Alan Wallace em seu livro, Mente em Equilíbrio diz: “Com a
rejeição do uso científico da introspecção, a psicologia acadêmica no mundo de
língua inglesa deslocou-se para o behaviorismo, que fez tudo que podia para
eliminar referências a estados e processos subjetivamente experimentados. John
B. Watson (1878 – 1958), um dos pioneiros do behaviorismo americano, declarou
que a psicologia não devia ser mais a ciência da vida mental, como William
James a tinha definido. Como “um ramo experimental puramente objetivo da
ciência natural”, dizia ele, a psicologia “jamais deveria usar os termos
consciência, estados mentais, mente, essência, introspectivamente verificável,
imaginário e assim por diante”. Este tabu contra e experiência subjetiva foi
motivado, em parte, pela associação da mente (ou alma) com religião e, em parte,
pela natureza aparentemente não física dos eventos mentais. A desconfiança dos
cientistas diante de qualquer coisa religiosa é bastante compreensível, pois
para eles a religião exige uma crença inquestionável na autoridade. A ciência,
pelo contrário, coloca sua prioridade básica no conhecimento experimental. Eis
o atrito. Pois a evidência experimental, para ser encarada como evidência
empírica, tinha de ser verificável, acessível a inúmeros observadores
competentes. Mas os processos mentais só podem ser observados internamente. Não
podem ser detectados por nenhum observador externo ou por nenhum dos
instrumentos da ciência, que são concebidos para medir todos os tipos
conhecidos de realidades físicas. Consequentemente, os psicólogos se
encontraram num dilema: deviam perseverar no espírito do empirismo, que
estivera na raiz do progresso científico nos últimos trezentos anos? Ou deviam
se colar à observação de objetos físicos, externos, o domínio da realidade onde
a ciência desfrutara tanto progresso desde a época de Galileu? Optaram pelo
segundo foco, mas estreito. Os behavioristas preferiram estudar o comportamento
humano e não quaisquer misteriosas entidades interiores, espirituais, mentais,
que não pareciam ter propriedades físicas próprias. O behaviorismo, pelo menos
como foi desenvolvido na psicologia da pesquisa acadêmica, preocupava-se
basicamente em encontrar meios eficientes de compreender a mente humana por
meio do comportamento, em vez de inferir conclusões sobre a natureza real dos
processos mentais. Era como tentar compreender a anatomia e a fisiologia
humanas sem jamais executar autópsias – que eram proibidas na medicina
medieval. A maioria dos behavioristas tinha bastante consciência dos estados
mentais, mas achava que a psicologia se desenvolveria mais depressa e com menos
digressões se deixasse a introspecção de lado por algum tempo. Contudo,
behavioristas mais radicais, começando com Watson, deram um passo adicional ao
declarar que os processos mentais, em geral, e a consciência, em particular,
não existiam absolutamente – simplesmente porque não tinham propriedades
físicas! Era um caso nítido de rejeição, em que um compromisso ideológico com o
materialismo invalidava a evidência experimental que não tivesse de acordo com
uma crença. Pior ainda, os behavioristas identificavam o comportamento com os
próprios processos psicológicos. Os robôs exibem um comportamento, mas não
estão conscientes e não têm experiências subjetivas. Os homens também exibem um
comportamento; por mais escrupulosa, no entanto, que seja sua avaliação, o
comportamento físico por si mesmo não fornece evidência sequer da existência
das realidades mentais que todos nós vivenciamos. A afirmação de que a
experiência subjetiva pode ser reduzida a um comportamento objetivo não passa
de desonestidade intelectual ou de profunda confusão”.
Quando
vemos essa forma de reducionismo por parte dos Behavioristas, aonde restringem
as experiências internas e subjetivas humanas a comportamentos condicionados
consequentes aos estímulos ambientais, é o mesmo que entendermos que somos
máquinas que recebem e operam através de estímulos ou inputs-ambientais, dos
quais nosso software (nossos estímulos sensoriais ao ambiente) é o que programa
os nossos comportamentos e o nosso hardware (a nossa maquinaria biológica)
preparada materialmente para receber a realidade ambiental, sendo essas
instâncias a única forma de contato com os fenômenos da realidade que nos cerca
e da qual estamos limitados a viver através dos estímulos ambientais que
recebemos.
A
mente, a psique e a vida sendo enxergada por esse prisma, é a completa negação
de toda forma de subjetividade ou vida interna que se processa dentro dos seres
humanos. Não há nada de errado do ponto de vista científico-metodológico,
investigarmos os fenômenos da realidade a partir de uma determinada base
epistémica para então, a partir dessa, encontrarmos relações causais através do
mapeamento de estímulos ambientais provocadores de respostas sensoriais ou
comportamentais, assim como também, não há nada de errado na investigação
científica praticada pelas neurociências, quando essas buscam compreender qual
o caminho neural é ativado quando somos estimulados por fatores internos como:
emoções, estados de humor, pensamentos e etc; porém, quando compreendemos que o
própria explicação de um comportamento entendendo a sua mecânica, assim como
compreender os estímulos cerebrais que dão nascimento a determinados
sentimentos e emoções e a partir disso, afirmar-se que tudo que está ligada ao
espectro do comportamento, nasce e morre do próprio comportamento, não
existindo uma vida interna que pulsa e que é anterior aos estímulos geradores
de ações comportamentais, assim, como entender que determinados circuitos
neurais desencadeadores de emoções e estados de humor específicos é a
explicação causal da origem do ente pensante, vivente, inteligente; é o mesmo
que acreditarmos que todo os fenômenos que tangem ao que chamamos de
mente-consciência, como os pensamentos, o próprio uso da imaginação, só existe
enquanto fenômenos reais em decorrência destes nexos-causais restritos aos
comportamentos ou aos movimentos neurais.
Pensar
dessa maneira é uma forma tão limitada e higienizadora de enxergar a vida, que
todo esse terreno básico e natural que é estarmos vivos dentro dessa experiência
fantástica que é poder pensar e imaginar livremente com a nossa
mente-consciência, a partir dessas denominações da mente como algo estritamente
fechada ao campo biológico-comportamental, nós reduzimos essa experiência
natural e espontânea a qual permeia todos nós enquanto seres sencientes, em
meros constructos explicativos aonde as movimentações de elementos
químico-biológicos que circundam pelo nosso cérebro e os nossos comportamentos
no caso para os behavioristas, tornam-se a explicação objetiva do que é a vida
e principalmente a vida inteligente-pensante. Estamos aqui, ao meu entender,
cometendo um atentado contra a própria vida e não só a vida humana, mas a vida
de todos os seres. Nessa perspectiva materialista da vida, estamos acreditando
que o sentir e o emocionar-se humano, são apenas um emaranhado movimento de
correlações neurais químico-biológicas de determinadas partes funcionais do
nosso cérebro, assim como é reduzida toda a subjetividade humana e o que
significa ser e estar humano em suas questões internas, existenciais, anseios,
sonhos e ideias, há apenas explicações comportamentais.
A
perspectiva materialista adotada da vida pelos behavioristas e pelos
neurocientistas ortodoxos, parte da ideia de causação ascendente, aonde a vida
mental (além de não existir para no caso dos Behavioristas), para os que
aceitam a sua existência, essa é um subproduto da vida material, ou seja, são
os elementos físico-químicos é que geram a vida mental como a conhecemos. Na
perspectiva da causação descendente (poder causal da consciência sobre a
matéria e não o contrário), essa defendida pelos visões epistémicas espirituais
como no caso dos Budismos e de boa parte das distintas tradições Iogues
Indianas e também por parte de uma comunidade científica heterodoxa dentro da
mecânica quântica, a mente-consciência é que impera sobre as realidade
materiais (físico-biológico-química), nesse sentido, entende-se que por detrás
das aparências materiais que observamos, existe um inteligência pensante
preexistente a ela.
@professormichelalves
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