Quando
o holístico (integrativo) de fato está presente no setting terapêutico?
Quando falamos em
terapias e abordagens holísticas, integrativas, alternativas, sistémicas, o que
de fato está em “jogo” quando nos utilizamos desses nomes para explicar uma
variedade de abordagens e técnicas terapêuticas que podem ser antigas,
modernas, tradicionais, científicas ou empíricas?
O crescimento das
abordagens holísticas (integrativas) práticas estas que podem ter em sua base
uma abordagem materialista (objetiva) ou uma abordagem simbólica da vida
(subjetiva), assim como o resgate de práticas tradicionais antigas como a
Medicina Tradicional Chinesa, a Medicina Ayurvédica, a Medicina Siddha entre
outras, não podendo ser limitadas aos métodos e causalidades dos fatos
científicos, por comtemplarem a dimensão simbólica por trás dos fenômenos objetivos
da vida, vem ganhando espaço no mundo ocidental contemporâneo de visão
preponderantemente científica e por terem em sua base uma racionalidade com
princípios terapêuticos, clínicos, diagnósticos, médicos, filosóficos distintos
do ponto de vista científico, vem causando grandes conflitos, desconfortos e
debates quanto à eficácia ou não destas práticas. Acho importante contemplarmos
às seguintes questões: “Por que diante da medicina e psicologia modernas, tão
rigorosamente edificadas em experimentações científico-laboratoriais,
experimentais-estatísticos com comprovações (fatos científicos), essas veem
tendo os seus terrenos abalados pelas terapias tradicionais antigas e novas
abordagens terapêuticas? O fato desse crescimento por essas novas e velhas racionalidades
terapêuticas são devido a um “negacionismo científico” por uma corrente de
adeptos da “não ciência” ou de fato, há algo que esteja acontecendo e gerando
interesse e demanda por parte das pessoas que anseiam por respostas para os
seus conflitos e que não estão encontrando respostas nas abordagens vigentes?
Será que aquilo que nós consideramos científico está contemplando de fato as
necessidades e anseios da “natureza humana” para a solução de seus problemas,
questões e indagações não respondidos?
Pelo fato de algumas
dessas diferentes racionalidades terapêuticas lidarem a com dimensão sutil
(energética), simbólica (não objetiva) da vida sendo simploriamente entendidas
como métodos placebo ou práticas pseudo-científicas, por não terem às mesmas
metodologias e formas de investigar os fenômenos como a racionalidade e
cientificidade vigente, seja na ordem do funcionamento biológico, psíquica,
mental e levando em consideração a dimensão espiritual da vida, isso as
sentenciaria ao fato de não funcionarem, ao mero placebo, a mera crendice? Por
que? Por qual motivo se estás vem compilando a milhares de anos o resultado de
suas práticas e com resultados e curas comprovadas assim como da ciência
ocidental? Enxergo hoje que talvez a grande causa (raiz) desse debate não sejam
realmente os conflitos entre as diferentes racionalidades médicas
(terapêuticas), ocidente versus oriente, a não ser em casos quando existe
radicalismos e charlatanismos de ambas as partes, digo isso pelo fato de ser
crescente o interesse por uma parte da comunidade científica pelos
conhecimentos compilados pelas racionalidades terapêuticas integrativas
tradicionais e modernas. A questão central hoje desses conflitos disfarçados da
prerrogativa do serve ou não serve, do que é ou não é válido pelo dogmatismo do
“cientificamente comprovado” na realidade apenas oculta o lado “sombra” dos
interesses escusos devido a questões de ordem econômicas (poder), o velho
conflito histórico de guerras das instituições de poder, que para se manterem
em condições de vantagens e privilégios, fazem de tudo para derrotar aqueles
que pensam diferentes deles ou que proponham coisas que coloquem em risco os
seus privilégios e interesses, no passado já nos utilizamos da prerrogativa
divina para praticar as nossas tiranias, hoje infelizmente muitos estão a usar
a “ciência verdadeira” para perpetuarem suas tiranias. Apenas como uma
divagação hipotética, se partimos da possibilidade de existir reencarnações,
vida a pós a morte, apostaria que muitas consciências participantes de
tradições religiosas dogmáticas e sectárias, hoje optariam a estar do lado de
uma “forma de se fazer ciência” que busca praticar esse tipo de tirania de
eleger a exclusividade da verdade para si e para seus métodos exclusivos,
extirpando todas as outras possibilidades de se fazer ciência que não vão ao
encontro de seus paradigmas, formas e modelos explicativos. Quanto aos
cientistas materialistas ou espiritualistas, acadêmicos ou não, experimentais
ou empíricos, que praticam a sua forma de se fazer ciência mantendo em seus
corações a motivação, a busca sincera, genuína e honesta de investigarem os
fenômenos da vida sejam do mais denso e objetivo da matéria ao mais sutil da
não matéria, a esses enxergo que toda a humanidade só tem a se beneficiar e agradecer
aos seus esforços.
Quando falamos de uma
abordagem terapêutica holística (integrativa), que lida tanto do lado objetivo
material da vida como do lado simbólico ou não objetivo, não palpável, não
mensurável da vida, traz-se uma ideia de se olhar para o todo “o Holos” por
isso holístico. Esses tipos de abordagens terapêuticas que se intitulam como
holístico muitas vezes até mesmo por um princípio que fundamenta a sua prática
de ter como prerrogativa olhar para o todo do seu paciente e não para uma parte
dele, seccionando-o assim como se faz na maior parte das práticas da vigente
medicina moderna, psicologias e terapias pautadas em abordagens materialistas,
buscam como prerrogativa alcançar esse feito, porém, será que de fato os
terapeutas que se prontificam a serem reconhecidos como holísticos vivenciam a
realidade holística em si mesmos e são capazes de tratar pela perspectiva do
todo em seus pacientes? Ou será que os
terapeutas holísticos, estão na verdade reproduzindo a mesma prerrogativa dos
materialistas, ficando obcecados pelos sintomas e não pelas causas, ficando
presos a parte e deixando de ver o todo, por simplesmente não o contemplarem?
Abordar o lado sutil da
vida ou energético, não significa estar sendo holístico e vendo o todo, afinal
de contas, o lado sutil é apenas mais um lado não é mesmo! Nesse sentido, se a
abordagem holística significar olhar exclusivamente para o aspecto energético
(sutil) e esquecer o material, esse encontra-se fazendo o mesmo que os
materialistas, a única coisa que muda é a polaridade, uns querem olhar para o
material (a partícula o átomo) e outros querem olhar para o espiritual (a onda,
a energia, o sutil), no entanto, já entendemos que onda e partícula são
princípios interdependentes e complementares, então matéria e energia, denso e
sutil são apenas polaridades intercambiáveis não é mesmo!
Como
seria um atendimento verdadeiramente integrativo (Holístico) no setting
terapêutico?
Mesmo que em nenhuma modalidade do cuidar, seja na medicina moderna, nas psicologias, nas medicinas tradicionais antigas e mesmo nas abordagens contemporâneas de terapias, psicologias experimentais e medicinas heterodoxas, o conhecimento e as possibilidades do saber são inacabados e sempre passíveis de novos desenvolvimentos, porém, na prática, os cuidadores holísticos ou integrativos sempre tiveram a possibilidade de existir em suas práticas clínicas, independente de qual abordagem ou ferramenta estes façam uso, mas como isso seria possível?
Para responder a essa
pergunta, teríamos que entender o seguinte ponto: O que de fato é ser
holístico, integrativo, sistémico? Ser um(a) holístico é ter a capacidade de
ter uma visão do todo. Suponhamos que um paciente chegue em seu consultório com
uma queixa de estar deprimido ou já com um diagnóstico clínico de depressão e
você descobri que além dos sinais e sintomas de sua depressão, inclusive das
causas biológicas já instaladas em seu corpo pelos exames laboratoriais, você
também descubra que o nexo causal de sua depressão está ligado a fatores
existências pessoais somados a fatores econômicos, familiares, sociais e
políticos que estejam influenciando o seu quadro de depressão e a partir disso,
você consiga olhar de maneira abrangente para os nexos causais de sua depressão
e compreende que ajudando-o tanto com cuidados relativos que amenizem os seus
sintomas depressivos, como fazer com que esse paciente enxergue as causas de
sua depressão e encontre formas hábeis de driblar as dificuldades que estejam
gerando o quadro depressivo; se isso acontecer no setting terapêutico, na
abordagem do terapeuta seja ele chamado de holístico ou não ou até mesmo quando
o terapeuta não tenha os recursos ou os meios hábeis de ajudar esse paciente
mas consegue indica-lo ou conduzi-lo para outra abordagem ou algo em sua vida
que irá tratar as causas, os nexos causais de seu problema, esse terapeuta
passa a estar dentro de uma abordagem holística. Talvez partindo dessa
perspectiva, esteja o autor aqui, descontruindo a ideia do que é ser um
terapeuta holístico, mas por esse momento, é assim que compreendo o que
realmente é uma ação holística no setting terapêutico.
Porém, por uma questão de
paradigmas e de adotar ou não determinados modelos explicativos de abordagens
do cuidar em detrimento de outros, as possibilidades de se realmente praticar o
holístico se tornam reduzidas. Vou dar um outro exemplo: Se um profissional da
saúde (sejam eles médicos, psicólogos e terapeutas integrativos) têm como
entendimento interno que as esferas históricas, políticas e sociais não
influenciam o estado emocional e biológico de seu paciente e imaginemos que
estás sejam os nexos causais da queixa de seu paciente e ao se descartar estás
possibilidades como a causa das doenças e desarmonias desse, nesse caso, o
médico, psicólogo ou terapeuta nunca conseguiram ir a causa do que está
trazendo sofrimento para o seu paciente e toda forma de abordar e cuidar desse
paciente será limitada e ineficiente, sendo um tratamento superficial (apaga
incêndio) mas que nunca conseguira atingir a causa. O mesmo também poderíamos
dizer que se um profissional da saúde desconsidera a dimensão espiritual e
simbólica da vida devido as suas convicções internas e os modelos explicativos
de como esse entendi a saúde, porém, se o nexo causal da doença de seu paciente
tiver como etiologia em algo da ordem do espiritual ou sutil, esse também não
será devidamente acolhido e a ajuda de fato não acontecerá, ou seja, o
holístico não ocorrerá no setting terapêutico.
Nós enquanto profissionais da saúde, sejamos materialistas ou espiritualistas, pessoas civis, nossos modelos institucionais do saber cientifico ou religioso quando sectários e dogmáticos (lembrando que também há dogmatismo dentro da prática científica), quando trabalhamos apenas com uma das polaridades: “os problemas são só biológicos, ou são só espirituais, ou só psíquicos, ou só mentais, ou emocionais, ou sociais ou políticos...” podemos estar negligenciando uma parte do todo e inexoravelmente cairemos em um forma de sectarismo deixando de olhar para uma parte da vida. Esse talvez seja o grande problema nosso enquanto uma civilização adoecida. Se tivéssemos uma percepção das variadas dimensões da vida em uma esfera interdependente entre as instâncias biopsicossociais, políticas, históricas e espirituais para se entender a saúde e a doença e compreendermos que existem os terapeutas biológicos, os psíquicos, os sociais, os políticos, os históricos e os espirituais e trabalhássemos de uma forma integrada, compreenderíamos que essa seria uma verdadeira prática terapêutica holística. Nesse sentido, usando um termo da psicologia; “clinica ampliada”, entenderíamos que todo esforço de ajuda ao humano é um movimento terapêutico, pois é terapêutico porque visa ajudar o outro e ao todo. Extrapolando o conceito do ser e se fazer terapêutico, poderíamos até entender que um bom político, se torna um terapeuta social, pois suas boas e corretas ações, previnem problemas da esfera social que se não resolvidos alcançariam mais cedo ou mais tarde a esfera psíquica das pessoas afetadas fazendo estas chegarem aos nossos consultórios, hospitais e etc, porém, se aprofundássemos em sua causa, entenderíamos que o seu nexo causal da queixa principal dessa pessoa é devido a um problema de má administração pública dos recursos.
@professormichelaves

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