sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Quando o holístico (integrativo) de fato está presente no setting terapêutico?

 







Quando o holístico (integrativo) de fato está presente no setting terapêutico?

        Quando falamos em terapias e abordagens holísticas, integrativas, alternativas, sistémicas, o que de fato está em “jogo” quando nos utilizamos desses nomes para explicar uma variedade de abordagens e técnicas terapêuticas que podem ser antigas, modernas, tradicionais, científicas ou empíricas?

        O crescimento das abordagens holísticas (integrativas) práticas estas que podem ter em sua base uma abordagem materialista (objetiva) ou uma abordagem simbólica da vida (subjetiva), assim como o resgate de práticas tradicionais antigas como a Medicina Tradicional Chinesa, a Medicina Ayurvédica, a Medicina Siddha entre outras, não podendo ser limitadas aos métodos e causalidades dos fatos científicos, por comtemplarem a dimensão simbólica por trás dos fenômenos objetivos da vida, vem ganhando espaço no mundo ocidental contemporâneo de visão preponderantemente científica e por terem em sua base uma racionalidade com princípios terapêuticos, clínicos, diagnósticos, médicos, filosóficos distintos do ponto de vista científico, vem causando grandes conflitos, desconfortos e debates quanto à eficácia ou não destas práticas. Acho importante contemplarmos às seguintes questões: “Por que diante da medicina e psicologia modernas, tão rigorosamente edificadas em experimentações científico-laboratoriais, experimentais-estatísticos com comprovações (fatos científicos), essas veem tendo os seus terrenos abalados pelas terapias tradicionais antigas e novas abordagens terapêuticas? O fato desse crescimento por essas novas e velhas racionalidades terapêuticas são devido a um “negacionismo científico” por uma corrente de adeptos da “não ciência” ou de fato, há algo que esteja acontecendo e gerando interesse e demanda por parte das pessoas que anseiam por respostas para os seus conflitos e que não estão encontrando respostas nas abordagens vigentes? Será que aquilo que nós consideramos científico está contemplando de fato as necessidades e anseios da “natureza humana” para a solução de seus problemas, questões e indagações não respondidos?

        Pelo fato de algumas dessas diferentes racionalidades terapêuticas lidarem a com dimensão sutil (energética), simbólica (não objetiva) da vida sendo simploriamente entendidas como métodos placebo ou práticas pseudo-científicas, por não terem às mesmas metodologias e formas de investigar os fenômenos como a racionalidade e cientificidade vigente, seja na ordem do funcionamento biológico, psíquica, mental e levando em consideração a dimensão espiritual da vida, isso as sentenciaria ao fato de não funcionarem, ao mero placebo, a mera crendice? Por que? Por qual motivo se estás vem compilando a milhares de anos o resultado de suas práticas e com resultados e curas comprovadas assim como da ciência ocidental? Enxergo hoje que talvez a grande causa (raiz) desse debate não sejam realmente os conflitos entre as diferentes racionalidades médicas (terapêuticas), ocidente versus oriente, a não ser em casos quando existe radicalismos e charlatanismos de ambas as partes, digo isso pelo fato de ser crescente o interesse por uma parte da comunidade científica pelos conhecimentos compilados pelas racionalidades terapêuticas integrativas tradicionais e modernas. A questão central hoje desses conflitos disfarçados da prerrogativa do serve ou não serve, do que é ou não é válido pelo dogmatismo do “cientificamente comprovado” na realidade apenas oculta o lado “sombra” dos interesses escusos devido a questões de ordem econômicas (poder), o velho conflito histórico de guerras das instituições de poder, que para se manterem em condições de vantagens e privilégios, fazem de tudo para derrotar aqueles que pensam diferentes deles ou que proponham coisas que coloquem em risco os seus privilégios e interesses, no passado já nos utilizamos da prerrogativa divina para praticar as nossas tiranias, hoje infelizmente muitos estão a usar a “ciência verdadeira” para perpetuarem suas tiranias. Apenas como uma divagação hipotética, se partimos da possibilidade de existir reencarnações, vida a pós a morte, apostaria que muitas consciências participantes de tradições religiosas dogmáticas e sectárias, hoje optariam a estar do lado de uma “forma de se fazer ciência” que busca praticar esse tipo de tirania de eleger a exclusividade da verdade para si e para seus métodos exclusivos, extirpando todas as outras possibilidades de se fazer ciência que não vão ao encontro de seus paradigmas, formas e modelos explicativos. Quanto aos cientistas materialistas ou espiritualistas, acadêmicos ou não, experimentais ou empíricos, que praticam a sua forma de se fazer ciência mantendo em seus corações a motivação, a busca sincera, genuína e honesta de investigarem os fenômenos da vida sejam do mais denso e objetivo da matéria ao mais sutil da não matéria, a esses enxergo que toda a humanidade só tem a se beneficiar e agradecer aos seus esforços.

        Quando falamos de uma abordagem terapêutica holística (integrativa), que lida tanto do lado objetivo material da vida como do lado simbólico ou não objetivo, não palpável, não mensurável da vida, traz-se uma ideia de se olhar para o todo “o Holos” por isso holístico. Esses tipos de abordagens terapêuticas que se intitulam como holístico muitas vezes até mesmo por um princípio que fundamenta a sua prática de ter como prerrogativa olhar para o todo do seu paciente e não para uma parte dele, seccionando-o assim como se faz na maior parte das práticas da vigente medicina moderna, psicologias e terapias pautadas em abordagens materialistas, buscam como prerrogativa alcançar esse feito, porém, será que de fato os terapeutas que se prontificam a serem reconhecidos como holísticos vivenciam a realidade holística em si mesmos e são capazes de tratar pela perspectiva do todo em seus pacientes?  Ou será que os terapeutas holísticos, estão na verdade reproduzindo a mesma prerrogativa dos materialistas, ficando obcecados pelos sintomas e não pelas causas, ficando presos a parte e deixando de ver o todo, por simplesmente não o contemplarem?

        Abordar o lado sutil da vida ou energético, não significa estar sendo holístico e vendo o todo, afinal de contas, o lado sutil é apenas mais um lado não é mesmo! Nesse sentido, se a abordagem holística significar olhar exclusivamente para o aspecto energético (sutil) e esquecer o material, esse encontra-se fazendo o mesmo que os materialistas, a única coisa que muda é a polaridade, uns querem olhar para o material (a partícula o átomo) e outros querem olhar para o espiritual (a onda, a energia, o sutil), no entanto, já entendemos que onda e partícula são princípios interdependentes e complementares, então matéria e energia, denso e sutil são apenas polaridades intercambiáveis não é mesmo!


Como seria um atendimento verdadeiramente integrativo (Holístico) no setting terapêutico?

        Mesmo que em nenhuma modalidade do cuidar, seja na medicina moderna, nas psicologias, nas medicinas tradicionais antigas e mesmo nas abordagens contemporâneas de terapias, psicologias experimentais e medicinas heterodoxas, o conhecimento e as possibilidades do saber são inacabados e sempre passíveis de novos desenvolvimentos, porém, na prática, os cuidadores holísticos ou integrativos sempre tiveram a possibilidade de existir em suas práticas clínicas, independente de qual abordagem ou ferramenta estes façam uso, mas como isso seria possível?

        Para responder a essa pergunta, teríamos que entender o seguinte ponto: O que de fato é ser holístico, integrativo, sistémico? Ser um(a) holístico é ter a capacidade de ter uma visão do todo. Suponhamos que um paciente chegue em seu consultório com uma queixa de estar deprimido ou já com um diagnóstico clínico de depressão e você descobri que além dos sinais e sintomas de sua depressão, inclusive das causas biológicas já instaladas em seu corpo pelos exames laboratoriais, você também descubra que o nexo causal de sua depressão está ligado a fatores existências pessoais somados a fatores econômicos, familiares, sociais e políticos que estejam influenciando o seu quadro de depressão e a partir disso, você consiga olhar de maneira abrangente para os nexos causais de sua depressão e compreende que ajudando-o tanto com cuidados relativos que amenizem os seus sintomas depressivos, como fazer com que esse paciente enxergue as causas de sua depressão e encontre formas hábeis de driblar as dificuldades que estejam gerando o quadro depressivo; se isso acontecer no setting terapêutico, na abordagem do terapeuta seja ele chamado de holístico ou não ou até mesmo quando o terapeuta não tenha os recursos ou os meios hábeis de ajudar esse paciente mas consegue indica-lo ou conduzi-lo para outra abordagem ou algo em sua vida que irá tratar as causas, os nexos causais de seu problema, esse terapeuta passa a estar dentro de uma abordagem holística. Talvez partindo dessa perspectiva, esteja o autor aqui, descontruindo a ideia do que é ser um terapeuta holístico, mas por esse momento, é assim que compreendo o que realmente é uma ação holística no setting terapêutico.

        Porém, por uma questão de paradigmas e de adotar ou não determinados modelos explicativos de abordagens do cuidar em detrimento de outros, as possibilidades de se realmente praticar o holístico se tornam reduzidas. Vou dar um outro exemplo: Se um profissional da saúde (sejam eles médicos, psicólogos e terapeutas integrativos) têm como entendimento interno que as esferas históricas, políticas e sociais não influenciam o estado emocional e biológico de seu paciente e imaginemos que estás sejam os nexos causais da queixa de seu paciente e ao se descartar estás possibilidades como a causa das doenças e desarmonias desse, nesse caso, o médico, psicólogo ou terapeuta nunca conseguiram ir a causa do que está trazendo sofrimento para o seu paciente e toda forma de abordar e cuidar desse paciente será limitada e ineficiente, sendo um tratamento superficial (apaga incêndio) mas que nunca conseguira atingir a causa. O mesmo também poderíamos dizer que se um profissional da saúde desconsidera a dimensão espiritual e simbólica da vida devido as suas convicções internas e os modelos explicativos de como esse entendi a saúde, porém, se o nexo causal da doença de seu paciente tiver como etiologia em algo da ordem do espiritual ou sutil, esse também não será devidamente acolhido e a ajuda de fato não acontecerá, ou seja, o holístico não ocorrerá no setting terapêutico.

        Nós enquanto profissionais da saúde, sejamos materialistas ou espiritualistas, pessoas civis, nossos modelos institucionais do saber cientifico ou religioso quando sectários e dogmáticos (lembrando que também há dogmatismo dentro da prática científica), quando trabalhamos apenas com uma das polaridades: “os problemas são só biológicos, ou são só espirituais, ou só psíquicos, ou só mentais, ou emocionais, ou sociais ou políticos...” podemos estar negligenciando uma parte do todo e inexoravelmente cairemos em um forma de sectarismo deixando de olhar para uma parte da vida. Esse talvez seja o grande problema nosso enquanto uma civilização adoecida. Se tivéssemos uma percepção das variadas dimensões da vida em uma esfera interdependente entre as instâncias biopsicossociais, políticas, históricas e espirituais para se entender a saúde e a doença e compreendermos que existem os terapeutas biológicos, os psíquicos, os sociais, os políticos, os históricos e os espirituais e trabalhássemos de uma forma integrada, compreenderíamos que essa seria uma verdadeira prática terapêutica holística. Nesse sentido, usando um termo da psicologia; “clinica ampliada”, entenderíamos que todo esforço de ajuda ao humano é um movimento terapêutico, pois é terapêutico porque visa ajudar o outro e ao todo. Extrapolando o conceito do ser e se fazer terapêutico, poderíamos até entender que um bom político, se torna um terapeuta social, pois suas boas e corretas ações, previnem problemas da esfera social que se não resolvidos alcançariam mais cedo ou mais tarde a esfera psíquica das pessoas afetadas fazendo estas chegarem aos nossos consultórios, hospitais e etc, porém, se aprofundássemos em sua causa, entenderíamos que o seu nexo causal da queixa principal dessa pessoa é devido a um problema de má administração pública dos recursos. 


                                                                                                            @professormichelaves


                                                                                                                                                  

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