Quando a Insanidade se apresenta humana
“Ela
me olha nos olhos, como se estivesse buscando algo no fundo do meu espírito
para ajuda-la
Seu
espírito tem sede, por repousar em um lugar calmo e pacífico
Quando
meus olhos fitam os seus olhos, nossos espíritos se tocam e se reconhecem
Nesse
hora, tenho uma escolha a fazer:
Desvio
meu olhar para desencontrar os nossos espíritos fingindo não perceber que seu
espírito clama pela sede de pacificação e então finjo não perceber essa fome do
seu espirito?
Ou
escolho compartir minha humanidade com esse olho que me olha e resolvo comungar
da dor que lhe aflige?
Essa
dor já é longa, segundo ela, há mais de 20 anos luta para se desvencilhar mas
não consegue
Já
tentei me matar de muitas formas... cortando a minha carne, queimando a minha pele
E
nem mesmo assim, a dor que sinto internamente é remediada
Continuo
a olhá-la deixando que nossos espíritos se entrelacem pelas janelas dos nossos
olhos que fitam um ao outro
Ela
me olha com um olhar como se fosse de quem sentisse muita sede pela água da paz
e eu a olho, pensando como posso me tornar esse posso que jorraria essa água da
qual ela a tanto tempo procura se banhar
Por
muito estranho que pareça, existe um lugar agradável dentro desse encontro
pintado por um cenário de dor
Me
sinto bem na verdade, por essa dor ser escancarada, óbvia, sem máscaras
É
um lugar de autêntica humanidade. Não há fingimentos algum aqui
O
sentir-me bem aqui, não entenda em um sentido perverso de estar indiferente a
dor alheia
Mas
no sentir bem, como um lugar de refúgio do qual me conforta
O
conforto é uma instância na qual sei que estou diante da verdade de um outro,
que clama por uma real solução e necessidades para se manter existindo e
vivendo com algum sentido
Mesmo
sua dor sendo insuportável, ela escancara o demasiadamente estado humano pela
busca de sentido para viver e para existir
Não
há máscaras no pedido de ajuda daqueles que lutam para encontrar algum sentido
para ainda estarem vivos
Não
há mentiras nesse estado... e é nessa verdade, mesmo que dolorosa, onde
paradoxalmente em meio a tanta dor, é que nasce, se encontra ou talvez se mostre
um lugar honesto e digno para existir... para ser
Quando
olho nos olhos desse espírito que busca por honesta ajuda, percebo que existe
mais verdade do que quando olho nos olhos, daqueles que em seu olhar nem se
quer mostram presentes, vivos
A
insanidade em seu extremo, pode fazer com que o espírito resolva não mais
habitar o corpo do qual a pessoa vive
Mas
em contrapartida, a luta por aqueles que tiveram que passar das áreas
limítrofes entre o normal e o insano e se retornados a sua sanidade intrínsecas
Talvez
retornem com seus espíritos mais fortalecidos e demasiadamente humanizados por
isso
Não
sei se isso é verdade, mas tendo a acreditar nisso!
O
que me entristece de verdade, não é o encontro através do olhar com o espírito
daquele que sofre e busca por paz verdadeira, por mais doloroso e trágico que
esse encontro possa parecer
O
que me entristece, é perceber pessoas sãs em meio as insanidades ao seu redor
Fingindo
ou não percebendo nada de errado, como se nada estivesse acontecendo, com a
condição que a sua própria normalidade não seja abalada
É
esse encontro com a frieza, com a indiferença, com a normalidade é que quando o
meu espirito toca um olhar que olha dessa forma, é que vejo que tudo está
acabado”
@professormichelalves
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