Não é uma questão apenas de aceitar a
fé do outro!
“Houve um tempo em que os seres
humanos, utilizavam-se do divino para legitimar às suas tiranias. Nós tempos de
hoje, alguns seres humanos utilizam-se da ciência como forma de manterem as
suas tiranias, o ponto que nos cabe realmente estarmos atentos hoje é:
compreender se os que se chamam portadores da narrativa científica, o fazem
pelo interesse verdadeiro e honesto de investigarem a realidade, ou se estão
narrando a partir de uma ciência que serve apenas para legitimar os interesses
capitalistas (neoliberais) aonde através de um discurso aparentemente
científico o que se prática na realidade é uma forma de manter as suas
estruturas de poder, pois esse é o único e somente interesse desses “cientistas
do capital”
Quando
lemos o código de ética praticado pela psicologia brasileira se diz no primeiro
item dos princípios fundamentais: “O
psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da
dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que
embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos”, sem nenhuma sombra de
dúvida se esse princípio for colocado na prática, não deveríamos nos impor
sobre as outras formas de práticas terapêuticas e psicoterapêuticas comprovadas,
por terem visões de mundo e de práticas no que diz respeito aos tratamentos da
saúde física, psíquica, mental e espiritual só porque são distintas às praticadas
pelas ciências médicas e psicológicas no ocidente, uma vez que entendamos que
essas práticas também carregam as suas próprias racionalidades e eficácias seja
pelos seus resultados na prática ou em alguns casos, até mesmo por métodos
científicos.
Porém,
na prática isso comumente não acontece e muitas vezes por trás de toda a
retórica aonde se diz que o trabalho deverá ser baseado no “respeito e na
promoção da liberdade”, nem sempre isso acontece e o que comumente impede que
esse respeito aconteça muitas das vezes não são a refutação científica de
métodos charlatões e ou práticas terapêuticas e espirituais obsoletas de cura
que honestamente não funcionam, mas sim, conflitos entre visões de mundo e
epistemologias que encontram disparidades ou mesmo contradições com os modelos
e paradigmas hegemônicos adotados pelas instituições científicas
contemporâneas.
Em
nossos tempos, a prerrogativa de dizer que se respeita a espiritualidade, a fé,
as distintas crenças e culturas espirituais e religiosas dos outros, assim como
de práticas tradicionais das medicinas naturais e das variadas formas de
terapias e psicoterapias não acadêmicas, entendo ser por uma parte da classe
médica e de psicólogos afirmarem isso muito mais da necessidade de não infligir
os seus respectivos códigos de ética para não receberem nenhum tipo de punição
e criarem maiores desconfortos, porém, ao mesmo tempo que se diz respeitar à
espiritualidade ou práticas religiosas e terapêuticas tradicionais, comumente
estás não são olhadas com o devido crédito e cuidado como se é dado à ciência
moderna, como se estás no fundo não passassem de crendices e rituais culturais,
mas que por motivos éticos e educacionais, “se diz cinicamente respeitar” estás
práticas, quando na realidade o que vemos é um profundo desprezo e descrédito a
tudo que se gravita no espectro desses temas heterodoxos e advindos de
epistemologias não semelhantes às acadêmicas.
O
que vemos comumente na prática é na verdade um desinteresse em se engajar para
compreender estas práticas sem qualquer espírito de abertura à investigação desses
como se engaja para com o conhecimento científico reproduzido e gerado nas
grandes instituições acadêmicas mundiais. Vemos claramente que o interesse e
iniciativa pelos assuntos das espiritualidades, as psicoterapias e terapias
integrativas é ainda um esforço de exceções e ou muitas vezes pesquisadores
livres, heterodoxos, outsiders, aonde todos esses, tendem a serem marginalizados
das principais fontes de recursos, tanto pelo desinteresse epistemológicos de
suas abordagens que atritam com os paradigmas imperantes, quanto pelo capital
destinado a ciência, aonde os cientistas do capital, são comumente os mais
beneficiados dos recursos do estado e dos setores privados. Se comparamos em
volume de artigos, pesquisas e como consequência em investimentos nos estudos e
pesquisas relacionadas as práticas espirituais, psicoterapêuticas e medicinais advindas
de conhecimentos tradicionais, populares e heterodoxos, esses são enormemente
menores do que comparado aos investimentos nas ciências ligadas a medicina,
psicologia, biologia, física e química.
Historicamente,
é compreensível entender porque hoje se investi mais nas ciências naturais do
que nas ciências humanas e nas práticas espirituais. O fator dessa realidade e
interesses, está ligada primeiro ao fato de as ciências naturais entregarem
resultados mais factuais como por exemplo: o desenvolvimento das maquinas a
vapor, a energia elétrica através de corrente contínua e alternada, cabos de
fibra ótica, engenharia genética, internet e por ai vai... Tudo isso, trouxe e
traz até hoje, um grande vislumbre pois seus resultados factuais passam a
interagir de forma direta e objetiva na vida cotidiana das pessoas através agora
de bens e serviços que lhes trazem mais conforto, porém, a parte trágica dessa
história que resolvemos dar o nome de “progresso científico e tecnológico”, e
que talvez não foi prevista por seus idealizadores, é que ao mesmo tempo que
nos ligássemos cada vez mais as tecnologias, gradativamente afastaríamos da
natureza que nos cerca. O ser humano tecnológico, rapidamente ia perder-se e
não saber mais se relacionar com a própria natureza.
A
ciência criadora de tecnologias e serviços com a motivação pura de trazer
benefícios para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos, acredito, que
houvera a intenção de muitos dos seus propositores que carregavam dentro de si,
uma profunda vontade de ajudar a humanidade, porém, quanto mais os interesses
econômicos e de poder, viram nessa boa nova das ciências que agora traziam
resultados reais, racionais e objetivos de manipular os próprios elementos da
natureza para criar novos serviços e bens tecnológicos, aquele princípio puro
de uma ciência a serviço da humanidade, passou a ser mais uma ciência a serviço
do interesse de algumas minorias que agora ao invés de utilizarem do discurso
religioso, secreto, inacessível a maioria dos homens, que então passou a ser
descreditado pela ciência da razão, passasse então a utilizar-se do discurso
científico como forma de imperar sobre os povos. Mais à frente, com o próprio
avanço das tecnologias e das ciências, fomos descobrindo que até mesmo, quando
estamos voltados a servir genuinamente a própria humanidade, até nisso,
incorremos em graves erros, quando entendemos a natureza como um tipo de
“recurso” que deveria ser direcionado ao humano.
Hoje
entendemos que uma ciência com consciência, deveria estar a serviço da vida e
não da morte de uns em detrimento da vida de outros.
Um segundo ponto
para se compreender porque hoje se investi mais nas ciências naturais do que
nas ciências humanas e nas práticas espirituais é pelo fato então, de que, ao
mesmo tempo que a ciência naturais entregavam todos esses resultados na base de
tecnologias que manipulavam a natureza trazendo resultados reais para a vida
das pessoas, as práticas religiosas e espirituais, não traziam nada desses
resultados diretos aos olhos nus. Nesse sentido, me refiro as práticas
espirituais genuínas e não às religiosas sectárias e dogmáticas, que assim como
os cientistas pragmáticos que tinham muito a oferecer, não conseguiram entrar
na concorrência de suas propostas e narrativas para o curso da humanidade, uma
vez que as suas práticas “as suas ciências” eram demasiadamente interiores para
serem investigadas ao aparato sensorial dos olhos vistos e da ciência que
apenas da crédito àquilo que pode ser medido e observado. Essa qualidade
hermética dessas práticas por muito tempo então, foram dadas ao descrédito até
mesmo, se pensarmos nas chagas históricas que carregamos por acreditarmos em
falsos mestres que na realidade nada sabiam das ciências interiores mas que
usavam-se dessa, para manipular as pessoas.
Se
pensarmos até mesmo nos tempos de hoje, a concorrência das práticas espirituais
interiores, assim como das ciências humanas com relação as ciências naturais, é
ainda uma batalha perdida, e perdido aqui, me refiro à adesão aos investimentos
e recursos que as ciências naturais conseguem pegar para si comparadas as
ciências humanas, pelo simples fato de o maior interesse do capital estar em
usar das ciências para criar mais formas de produzir recursos. A partir do
advento da ciência pragmática moderna criadora de bens materiais (tecnologias),
toda forma de narrativas científicas e práticas espirituais que se adentrem
mais no mundo interno do que no mundo externo dos seres humanos, terá a sua
concorrência fadada ao fracasso. O ponto a que nos encontramos hoje, é de um
mundo, um cultura, que busca se relacionar mais com os aspectos externos da
vida do que os internos. A maioria de nós dentro desse emaranhado infinito de
bens e serviços, devotamos o nosso tempo, os nossos recursos e as nossas
energias para cumprir com nossos obrigações sociais que estão diretamente
ligada a manutenção dos bens e serviços dos quais nos colocamos dependentes
para viver e narramos para nós mesmos que somos necessitados desses. Todo o
tempo que nos sobra, quando não estamos trabalhando para acumular recursos para
os adquiri-los, estaremos utilizando para usufruir dos próprios, ou seja, não
há tempo, energia, espaço, para devotarmos a qualquer forma de investigação de
nós mesmos, salvo, quando nos encontramos em estados tão críticos de nossa
saúde física e mental que acordaremos para tal realidade, porém, de maneira tão
provisória, até o tempo que precisarmos para apagar os nossos incêndios e
voltarmos ao nosso velho hábito dos modos operandis de consumismo exteriores.
Gostaria
até de acreditar que isso se dá apenas por uma questão de metodologia e
prioridades das instituições científicas modernas, por cada setor trabalhar com
aquilo que dialoga com os seus paradigmas e visões de mundo, e como tais,
elencar o que é ou não mais importante a ser estudado, no entanto, parte disso
é de fato uma verdade, pois pessoas e grupos se juntam para focarem no que
consideram ser mais importante, por outro lado, parte dessa história não é
verdade, e aí sim, aqueles que querem apenas legitimar como verdade a sua ótica
de investigação da realidade, fazendo com que suas respectivas visões e
descobertas sejam hegemônicos e se sobressaiam sobre outras formas de
investigar a realidade, ou seja, uma prática que vai para além da esfera
científica, mas sim, indo para as esferas da legitimação de poderes políticos e
a manutenção de estruturas de classe e de poder.
O
ponto que quero chamar atenção é que por detrás desse “respeito cínico” existe
a sustentação de uma narrativa de dominância, aonde novamente “um tipo de discurso
científico” impera sobre outras formas de saber. Vamos à alguns fatos: na maior
parte das instituições de ensino superior de Medicina e Psicologia hoje no
Brasil, esses passam toda a sua formação de 5 e 6 anos e nada ou quase nada
sabem ou aprendem sobre a temática da espiritualidade e das formas distintas de
técnicas de cura e tratamentos tradicionais como a fitoterapia, a homeopatia ou
mesmo de abordagens psicoterápicas e de pensadores que não ocupam hall da fama
dos autores principais que são selecionados para serem ensinados nos centros
acadêmicos durante suas formações.
Pensando
nisso, deixo algumas reflexões: como pode profissionais que desenvolveram o seu
olhar sobre o mundo a partir de bases epistemológicas com as quais aprenderam a
pensar o cuidar do tratamento do sujeito, podem validar, invalidar ou mesmo avaliar
o que é bom para o cuidado do outro, quando parte desse cuidado foge ao escopo
de seus conhecimentos? Como isso seria possível? Um arquiteto irá ensinar um
eletricista como fazer seu trabalho? Quando incluímos a espiritualidade como
uma das dimensões do cuidar (o ser é biopsicossocial e espiritual) como um
profissional médico ou psicólogo que não entendendo das práticas espirituais
como um todo e das práticas que o seu paciente exercita, ou mesmo das práticas
integrativas oferecidas pensando em outras formas de tratamento, como esses
podem tornar-se os juízes a esse respeito daquilo que eles não sabem? Não
conhecendo essas áreas do saber, poderão avaliar os limites do até quanto estás
práticas podem ou não ser parte do tratamento do seu paciente, sendo que esses,
desconhecem os seus princípios, a sua própria epistemologia e prática? E como
podem dizer que respeitam quando na realidade nem compreendem os fundamentos e
os nexos causais de determinadas práticas espirituais e terapêuticas
desconhecendo suas ações, porém, interferem nessas a partir da ótica de seus
conhecimentos?
Para
contemplar os conflitos implícitos nas questões supracitadas, quero trazer
algumas ideias que propiciam a reflexão sobre o assunto:
Se pensarmos no mundo
científico, ocidental e pós-moderno das instituições capitalistas, existe e de
forma clara a soberania epistemológica das ciências médicas e psicológicas
sobre as medicinas tradicionais e abordagens psicoterápicas não pertencentes ao
escopo das psicologias elencadas pelas instituições acadêmicas. Uma observação
aqui é que, prefiro me utilizar da palavra acadêmica e não científica, pelo fato
de que se formos pensar em ciência psicológica do ponto de vista das ciências
naturais, a própria psicanálise ficaria de fora das psicologias chamadas
científicas, encarando-a como uma ciência com seus princípios fundamentalmente
nas áreas humanas não restrita as leis de uma ciência natural, porém, mesmo
assim, ela é uma das principais abordagens psicológicas ensinadas nas academias,
por isso, prefiro usar acadêmico.
Nessa
“paisagem” de soberania epistemológica, quando a prática no caso das ciências
médicas e psicológicas estiverem vinculadas a preceitos de poder econômico e
institucionais capitalistas o que Pierre Bourdieu vai denominar de “ciências
capitalistas e capital científico”, nós temos um panorama de grandes conflitos,
pelo fato, de que, o que realmente encontra-se no pano de fundo desse debate são
interesses econômicos aonde determinadas narrativas devem prevalecer para se
manterem nessas estruturas de poder e não o interesse honesto e verdadeiramente
científico pela investigação da realidade. Nesse cenário, o que vemos na
realidade, não é o debate intelectualmente honesto e científico para
refletirmos a existência ou não de outras racionalidades e práticas médicas que
não apenas à da medicina ocidental moderna, assim como outras abordagens
psicoterapêuticas que não apenas as abordagens por psicólogos acadêmicos, mas
sim, de uma prática que apenas ataca, deslegitima, ridiculariza outras formas
de saberes, através da retórica do “cientificamente comprovado” o que sabemos
estarem fazendo em última instância o que chamamos de ciência, mas sim, um
velho e entranhado jogo de poder, aonde os intelectos mais afiados para
promoverem a persuasão de suas falácias, irá manter como legitimado o que
devemos entender como verdadeiro.
É
importante pensarmos que existe uma prerrogativa radicalmente distinta quando
colocamos os nossos espíritos encorajados a buscar a verdade de maneira
honesta, mesmo que essa venha a refutar as nossas premissas, paradigmas e
predisposições às nossas hipóteses e convicções, se comparado a quando chamamos
de verdade, um instrumento político e de poder, mesmo que essa não o seja. Bordieu
ao dizer que: “o que poderia haver de assustador nessa espécie de teocracia
epistemocrática” esse deixa claro, que o campo científico seja muito
frequentemente partilhado como uma tecnocracia da pesquisa, por pesquisadores
que não são necessariamente, os melhores do ponto de vista dos critérios
científicos, aonde os “melhores” estão condenados à mais completa impotência,
nessa instância da ciência presa apenas aos interesses capitalistas e a
autolegitimação como instrumento de poder através do capital científico. Nesse
sentido, a relação passa a ser algo muito mais funcional para manter o conforto
dos pesquisadores do que para um avanço do conhecimento científico, verdadeiro
e desprovido da lógica do capital científico por trás dessas instituições.
Quando
temos áreas distintas do conhecimento com epistemologias distintas de
investigar a realidade porém, tendo essas os mesmos objetos de investigação, no
caso aqui, a saúde física e psíquica humana, vemos que por investigarem o mesmo
objeto, essas áreas distintas se tocam por estarem em um ambiente de interseção.
Quando temos diferentes áreas do saber que implicam-se em investigar um mesmo
objeto, acabamos por criar conflitos, principalmente quando esses nascem
fundamentados em uma narrativa de dominância e supremacia do saber que quer
sobressair-se sobre as outras, como a única forma possível de compreender a
realidade do fenômeno observado.
Médicos, Médicos
chineses, Médicos Ayurvédicos, Raizeiros, Fitoterapeutas, Homeopatas,
Psicólogos, Psicanalistas, Psicoterapeutas, Terapeutas, Terapeutas Integrativos, Espiritualistas, Padres,
Pastores, Yogues, Budistas, Espíritas, Umbandistas entre outros, com suas
especialidades distintas, desenvolveram diversas formas de racionalidades e
epistemologias únicas no que diz respeito aos tratamentos de ordem física,
psicológica e espiritual.
O
fato de suas práticas e principalmente RESULTADOS,
muitas vezes não serem comprovados por uma determinada forma protocolar específica
de investigação científica, não é uma justificativa plausível para que lhes
atribuam o demérito pelo fato dos seus métodos não condizer com um corpo de
métodos que validamos ser verdadeiros, são apenas práxis diferentes, mesmo que
seus métodos possam não ser comprovados pelos métodos científicos.
Quando
adentramos nesse terreno, pode-se incorrer em uma análise simplória que é como
se estivéssemos regredindo no tempo, aonde todas as práticas de cuidados
médicos e psicológicos fossem validadas como verdadeiras e que a ciência e seus
instrumentos de avaliação não poderiam adentrar na análise da validade destas
práticas e portanto, a partir de agora, tudo é uma questão relativista e de
ponto de vista, portanto, todas as coisas, passam a ser verdades de acordo com
a sua própria forma de visão e não podem ser passíveis de serem questionadas e
refutadas, por terem como base, premissas epistemológicas distintas.
Compreender dessa forma simplista, além, de ingênuo é extremamente perigoso,
pois, nesse caso, abriríamos portas para todos os tipos e formas de
charlatanismos acríticos e práticas psicoterápicas e medicinais ineficazes,
aonde regrediríamos aos tempos de validarmos a verdade das coisas, por uma
processo de crenças e fés irracionalizadas. Esse não é o ponto da discussão!
O
que quero chamar atenção aqui, é justamente quando usei a palavra em negrito e
em letra maiúscula; RESULTADO. Quando
temos resultados-fatos, independentemente de quais práticas estas foram
alicerçadas por quais formas e epistemologias que sustentem essas práticas,
ficamos diante daquilo que tanto procuramos nas ciências que são os fatos
científicos. Precisamos entender que não é porque determinados resultados-fatos
não se enquadrem em nosso repertório epistemológico e paradigmático é que isso
significaria que logo, aquilo ou aquela prática geradora desses
resultados-fatos, não seja verdadeira. Ao meu ver isso é de uma irracionalidade
e desonestidade intelectual por detrás dos cientistas ou daqueles que queiram deslegitimar
às práticas medicinais e terapêuticas que não gravitam no campo de seus
entendimentos, assim como de uma infantilidade, manter tamanha resistência
diante dos resultados-fatos que se apresentam. Para exemplificar essa situação,
vou pensar aqui, no contexto aonde a Medicina Homeopática é dada ao descrédito por
parte da comunidade médica e farmacêutica alicerçadas no paradigma materialista
físico-químico, que dizem que tais medicamentos, não tem resultados
verdadeiros, uma vez que na sua composição físico-química, não se encontram
presentes os princípios ativos das substâncias das quais estes derivaram-se,
logo, podemos afirmar então, que por esses medicamentes homeopáticos não terem
tais substâncias, esses medicamentos não podem ter os efeitos almejados uma vez
por não conterem tais princípios ativos que gerariam tais efeitos
físico-químicos, portanto, não tem as substâncias que promoveriam esses efeitos
terapêuticos. Nesse sentido, todo e qualquer tipo de resultado seja positivo ou
negativo por meio dessa natureza de medicamentos, fadaríamos ao que gostam de
chamar de o “efeito-placebo”, aonde através desse, poderíamos entender que o
que operou resultados ou fatos clínico-terapêuticos, estão mais ligados a
processos de indução ou sugestão a pessoas que assim, tendem a ser mais
sugestionáveis.
Esse
é um bom exemplo, para pensarmos como quando uma determinada forma de prática
terapêutica não cabe aos moldes epistemológicos e paradigmáticos de uma
determinada forma de pensar de um grupo. Grupo aqui, podemos pensar em grupos
hegemônicos que se colocam como os “donos da verdade” dentro de uma determinada
forma de narrativa científica hegemônica, colocando ao escanteio das
concorrências e corridas que vão em direção a verdade científica, todos aqueles
que não pensam sobre os mesmos moldes paradigmáticos. Cada vez mais, entendo
que toda essa arbitrariedade em relação a quem pode ou não concorrer a verdade,
nos mostra por detrás da supremacia de alguns discursos epistemológicos em
detrimento de outros, que o que se está em jogo, não é a premissa honesta da
investigação científica provida apenas ao interesse da verdade dos fatos, mas
sim, de uma grande e emaranhada rede de interesses econômicos e de poder, aonde
os articuladores desse jogo, usam a legitimação do que pode ser verdade ou não,
muito mais por manterem eu seus status quo do que realmente estarem dispostos a
olhar para os fatos que se apresentam.
Em
uma atitude intelectualmente honesta e verdadeiramente provida do espírito
encorajado de se fazer ciência, poderíamos no caso dos resultados obtidos pela
homeopatia, fazermos perguntas simples como: Se mesmo que esses medicamentos
homeopáticos, não tendo os princípios químicos em seus compostos devido ao grande
processo de diluição a que foram submetidos, será que existem propriedades mais
sutis das substâncias que nossos instrumentos não conseguem detectar ainda?
Será que existem propriedades reagentes da água ao entrarem em contato com
esses elementos que ainda não a conhecemos? E se pensarmos então pelo viés que
não passam de “efeitos-placebos” o que faz com que os seres humanos, consigam
trazer resultados benéficos e maléficos para si, quando de alguma forma foram
sugestionados? E sendo “efeitos-placebos” como pode a homeopatia sugestionar
animais e plantas que também já foram constatados de se beneficiarem com o uso
desses medicamentos? Como se operam essas capacidade mentais de promoverem autocura
ou auto-malefício quando são sugestionados por alguma pessoa ou informação? O
que a própria ciência da homeopática com o seu constructo teórico tem a nos
dizer, sobre a forma como esses medicamentes funcionam? Perguntas que nos fazem
pensar sobre como os resultados-fatos operam-se, assim que estes ocorrem,
entendo ser o verdadeiro e honesto propósito de qualquer cientista ou
praticante de qualquer tipo de racionalidade médica ou psicológica e não esse
enfadonho e limitado discurso de violência epistemológica, aonde por motivos de
interesse econômicos e de poder, caem em uma retórica que fada ao ridículo e ao
esquecimento aquilo que não se enquadra aos paradigmas e epistemologias que
buscam se manter como narrativas hegemônicas.
Para
que não haja males entendidos aqui, o que estou questionando não é o fato de
que um profissional da Medicina ou da Psicologia precisariam ou teriam que
saber afundo sobre racionalidades terapêuticas tradicionais, integrativas e de
práticas espirituais milenares, para que assim, verdadeiramente estivessem
preparados para respeitar estas, pelo contrário, o respeito em si, é uma
condição ética e por isso deveria ser intrínseca ao sujeito independente do
quanto entendemos ou não sobre o objeto do qual é alvo de nosso respeito, essa
não é a discussão aqui, a discussão, está ligada mais a um falso discurso de respeito,
aonde na realidade esse não acontece, pelo fato de se desconsiderar os saberes
que estas práticas carregam em si, colocando-as há um mero patamar de
crendices, placebos, fés irracionais, compreendidas apenas como uma forma de trazer
conforto para o sujeito, porém, sem compreender que estás também tem às suas
eficácias clínicas, aonde na realidade o que existe é um total desinteresse em
compreender os seus métodos, práticas, bases epistemológicas e mesmo diante de
tamanho desconhecimento por parte de médicos e psicólogos, esses são eleitos os
protagonistas a tomarem posse por decidir sobre quais práticas podem ou não ser
realizadas. Vemos muito disso por exemplo, quando nos defrontámos com muitos
obstáculos por uma parte da classe médica que resiste na ampla implementação
das práticas integrativas e complementares no SUS (PICS). Outros contextos assim
são vistos constantemente, quando por exemplo, uma parte da classe médica no
Brasil, querer estabelecer que só eles poderiam fazer acupuntura, sendo que na
realidade, a própria acupuntura originária da medicina tradicional chinesa aonde
tem o seu nascimento a milhares de anos antes da própria medicina moderna
existir, carregando consigo a sua própria racionalidade e epistemologia que
alicerçam as suas práticas. Isso faz algum sentido? Como nesse caso, a medicina
moderna, poderia se apropriar, tendo exclusividade sobre uma outra forma de
Medicina, que fora criada antes dela própria existir? Isso é no mínimo, uma
ideia absurda! Se o que não estivesse em jogo, fosse os velhos interesses
econômicos e de poder, mantenedores de uma determinada narrativa epistemológica
de dominância, poderíamos vislumbrar um cenário completamente diferente, aonde Medicina
Moderna e Medicinas Tradicionais, assim como as Psicologias acadêmicas e
variadas abordagens psicoterapêuticas heterodoxas, poderiam conviver e
trabalharem juntar em prol do ser humano e da ciência como um todo.
Se
pensarmos a fundo, dogmas e crenças irracionais, nutridas de convicções a
priori não acontecem só em comunidades religiosas, espiritualistas e
terapêuticas tradicionais, mas acontecem também dentro da comunidade científica
devido a interesses que fogem ao escopo do interesse genuíno em se fazer ciência.
Os médicos e
psicólogos como profissionais protagonistas no que diz respeito à responsabilidade
social dentro de um contexto cultural aonde estes respondem sobre o que está
acontecendo clinicamente com seus pacientes, faz com que esses sejam os
principais responsáveis pelas intervenções para com o cuidado dos próprios,
nesse sentido é compreensivo que estes profissionais carregam por de trás de
suas ações uma grande preocupação com relação às intervenções coadjuvantes ou
não que poderão ocorrer dentro do espectro dos tratamentos e cuidados que seus
pacientes receberão ao longo de seus tratamentos, devido às escolhas que os
próprios pacientes tenham feito, porém, mesmo dentro destes contextos, não
significa, que devida a grande responsabilidade desses profissionais, estes
devem ser os únicos protagonistas de deslegitimar ou não às outras práticas
medicinais, psicoterapêuticas, terapêuticas e espirituais que possam ajudar os
seus pacientes, uma vez que elas próprias também contenham os seus métodos e
racionalidades clinicas e terapêuticas. Um exemplo: um médico não precisa
ensinar a um professor de meditação como esse deve fazer o seu serviço, porém,
ambos devem discutir o caso do paciente, para chegarem em um consenso, se
devido ao contexto do paciente, a meditação agora, poderia ser adequada ou não
para o seu tratamento, assim como um fitoterapeuta e um médico alopata,
poderiam avaliar se as prescrições alopáticas e fitoterápicas prescritas e manejadas
simultaneamente, se estás poderiam gerar benefícios ao se complementarem nos respectivos
tratamentos ou se haveriam interações entre ambos os medicamentos, tendo como
resultado final, um prognóstico ruim para o quadro clínico do paciente. Tudo é
uma questão de trabalho conjunto e multidisciplinar aonde as distintas áreas se
complementam e não tornam-se uma forma de imperar e deslegitimar a prática de
uma em prol da outra.
O que verdadeiramente deveríamos contemplar melhor
ao meu entender, é buscar encontrar melhores formas de fazer com que todas
essas áreas, a medicina, as psicologias, as práticas medicinais tradicionais e
as práticas psicoterápicas distintas as principais abordagens da psicologia
acadêmica, assim como todas as práticas espirituais que também estão a serviço
de auxiliar o ser humano em seus cuidados psicológicos e mentais, criassem
pontes de diálogos, para entender os seus respectivos métodos, racionalidades,
modelos teóricos e práticos, fazendo com que esses possam trabalhar de forma
conjunta em favor do ser humano. Assim, não só avançaríamos mais rápido, como
seríamos mais eficazes, porém, para isso, é necessário que se combata muito
ainda, essa forma de pensamento antiquado aonde se coloca o capital na frente
dos interesses científicos.
@professormichelalves

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