segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Quando a Insanidade se apresenta humana


Quando a Insanidade se apresenta humana


“Ela me olha nos olhos, como se estivesse buscando algo no fundo do meu espírito para ajuda-la

Seu espírito tem sede, por repousar em um lugar calmo e pacífico

Quando meus olhos fitam os seus olhos, nossos espíritos se tocam e se reconhecem

Nesse hora, tenho uma escolha a fazer:

Desvio meu olhar para desencontrar os nossos espíritos fingindo não perceber que seu espírito clama pela sede de pacificação e então finjo não perceber essa fome do seu espirito?

Ou escolho compartir minha humanidade com esse olho que me olha e resolvo comungar da dor que lhe aflige?

Essa dor já é longa, segundo ela, há mais de 20 anos luta para se desvencilhar mas não consegue

Já tentei me matar de muitas formas... cortando a minha carne, queimando a minha pele

E nem mesmo assim, a dor que sinto internamente é remediada

Continuo a olhá-la deixando que nossos espíritos se entrelacem pelas janelas dos nossos olhos que fitam um ao outro

Ela me olha com um olhar como se fosse de quem sentisse muita sede pela água da paz e eu a olho, pensando como posso me tornar esse posso que jorraria essa água da qual ela a tanto tempo procura se banhar

Por muito estranho que pareça, existe um lugar agradável dentro desse encontro pintado por um cenário de dor  

Me sinto bem na verdade, por essa dor ser escancarada, óbvia, sem máscaras

É um lugar de autêntica humanidade. Não há fingimentos algum aqui

O sentir-me bem aqui, não entenda em um sentido perverso de estar indiferente a dor alheia

Mas no sentir bem, como um lugar de refúgio do qual me conforta

O conforto é uma instância na qual sei que estou diante da verdade de um outro, que clama por uma real solução e necessidades para se manter existindo e vivendo com algum sentido

Mesmo sua dor sendo insuportável, ela escancara o demasiadamente estado humano pela busca de sentido para viver e para existir

Não há máscaras no pedido de ajuda daqueles que lutam para encontrar algum sentido para ainda estarem vivos

Não há mentiras nesse estado... e é nessa verdade, mesmo que dolorosa, onde paradoxalmente em meio a tanta dor, é que nasce, se encontra ou talvez se mostre um lugar honesto e digno para existir... para ser

Quando olho nos olhos desse espírito que busca por honesta ajuda, percebo que existe mais verdade do que quando olho nos olhos, daqueles que em seu olhar nem se quer mostram presentes, vivos

A insanidade em seu extremo, pode fazer com que o espírito resolva não mais habitar o corpo do qual a pessoa vive

Mas em contrapartida, a luta por aqueles que tiveram que passar das áreas limítrofes entre o normal e o insano e se retornados a sua sanidade intrínsecas

Talvez retornem com seus espíritos mais fortalecidos e demasiadamente humanizados por isso

Não sei se isso é verdade, mas tendo a acreditar nisso!

O que me entristece de verdade, não é o encontro através do olhar com o espírito daquele que sofre e busca por paz verdadeira, por mais doloroso e trágico que esse encontro possa parecer

O que me entristece, é perceber pessoas sãs em meio as insanidades ao seu redor

Fingindo ou não percebendo nada de errado, como se nada estivesse acontecendo, com a condição que a sua própria normalidade não seja abalada

É esse encontro com a frieza, com a indiferença, com a normalidade é que quando o meu espirito toca um olhar que olha dessa forma, é que vejo que tudo está acabado”

 

                     @professormichelalves

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