sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

O amor se expressa em terreno torto


 

O amor se expressa em terreno torto

Não sei quem, quando e aonde começaram a nos contar a história da carochinha do amor dos contos de fadas

aonde iremos encontrar em alguém a expressão e o terreno fértil de uma amor perfeito reto, claro, previsto como se de tão óbvio pudéssemos perceber os seus prenúncios e aferirmos a previsibilidade de seu comportamento, podendo então identifica-lo e nomeá-lo dizendo: “enfim encontrei o amor, pois isso se parece ser o que me contaram sobre o que é o amor”

Esse amor previsível, reto, que não faz curva, que é vestido de normas sociais, econômicas, de classe de gênero, e que não suporta a derradeira imprevisibilidade esmagadora da vida e como essa escancaradamente se apresenta,

questionando todos os nossos imaginários e ismos  confortáveis para que não lidemos com o que é torto

sinto lhe dizer, mas esse talvez não seja o amor

aquilo de tão previsto que não se submete a curvas e aos terrenos imprevisíveis e áridos da vida, não pode carregar em si, a potência e a potencialidade daquilo que poderíamos denominar como o amor

O amor é uma grandeza que de tão potente, é capaz de encontrar em qualquer tipo de terreno, por mais árido que pareça, a capacidade de fertilizar-se e de dar nascimento as suas infinitas faces e formas de se expressar

A vida com sua beleza torta e a tortura em aprender a vive-la é adubo para que o amor se expresse

nos obstáculos em que os terrenos e contextos tortos nos apresentam a vida, o amor encontra potência para crescer, pois do contrário esse não florescerá

não cabível no simplismo da classificação confortável de uma reta prevista

que nos acomoda nos clichês das historinhas perfeitinhas do amor romântico rigidamente vestido com uma forma previsível e esperada não é o que comumente a vida nos têm apresentado

só sei que esse amor previsto e clichê, indiferente a vida e indiferente ao torto

que resolve esconder a sua existência nas profundezas do seu inconsciente e deixa na superfície apenas o que é previsto e suportável, é apenas uma forma de um pseudoamor

os limites daqueles e daquelas que não suportam às diversidades geradas pelas potencialidades das belezas nascidas do torto com certeza não tiveram a coragem de lidar com a energia potêncial por detrás da grandeza que o controle não atravessa mas a entrega sim

nos terrenos tortos e não previstos, nasce a potencialidade dos caules, que fecundam e proliferam vida em forma de um amor tão óbvio que muitas vezes tornam-se inacreditável percebe-lo como real

esse amor, por ser torto, não previsto e até mesmo improvável, insuportável para os que não querem transcender os próprios limites

 torna-se muito amplo para ser limitado em uma caixinha, em um padrão organizado, aonde a nossa covardia e o nosso confortável jeito de classificar o amor tornam-se suportáveis apenas em face os nossos limites não transpostos

 talvez seja por isso ser muitas vezes dificilmente observável

porém, o fato e é fato, que haverá de ter muito coragem para aprender a amar.

 

Para Maria José Izidio

@professormichelalves

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