IOGUES “CIENTISTAS DA MENTE” E DA
INTROSPECÇÃO E OS RELIGIOSOS DOGMÁTICOS
Para
a maioria das pessoas e até mesmo para muitos cientistas que hoje estão
investigando a meditação e o seu papel na vida dos seres humanos, deduzem que a
meditação não tem um papel além de trazer benefícios físicos e psicológicos ou
que se restringem à práticas meramente de cunho religioso sem que por trás
dessas, guarde uma profunda e sistemática abordagem de investigação sobre a
natureza da mente humana. O professor Alan Wallace em seu livro, Mente em
equilíbrio diz: “acredita-se acerca da
meditação que essa é uma boa técnica de relaxamento para aliviar a tensão e
funciona como terapia secundária para certas enfermidades” e também diz que
“certas religiões (hinduísmo, budismo e
algumas outras) a utilizam como parte do culto e não há o que mais dizer! O que
não se revela é o papel da meditação como instrumento de precisão para explorar
cientificamente a consciência e o universo – isto é, usando métodos empíricos
similares àqueles inerentes ao método científico”. É justamente nesse
último ponto é que quero discutir aqui: Exceto em contextos de específicos
grupos de praticantes de diferentes abordagens espirituais que compreendem
a contemplação meditativa como um
instrumento de investigação da própria natureza da consciência e da realidade
que nos cerca através das experiências sensoriais, para a comunidade científica
de modo dominante pelas neurociências, o público leigo e até mesmo para grupos
religiosos dogmáticos, o uso da introspecção ou da meditação não teria esse
papel, mas sim de algo para confortar o ser humano e trazer benefícios físicos
e psicológicos apenas, não se entende essa como uma própria ferramenta de
investigação sistemática e metodológica sobre a mente e a consciência humana
como um todo.
Há milhares de anos, contemplativos e meditadores de diferentes tradições espirituais tem investigado sobre a natureza da mente e sua realidade interior, revelando sistematicamente suas descobertas e às relações desse mundo interior com os fenômenos exteriores que nos cercam através dos aparelhos sensoriais, porém, ainda hoje, restringindo-nos apenas a descoberta de seus benefícios físicos e psicológicos por detrás destas práticas, as pessoas e a comunidade científica de um modo geral, preferem se atentar a esses benefícios secundários advindo destas práticas do que de seu objetivo principal e mais importante como vem sendo a orientação prima dos introspectivos e Iogues do passado, ao afirmaram que através do silêncio meditativo, poderíamos investigar e compreender a nossa verdadeira natureza enquanto ser. Alan Wallace diz que: “Se alguns desses contemplativos deliberadamente mantiveram suas descobertas em segredo, a principal razão de as verdadeiras origens da meditação permanecerem ainda hoje ocultas do público se deriva do modo tosco como definimos “religião”.
Ao meu entender, o modo tosco como o autor se refere a forma como definimos religião, é no sentido de entendermos a religião como uma mera crendice alicerçada na fé e na devoção cega à autoridades humanas aonde ao mesmo tempo que negligenciamos e confundimos os verdadeiros praticantes espirituais que exploram de maneira honesta os fenômenos espirituais, experimentando-os e confirmando-os diretamente através de suas práticas como muitos contemplativos ocidentais e orientais o fizeram ao longo da história, julgamos essa natureza de verdadeiros praticantes com pessoas ingênuas e sem criticidade que acreditam em dogmas cristalizados, autoridades, grupos e seitas religiosas sem questioná-las e sem experimentarem em seu laboratório íntimo de práticas interiores, questionando criticamente o que está sendo difundido por esses grupos e pessoas desqualificadas por não terem realizado essa jornada investigativa dentro de si mesmos.
Confundir esses dois tipos de praticantes e não perceber a diferença
entre eles, é de uma enorme ingenuidade por parte das pessoas leigas e
principalmente da comunidade científica, quando confortavelmente querem por
postura a priori, reducionista e de tamanha desonestidade intelectual, colocar
todos em um mesmo lugar. A contemplação meditativa quando investigada e
principalmente praticada com empenho, torna-se um veículo e instrumento para à
investigação da consciência humana, sem precedentes em nossa história,
falaremos disso mais a frente! Precisamos entender que a prática da contemplação
meditativa, composta por seus métodos, epistemologias e abordagens próprias,
diferem-se radicalmente da religião puramente alicerçada em formas de fé,
crenças inquestionáveis. Ao contrário do que se pensa, a métodos experimentais
de investigação da mente humana através de métodos introspectivos, porém,
precisamos compreender que esses métodos em sua maioria, partem de bases
epistémicas distintas das quais nos utilizamos nas ciências naturais, embora,
sabemos que nas últimas décadas do século XX e agora no século XXI as ciências
naturais como por exemplo, as neurociências cognitivas, investigam o tema da
meditação, porém, alicerçadas em suas epistemologias que lhes são próprias. Se
essa compreensão não por colocada em pauta, será impossível encontrarmos um
ambiente fértil e intelectualmente honesto, entendendo que ao transformarmos a
meditação em um objeto de pesquisa, esse não pode ser fundamentado apenas em
teorias e exames de neuro-imagem, mas também na prática de campo aonde o sujeito
experimenta e vivência a meditação e seus efeitos nele mesmo, em sua própria
humanidade, para ai sim, podermos contemplar e compreendermos o potencial dessa
prática e não apenas limitá-la ao paradigma da mente subproduto do cérebro.
@professormichelalves
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