquisas e achados que veem sendo desenvolvidos pelas neurociências são de inquestionável relevância, mas ainda falta também as ciências naturais e humanas, debruçarem-se sobre esses temas do ponto de vista de epistemologias não materialistas e investigarem a natureza da mente a partir de métodos introspectivos de meditação, como diz Alan Wallace: “Contemplativos no Oriente e no Ocidente, porém, exploraram a natureza da mente, da consciência e a identidade humana, e creio que iluminaram dimensões da realidade que continuam em grande parte inexploradas no mundo moderno”; em dois outros artigo que escrevi intitulado: “Aonde a linguagem e o conceito não alcançam, poderemos ser conduzidos apenas pelo silêncio” e “A Introspecção Yogue como novas perspectivas para a ciência” nesses artigos, discuto justamente esses pontos de dimensões da realidade que continuam não sendo exploradas pelo mundo moderno através das ciências e até mesmo da grande maioria das práticas culturais-religiosas, mas que foram sistematicamente exploradas por contempladores (meditadores) ocidentais e orientais.

O ponto é que, quando colocamos em pauta, que determinados fenômenos do amplo espectro do que se pode entender como mente e consciência, num entendimento aonde a mente não é subproduto de um cérebro, ou seja, que essa é advinda de organizações mais sutis ou não físicas, ou pelo o menos de um espectro de natureza física que não conseguimos identificar com os nossos instrumentos de captação da realidade material ou também como realmente entendo, de espectros de realidades não físicas mesmas, aonde entendemos que toda natureza física ou material dos objetos conforme vamos adentrando em sua essência ou em seu universo subatômico não existe como apontado pelo físico Max Planck ou não portadores de natureza e realidade inerentes, portanto vazias se não fossem imputadas pela nossa mente através da vacuidade como apontado pelos textos tradicionais budistas tibetanos como por exemplo no “sutra do coração – prajnaparamita”, entende-se que a forma como a investigamos a natureza da mente por vias materiais biológicas não só é limitada, como é contraditória, por exemplo: os físicos investigam os fenômenos físicos da realidade, os biólogos os fenômenos biológicos, por que os neurocientistas e psicólogos, quando vão se debruçar em investigar sobre a natureza da mente, fadam essas às leis biológicas restringindo-as a partir de perspectivas biológicas, se a mente (seu objeto de pesquisa) é de uma outra ordem de natureza? Quando olhamos por essa perspectiva, vemos que há algo muito errado, do ponto de vista de selecionarmos quem vai investigar o que, e diferentemente dos físicos e biólogos que ocupam o devido lugar de suas investigações científicas, o mesmo não acontece com os psicólogos e neurocientistas quando se colocam como protagonistas nas ciências naturais a serem os investigadores da mente. Não a outra explicação para essa bizarra naturalização no meio científico aonde psicólogos e neurocientistas com seus arranjos epistémicos e paradigmáticos dentro da ciência naturais se colocarem a pesquisar um fenômeno de ordem não biológica e não física como no caso da mente, aonde a última coisa que fazem é pesquisar qualquer coisa ou possibilidade de sondar esses espectros não físicos da natureza, ficando apenas a dar voltas ao seu entorno, através de observações biológicas. Se não fosse pelo simples fato de constatarmos o grande “tabu” que ainda existe nas ciências naturais e em suas epistemologias quando o assunto é pesquisar a mente, a sua natureza e as suas propriedades e abrirmos para o debate franco e honesto, que essa não é regida por leis físicas e biológicos e sim por leis não físicas ou espirituais, penso que essa delimitação estúpida, em limitar a investigação da mente ou do não físico a partir de leis biológicos, é como levar o seu relógio quebrado em um sapateiro, não faz sentido algum!

@professormichelalves

A MENTE COMO SUBPRODUTO DO CÉREBRO FADADA AS LEIS DA BIOLOGIA E A MENTE ENQUANTO UM ENTIDADE DE ORIGEM NÃO BIOLÓGICA

 


A MENTE COMO SUBPRODUTO DO CÉREBRO FADADA AS LEIS DA BIOLOGIA E A MENTE ENQUANTO UM ENTIDADE DE ORIGEM NÃO BIOLÓGICA

Em boa parte do século XX às ciências da psique foram influenciadas pelo behaviorismo que têm como modelo explicativo e de abordagem à investigação da natureza animal e humana através de seus comportamentos. Nesse tipo de abordagem se evita completamente utilizar-se da introspecção como forma de investigação de nossa própria mente e vivências pessoais, ou melhor dizendo, nessa forma de abordagem a mente, o interior é inexistente, o que existe são os fatores externos ambientais que influenciam os comportamentos e as ações dos sujeitos. Na segunda metade do século XX para frente, com a psicologia cognitiva, essa passou a olhar com mais cuidado a experiência subjetiva ao mesmo tempo que a tecnologia computacional avançava e então passa-se a fazer correlações da mente humana com um computador. É comum, percebermos essa narrativa dentro da ciência aonde o cérebro é entendido como uma máquina biológica e o mesmo torna-se análogo com relação às fenomenologias mais “sutis” como os pensamentos, memória, imaginação ou os processos mentais como um todo que passam a ser entendidos como a expressão ou os efeitos dessa máquina biológica. 

Com os avanços das chamadas neurociências, uma corrente de cientistas dessa área, concluem que a mente é uma espécie de subproduto das funções que o cérebro produz, como se a mente fosse uma matéria prima criada pelo próprio cérebro, como diz Alan Wallace: “alegam que toda a nossa experiência pessoal consiste de funções cerebrais, influenciadas pelo resto do corpo, pelo DNA, dieta, comportamento e meio ambiente. Em última análise, os seres humanos são robôs biologicamente programados, o que implica que, no essencial, não temos mais livre-arbítrio que quaisquer outros autômatos. Nossos programas são simplesmente mais complexos que aquelas máquinas feitas pelo homem. Mas nem todos os neurocientistas concordam. Alguns estão agora explorando os efeitos dos pensamentos e do comportamento no cérebro. Como geralmente consideram a mente uma propriedade emergente do cérebro, o que estão dizendo é que certas funções do cérebro influenciam outras funções. Por ora, contudo, não há um consenso claro sobre as implicações da pesquisa conduzida até aqui”, ou seja, entende-se aqui, que tudo advindo da mente (pensamentos, imaginação, memórias, imagens mentais e todo tipo de fenomenologia que consideremos do amplo espectro da consciência), são a consequência da estimulação e interação entre correlatos neurais da consciência (CNCs), aonde se acredita e não existe melhor palavra do que essa, crença, pois ainda hoje, afirmarmos que a interação de propriedades biológicas são as causas da produção de pensamentos ou tudo aquilo que atribuímos a mente, é nada mais, do que uma conjectura e nada mais do que isso! Essa hipótese abre caminhos bastante contraditórios ao meu ver, que poderíamos aferir que através dessa crença aonde a mente é fruto das interações biológicas naturais, que se criarmos um condição biológica isolada contendo toda a complexidade orgânica de elementos físico-químicos portadores de células nervosas e propriedades biológicas semelhantes as encontradas no cérebro, essas produziriam manifestações mentais, como pensamentos e etc. Se conduzirmos uma linha de raciocínio nessa perspectiva, poderíamos abrir precedentes para entender que talvez os reinos minerais e vegetais ou animais não humanos também manifestem aspectos da ordem da mente como sonhos, pensamentos, memórias entre outros, pelo simples fato de conterem essa natureza parcialmente comum aos humanos no que se limita as “sinfonias biológicas e químicas” que também acontecem nesses outros reinos, o que contraditoriamente, abre para um campo de investigação “o da mente e consciência” que comumente por boa parte dessa comunidade de neurocientistas que defendem a mente como subproduto do cérebro, ser uma faculdade exclusiva a espécie humana, mas que se analisarmos pelo prisma da biologia como gênese da vida mental, a mente e a consciência deveriam estar fervilhando entre outras espécies de animais assim como nos reinos vegetais e minerais, não é mesmo? Já que atribuímos os fenômenos mentais subordinando-os a esses fenômenos biológicos na espécie humana, por qual motivo, quando olhamos por esse mesmo prisma epistémico direcionado as outras espécies e reinos, desconsideramos a realidade consciêncial nessas outras expressões da vida?

Por outro lado, se entendermos que a natureza da mente, não é limitada ao espectro biológico da vida, poderíamos sim, compreender que existe mente-consciência operando em todos os outros reinos da natureza, o que numa perspectiva não biológica e materialista da mente diferentemente da ideia dos processos mentais serem correlatos neurais da consciência fadados ao reflexo de operações biológico-cerebrais, é possível de ser contemplada, que as manifestação dos pensamentos, sentimentos, memórias, sonhos e etc, mesmo que encontrando suas correspondências neurais, o que é um fato de base científica natural verificável, esses se entendidos a sua gênese por uma fonte não biológica e sim não material, mental, podem sim surgir em algum nível e de alguma forma, em todos os reinos.

Porém, quando olhamos para essa questão trazendo apenas a perspectiva materialista dominante aonde a mente passa a ser entendida como algo restrito a esfera biológica, nos parece absurdo a ideia de pensar que talvez as pedras, plantas e animais sonhem ou portem uma intrincada, complexa e rica manifestação psíquica, porém, nesse tipo de narrativa e crença “científica”, criamos terreno para pensarmos esse tipo de coisa. Em algum nível pela perspectiva materialista, é sabido que os reinos vegetais e animais também tenham sentimentos e emoções, mas quando contemplamos a crença de se achar que os mesmos são reflexos do funcionamento biológico e neural, damos margem a pensar que os mesmos também possam estar tendo processos semelhantes aos humanos. Entender que talvez os reinos minerais, vegetais e animais expressem manifestações dentro do amplo espectro fenomenológico do que classificamos como de ordem da mente, não é nada absurdo do ponto de vista não material da mente, mas quando olhamos isso do ponto de vista material, nos defrontamos com o quanto é absurdo pensar que mente é subproduto do cérebro e de interações biológicas da matéria.

Por qual motivo, as neurociências estão tão fixadas com a ideia de eleger correlatos neurais da consciência, encontrando essas áreas estimuladas em regiões específicas de nosso cérebro conforme recebemos estímulos exteriores ou o criamos internamente como numa ação voluntária ao intencionarmos por exemplo um pensamento ou uma imagem em nossa tela mental e afirmarem que pelo fato de terem conseguido mapear as correlações neurais no cérebro enquanto nos utilizávamos de faculdades do pensamento, que poderíamos afirmar que as funções biológicas fossem a resposta para a criação de todo espectro de fenômenos da mente e das coisas que fazemos com essa? Por que não podemos, apenas contemplar a ideia, de que nosso cérebro é apenas um hardware que recebe inputs vibracionais de uma consciência (software) mais ampla, aonde a partir dessa consciência, tudo passa a ter um sentido e ai compreendemos que cérebro e seus mecanismos biológicos, são apenas componentes físicos para que possam traduzir esses inputs vibracionais sutis (não físicos) recebidos pelos pensamentos através da nossa consciência que por si só, não têm em sua origem, nenhum vestígio material ou biológico?

                                                                                                                            @professormichelalves

IOGUES “CIENTISTAS DA MENTE” E DA INTROSPECÇÃO E OS RELIGIOSOS DOGMÁTICOS


IOGUES “CIENTISTAS DA MENTE” E DA INTROSPECÇÃO E OS RELIGIOSOS DOGMÁTICOS

Para a maioria das pessoas e até mesmo para muitos cientistas que hoje estão investigando a meditação e o seu papel na vida dos seres humanos, deduzem que a meditação não tem um papel além de trazer benefícios físicos e psicológicos ou que se restringem à práticas meramente de cunho religioso sem que por trás dessas, guarde uma profunda e sistemática abordagem de investigação sobre a natureza da mente humana. O professor Alan Wallace em seu livro, Mente em equilíbrio diz: “acredita-se acerca da meditação que essa é uma boa técnica de relaxamento para aliviar a tensão e funciona como terapia secundária para certas enfermidades” e também diz que “certas religiões (hinduísmo, budismo e algumas outras) a utilizam como parte do culto e não há o que mais dizer! O que não se revela é o papel da meditação como instrumento de precisão para explorar cientificamente a consciência e o universo – isto é, usando métodos empíricos similares àqueles inerentes ao método científico”. É justamente nesse último ponto é que quero discutir aqui: Exceto em contextos de específicos grupos de praticantes de diferentes abordagens espirituais que compreendem a  contemplação meditativa como um instrumento de investigação da própria natureza da consciência e da realidade que nos cerca através das experiências sensoriais, para a comunidade científica de modo dominante pelas neurociências, o público leigo e até mesmo para grupos religiosos dogmáticos, o uso da introspecção ou da meditação não teria esse papel, mas sim de algo para confortar o ser humano e trazer benefícios físicos e psicológicos apenas, não se entende essa como uma própria ferramenta de investigação sistemática e metodológica sobre a mente e a consciência humana como um todo.

Há milhares de anos, contemplativos e meditadores de diferentes tradições espirituais tem investigado sobre a natureza da mente e sua realidade interior, revelando sistematicamente suas descobertas e às relações desse mundo interior com os fenômenos exteriores que nos cercam através dos aparelhos sensoriais, porém, ainda hoje, restringindo-nos apenas a descoberta de seus benefícios físicos e psicológicos por detrás destas práticas, as pessoas e a comunidade científica de um modo geral, preferem se atentar a esses benefícios secundários advindo destas práticas  do que de seu objetivo principal e mais importante como vem sendo a orientação prima dos introspectivos e Iogues do passado, ao afirmaram que através do silêncio meditativo, poderíamos investigar e compreender a nossa verdadeira natureza enquanto ser. Alan Wallace diz que: “Se alguns desses contemplativos deliberadamente mantiveram suas descobertas em segredo, a principal razão de as verdadeiras origens da meditação permanecerem ainda hoje ocultas do público se deriva do modo tosco como definimos “religião”. 

Ao meu entender, o modo tosco como o autor se refere a forma como definimos religião, é no sentido de entendermos a religião como uma mera crendice alicerçada na fé e na devoção cega à autoridades humanas aonde ao mesmo tempo que negligenciamos e confundimos os verdadeiros praticantes espirituais que exploram de maneira honesta os fenômenos espirituais, experimentando-os e confirmando-os diretamente através de suas práticas como muitos contemplativos ocidentais e orientais o fizeram ao longo da história, julgamos essa natureza de verdadeiros praticantes com pessoas ingênuas e sem criticidade que acreditam em dogmas cristalizados, autoridades, grupos e seitas religiosas sem questioná-las e sem experimentarem em seu laboratório íntimo de práticas interiores, questionando criticamente o que está sendo difundido por esses grupos e pessoas desqualificadas por não terem realizado essa jornada investigativa dentro de si mesmos. 

Confundir esses dois tipos de praticantes e não perceber a diferença entre eles, é de uma enorme ingenuidade por parte das pessoas leigas e principalmente da comunidade científica, quando confortavelmente querem por postura a priori, reducionista e de tamanha desonestidade intelectual, colocar todos em um mesmo lugar. A contemplação meditativa quando investigada e principalmente praticada com empenho, torna-se um veículo e instrumento para à investigação da consciência humana, sem precedentes em nossa história, falaremos disso mais a frente! Precisamos entender que a prática da contemplação meditativa, composta por seus métodos, epistemologias e abordagens próprias, diferem-se radicalmente da religião puramente alicerçada em formas de fé, crenças inquestionáveis. Ao contrário do que se pensa, a métodos experimentais de investigação da mente humana através de métodos introspectivos, porém, precisamos compreender que esses métodos em sua maioria, partem de bases epistémicas distintas das quais nos utilizamos nas ciências naturais, embora, sabemos que nas últimas décadas do século XX e agora no século XXI as ciências naturais como por exemplo, as neurociências cognitivas, investigam o tema da meditação, porém, alicerçadas em suas epistemologias que lhes são próprias. Se essa compreensão não por colocada em pauta, será impossível encontrarmos um ambiente fértil e intelectualmente honesto, entendendo que ao transformarmos a meditação em um objeto de pesquisa, esse não pode ser fundamentado apenas em teorias e exames de neuro-imagem, mas também na prática de campo aonde o sujeito experimenta e vivência a meditação e seus efeitos nele mesmo, em sua própria humanidade, para ai sim, podermos contemplar e compreendermos o potencial dessa prática e não apenas limitá-la ao paradigma da mente subproduto do cérebro.

 

@professormichelalves


Consultórios Marginais


Consultórios Marginais

Entre a distância de duas cadeiras existe a possibilidade de um encontro entre duas pessoas, infelizmente nem sempre esse encontro acontece!

Da cadeira para maca, da maca para a cadeira, da sala de atendimento para a sala de meditação, possibilidades de compreensão quanto a nossa condição podem se apresentar...

Nesses pequenos espaços, algo invisível pode vir a se mostrar quanto mais afinados e abertos nos tornamos na presença um do outro...

Não seja ingênuo (a) quanto a simplicidade do que os olhos podem metrificar e julgar, afinal, é um lugar apenas de duas cadeiras, uma maca, uma mesa e uma sala...

Mas longe de reduzir os espaços a uma mera condição passiva de ocupar nossos corpos, antes disso, espaços terapêuticos, são autênticos lugares de transformação e mudança...

Uma almofada no chão sobre um tapete, é apenas uma almofada sobre um tapete, mas a motivação que se instala no encontro entre os dois faz toda a diferença para que a magia desse encontro aconteça...

Mais de dez anos se passaram e ainda contínuo a me encantar com as possibilidades de transformações que esses simples espaços podem proporcionar...

Hoje, um pouco menos ingênuo e atento cada vez mais à dimensão dos rituais simbólicos que os espaços terapêuticos integrativos podem proporcionar, me sinto agraciado por poder deslocar o meu olhar para longe da escravidão da metrificação técnica, buscando apenas permanecer presente diante do mistério do outro...

Assim, acredito que são muito dos consultórios "marginais" pelo mundo, que ainda não sacrificaram os rituais e os saberes territoriais a custas de um tecnicismo dito "científico", mas que empalidece às muitas outras possibilidades de se cuidar e investigar a realidade do outro...

 

*Agradeço a todos meus pacientes que humildemente confiam em mim e me elegem enquanto seu terapeuta integrativo e complementar... Gratidão por mais um ano...

@professormichelalves

Ahimsa: a não violência na prática da Yoga



Ahimsa: a não violência na prática da Yoga

Nos violentamos e nos violamos de muitas maneiras, seja objetiva ou simbolicamente. Quando passamos a frequentar os nossos corpos (vasos) com infinito respeito, mas não um apelo ao ego e à autoimagem, percebemos que podemos criar uma ponte para sermos amigos de nós mesmos. Essa construção de autoamizade para uns pode ser um processo longo e doloroso, porém, quando aprendemos que a autocompaixão é uma maneira verdadeira de aprendermos através dela a sermos compassivos com os outros, me invisto em construir esses laços de amizade e não violência (Ahimsa) comigo mesmo.


"Com a prática da Yoga, estou aprendendo a ser amiga de mim mesma”. 

*relato de uma aluna*

                                                                                                            @professormichelalves

                                    

Aquilo que se apresenta


 


Aquilo que se apresenta

A cada retiro (espiritual-meditativo) que me permito fazer, percebo e venho descobrindo, que os retiros assim como nossas práticas diárias de meditação, nunca são iguais e sempre apresentam aquilo que precisa ser REVELADO...

Nossos propósitos racionais para o tal novo retiro, quase sempre, para não dizer sempre, sucumbem a experiência direta que vivenciamos no retiro...

Assim como pacientes em suas terapias dizem trazer uma determinada queixa principal, com o tempo, comumente percebemos que suas queixas eram apenas aparentes e as verdadeiras se apresentam muito tempo depois... Assim é nos retiros espirituais...

As questões que verdadeiramente devem ser investigadas, só emergem conforme nos entregamos a prática... conforme nos colocamos verdadeiramente abertos a olhar para tudo aquilo que quer se apresentar...

Esta é uma das grandes "boas novas dos Iogues", que sacaram que no silêncio meditativo, esse é como um veículo que nos conduz até aquilo que precisamos contemplar, compreender e principalmente ATRAVESSAR...

Em um retiro espiritual, assim como na vida, se nos agarrarmos aos nossos conflitos, nos tornamos como águas barrentas que agarram-se nos obstáculos que surgem no rio porém, se praticarmos a capacidade de ATRAVESSAR a habilidade  de não olhar para nossos problemas com FIXAÇÃO, podemos ser como água límpida que ultrapassa tudo aquilo que se coloca como obstáculo...

Assim é a nossa mente e a nossa capacidade de ATRAVESSAR, de fluir, de se entregar, no fluxo da vida...

Assim como a sabedoria de um rio que corre no movimento que tem que ser e não apressa o seu curso da maneira a não se violentar...

A cada novo dia de prática meditativa e a cada novo retiro, mais uma nova oportunidade de nos desvelarmos... de nos entregarmos...

Sem pressa, mas sem perder o tempo com o que não nos cabe nos dispersar, seguimos o curso de nossos rios...

                                                                                                           @professormichelalves

sábado, 28 de janeiro de 2023

O inefável, o inconcebível, o lugar onde o intelecto não alcança e as ciências contemplativas


 

O inefável, o inconcebível, o lugar onde o intelecto não alcança e as ciências contemplativas

Assim como Freud e Lacan, procuraram encontrar mecanismos para sondar as profundezas do inconsciente através da linguagem, os Iogues e Budistas o fizeram de maneira diferente, através do silêncio e até de certa forma, pela via de uma “não linguagem”, não mental, da não cognição (a não cognição aqui, não se refere a um cérebro totalmente inativo de um meditador enquanto medita, pois até onde sabemos, isso não acontece, mas sim, a não procura de nenhum tipo de elaboração mental enquanto se está meditando). Estamos falando de uma ciência contemplativa, que mergulha nas profundezas do cultivo do silêncio e lida com uma certa abertura ao encontro de “coisas” que não podem ser ditas, por serem inefáveis, inconcebíveis ao intelecto ou mesmo expressas através desse, mas que podem ser acessadas e praticadas segundo os seus métodos. Esse é um dos campos de investigação dentro das ciências contemplativas Iogue-budistas.

                                                                                              @professormichelalves

                                                                                                                                    

O olhar de atravessar o aparente, o impermanente



O olhar de atravessar o aparente, o impermanente

Por mais agressivos que sejam os obstáculos que apareçam em nosso caminho, seguimos olhando para esses com o olhar de atravessar "o aparente, o impermanente". Até diante daquilo ou daqueles que nos querem o mal, nos julgando sem saber o que realmente fazemos, podemos entender que mudando a visão interna, trasmutamos a raiva e a indignação em visão lúcida e adubo para continuarmos caminhando. Toda caminhada verdadeiramente lúcida e não adubada pela ilusão e pelo comodismo do olhar comum (que só enxerga a superfície óbvia das coisas) não será uma caminhada fácil... Dores vão surgir, confusões vão surgir, mas como a água, continuaremos a fluir no curso do rio através de nossa prática... A prática é sempre o caminho...

                     @professormichelalves

Um passo atrás

 



Um passo atrás

Comumente não paramos para ouvir os movimentos internos que acontecem... Sem percebe-los, seguimos agindo automaticamente frente as demandas da vida e então respondemos as coisas sem pensar de qual lugar nascem as nossas respostas, os nossos hábitos... Yoga é uma arte de aprendermos a dar essa passo atrás e contemplar os movimentos internos e a partir desses, compreender o lugar que damos nascimento aos nossos movimentos externos, os nossos hábitos, as nossas tendências de... O nosso jeitão de ser e manifestar...

                        @professormichelalves

A meditação como uma forma de ação no mundo



A meditação como uma forma de ação no mundo

A prática da meditação pode ser entendida como um ato de grande revolução. Comecemos pelo consumo, quando estamos no simples ato de meditar, não precisamos de muita coisa, não precisamos ascender muitas luzes, não estamos consumindo coisas externas como entretenimentos, não estamos fazendo compras de coisas inúteis, daí, podemos entender que de alguma forma passamos a nos bastar com menos, com a simplicidade da nossa almofada e tapetinho de meditação e naquele momento de nossas vidas a única coisa que existe é a nossa prática. No ato de meditar, fisicamente não estaremos cometendo ações negativas, como nos envolvendo em brigas, em roubos ou qualquer ação que traga sofrimentos aos outros, estamos isentos de ações de corpo não virtuosas durante nossa prática.

Quando estamos meditando, o fato de pelo menos em teoria estarmos buscando apaziguar as flutuações de nossa mente, estaremos mais propensos a não ficar pensando de forma negativa sobre algo, sobre as pessoas e tentaremos ao máximo evitar pensamentos de tais naturezas ou pelo menos, compreende-los em seu real motivo de estarmos dando existência a eles.

Isso tudo exposto acima, pode inicialmente não estar fazendo sentido no que tange a entendermos o quão revolucionária a prática da meditação pode ser em nossas vidas e consequentemente interferir positivamente em nossas ações no mundo. É bem fácil de entender quando nos habituamos a praticar diariamente a meditação, aprendendo através dessa a não cultivar e sim apenas contemplar às nossas ações negativas de corpo, fala e mente no mundo. Por meio disso, estaremos através da meditação fazendo uma espécie de levantamento para que nossas atitudes venham a mudar e aí sim, esse ato da prática da meditação, começará a nos revolucionar por dentro e consequentemente revolucionaremos por fora no mundo através de nossas ações gradualmente modificadas, pois na meditação, florescem reflexões e insights que emergem de dentro de nós, nos dando a capacidade de pouco a pouco mudar às nossas atitudes negativas.

Imagine se mais de 50% da população mundial, tivesse como hábito o ato de silenciar-se para refletir sobre suas ações e formas de frequentar o mundo! quanta coisa poderia ser e estar diferente! Em síntese, o praticante de meditação ao longo do seu processo, ele (a) entra em um processo de mudança íntima que também podemos entender como relembrar sua natureza intrínseca e a partir da sua própria transformação, ele (a) se aberto e seu propósito for, ajudará a mudança dos outros a sua volta, essa é uma grande revolução silenciosa, pois o maior obstáculo, não é mais olhado APENAS externamente como pessoas, instituições, ideologias e etc, pois agora além desses, passamos também a compreender os obstáculos internos que ainda não superamos, ou seja, cedo ou tarde, teremos que enfrentar a nós mesmos, às nossas ilusões e tudo aquilo que vem dificultando que reconheçamos a nossa verdadeira natureza. Tomar ciência das nossas virtudes naturais, como saber amar e ser feliz incondicionalmente, são maneiras das quais vamos removendo os nossos obstáculos.

Quando penso na meditação como uma forma de impactar além de nossas ações comportamentais no dia a dia, mas também nossa forma de consumo daquilo que precisamos, vejo o quanto a meditação aos poucos vai nos ensinando a ter contentamento e passamos a compreender que não precisamos de muito para vivermos uma vida digna e feliz. A meditação nos revela o ilusório por trás das projeções e fantasias que criamos em cima das pessoas e dos bens que nos servem. Um praticante quando consciente disso, além de extremamente revolucionário se pensarmos na sua lucidez adquirida através da prática e compararmos com os moldes que nossa sociedade capitalista vem se conduzindo em direção ao prazer e falta de algo sem fim, sempre à procura de uma felicidade instantânea e que nunca trará de fato a sensação e a experiência do contentamento, pelo contrário, através da prática da meditação, vamos nos tornando verdadeiramente livres, e livres aqui significa, livre de nossos desejos, apegos, aversões, daquilo que não queremos ver e passamos a discernir entre o superficial e o profundo, o ilusório e o real, o impermanente do permanente.

Um grande impacto da prática da meditação como forma de ação no mundo, é estarmos cada vez mais conscientes de quem somos e sabermos expressar nossas ações de maneira sincera e honesta a partir de um lugar verdadeiro do qual vamos acessando através da nossa prática.

 

                        @professormichelalves


 

Que tenhamos a capacidade dos olhares incolonizáveis

  Que tenhamos a capacidade dos olhares incolonizáveis Hoje, talvez seja estranho conjecturar que poderia existir uma maneira de colonizarem...