quarta-feira, 26 de julho de 2023

O PRÓPRIO HUMANO INVESTIGANDO A SI MESMO COMO BASE EPISTÉMICA PARA A COMPREENSÃO DA MENTE


É justamente aqui que a prática contemplativa, aonde o humano com sua própria “tecnologia” de portar um corpo e uma mente que através do seu auto laboratório contemplativo, explora dimensões que as máquinas não alcançam, mas que o silêncio e toda uma estruturação, abordagem e epistemologia de introspecção meditativa desenvolvidas por esses contemplativos orientais e ocidentais alcançam. Através de metodologias introspectivas podemos acessar dimensões ocultas da mente que ainda não foram exploradas pela ciência moderna, como são totalmente desconhecidas por essa devido as escolhas epistemológicas que tomamos não contemplarem essas possibilidades de investigação.

O que está em questionamento aqui, não é a tentativa de desencorajar os neurocientistas em suas empreitadas pelas correlações neurais entre o cérebro e as nossas faculdades da mente como um todo. Obviamente, esse também é um campo de pesquisa e muito frutífero por sinal, mas além dele, precisamos abrir uma janela de possibilidades que existe para investigarmos as próprias potencialidades do humano, a partir da introspecção contemplativa aonde o sujeito investigue no seu próprio “laboratório de ser”. Temos hoje a nossa disposição, toda uma ciência de métodos e práticas desenvolvidas a milhares de anos por Yogues Budistas que aprenderam a investigar  e exploração dimensões totalmente ocultas para a maioria de nós, aonde estas compreendem aspectos de nossa mente ou consciência como um todo que nem se quer fazemos ideia ou quando achamos que fazemos, explicamos com enormes equívocos do ponto de vista prático e teórico, como é o caso, das tentativas frustradas de muitos autores ocidentais explicarem o conceito de iluminação e o que realmente seja isso. De rotina, o que vemos em centenas destes livros espirituais ocidentais, são muitas vezes, apenas especulações e conjecturas, não fundamentadas em métodos práticos e sérios no que diz respeito a introspecção meditativa e à investigação da natureza da mente através dessas. Os conhecimentos das tradições orientais que vem sendo colocados a prova de fogo por centenas de gerações e testados meticulosamente por honestos praticantes da introspecção meditativa, são um patrimônio, não só cultural e humano, mas também intelectual e científico, quando nos colocarmos a nos debruçar por esses métodos de investigação da mente sem precedentes se comparados as epistemologias das ciências naturais materialistas hegemônicas no ocidente. Alan Wallace com respeito a isso diz: “talvez alguém tenha reparado que, em todas essas abordagens, algo crucial foi deixado de lado: nossa experiência pessoal do que é ser uma criatura humana”; a ideia que entendo aqui é no sentido de pensarmos o que significa sermos uma criatura humana que pensa, que é portadora de uma mente, aonde não percamos de vista que a nossa humanidade ou o estar humano, no sentido daquele que sente desejos, apegos, frustrações, aquele no qual a vida pulsa dentro de si, nesse contínuo laboratório chamado de vida que nunca para, enquanto estamos vivos biologicamente ou não se pensarmos que também somos seres espirituais (não físicos), no sentido do que é esse humano que está ali o tempo inteiro sendo bombardeado pela vida por estímulos sensoriais incessantes e que é o espectador e protagonista dessa mente operando, nesse sentido, qual instrumento seria o mais adequado ou o que teria mais autoridade a investigar a mente humana que se não o próprio humano que a porta? O estar humano nessa forma de enxergar, se torna de fato o grande protagonista dessa mente, por conviver junto com a própria o tempo inteiro. É importante que não percamos essa dimensão quando temos como objeto de estudo a própria mente se entendermos que nós humanos como aquele que convive com essa dimensão da mente de maneira incessante, somos o melhor instrumento para investigar a própria. 

Como venho discutindo em outros artigos e dentro desse livro, a pauta das pesquisas acerca da meditação nas investigações científicas, está demasiadamente olhando para o paradigma da mente como um subproduto do cérebro procurando desvendar os impactos da prática meditativa em nosso cérebro e organismo como um todo, mas não estão sendo colocados em evidência (apenas em casos excepcionais) as orientações deixadas pelos yogues que se referiram a essa prática como um “modus operandi” de investigação da própria natureza da mente. Toda a riqueza de métodos e práticas compiladas por contemplativos ocidentais e orientais sinalizando terrenos ainda não explorados por nossa ciência atual, estão sendo negligenciados por visões epistémicas presas ao materialismo biológico (neodarwinismo), aonde os “cientistas da mente” (psicólogos e neurocientistas) se limitam a biologia vendo-a como a única prova possível, assim como os biólogos não refutam a física como a única ciência que daria o aval do que é material, porém, essa subordinação dos neurocientistas e psicólogos a biologia, e essa última a física, são passíveis de refutação, quando pensamos que a própria física em si, a partir da mecânica quântica nas primeiras décadas do século XX, já refutara a sua própria noção do que é a matéria, compreendendo-a, não mais como essa entidade rígida e que ocupa um lugar definido no espaço podendo desloca-lo nesse. Mas pelo contrário, compreendendo os meandros daquilo que chamamos de matéria e ao investiga-lo em seu nível atômico ou causal e então, darmos conta que aquilo que chamamos de matéria enquanto uma entidade rígida e delimitada por um espaço impertubável não existe, passamos a entender a partir dessa nova física, que essa noção de matéria que ainda está sendo veiculada pela biologia e como subserviência da psicologia e neurociência a última, ambas áreas do saber estão lidando com premissas epistémicas além de refutáveis, estão tendo como modelos paradigmas já rompidos e refutados pela física moderna. Essa subordinação dos neurocientistas a biologia e da biologia a uma física materialista do século XIX, atrasam o nosso progresso em investigarmos a natureza da mente, nesse sentido, entendo que os psicólogos e neurocientistas deveriam estar mais preocupados em estudar a mecânica quântica do que a biologia e uma física ortodoxa quando o assunto seja investigar a natureza da mente ou o microuniverso das estruturas atômicas. Já com relação as macroestruturas, não cabe aqui, as críticas supracitadas, pois os avanços da física do século XIX para trás são inquestionáveis ao meu ver, porém, uma abordagem epistémica com os dados que temos pela mecânica quântica no que diz respeito a natureza da matéria não mais dura, mas sutil da matéria, mas mesmo assim, opta por partir em direção a uma narrativa epistémica através de provas materiais, porém, compreendendo o que se chama de material uma entidade com propriedades rígidas, no caso, delimitando que as repercussões de toda fenomenologia mental ser nada mais que as correlações neurais identificadas em nosso cérebro e a partir desses dados, definir que a nossa mente e psiquismo como um todo, não passam de manifestações de um organismo biológico, material, físico, além de encarar a matéria biológica com tamanha propriedade fenomênica, ao mesmo tempo, reduzem o que chamamos de matéria em algo muito delimitado, os materialistas entram em uma verdadeira contradição, para na realidade higienizarem qualquer tipo de teoria que tente explicar a natureza da mente por um viés epistémico não físico ou uma entidade sutil, espiritual que seja inteligente. Mesmo a noção de matéria constatada pela mecânica quântica (e que deveria ser hoje nossa base epistémica para compreendermos a natureza da matéria) tangenciar a essas definições de algo da ordem do não quantificável e sim de uma outra ordem, onde não sabemos ao certo aonde aquilo que chamamos de matéria esteja localizado, mas sim, que gravita em possibilidades de localização e de uma maneira “misteriosa” essa matéria da seus sinais de existência, através de suas manifestações fenomênicas, como quando uma pessoa que morre aparece, pois isso não é esperado por nossa noção materialista não é mesmo! mesmo assim e diante disso, os materialistas reduzem a mente a uma fenomenologia biológica e ao mesmo tempo enaltecem o fenômeno biológico como o nexo casual de tudo aquilo que entendemos por mente, só para matar tudo aquilo que seja da ordem do não físico ou do não material, transformam o mundo material biológico em uma entidade supra material com superpoderes que convenhamos ser muito difícil de compreender! um correlato neural criador de imaginações, como isso pode acontecer? Nessa forma e narrativa em se fazer ciência, não está cabendo ou se dando lugar ou sendo considerado com o devido cuidado os fenômenos não detectáveis pelas máquinas mas que o humano identifica, senti-os e classifica-os a partir de suas experiências práticas através da contemplação meditativa. A esse respeito Alan Wallace diz o seguinte: “a religião se tornou tão dependente da doutrina, e a ciência tão materialista, que métodos contemplativos de investigação costumam ser esquecidos. No mundo moderno, a meditação, quando praticada, é muitas vezes usadas apenas para aliviar o stress e superar outros problemas físicos e psicológicos. Mas a meditação pode também oferecer algumas das percepções mais profundas que somos capazes de alcançar sobre a natureza e a identidade humanas”. 

 

Texto: @professormichelalves 

 

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