sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Não é uma questão apenas de aceitar a fé do outro!



Não é uma questão apenas de aceitar a fé do outro!

 

“Houve um tempo em que os seres humanos, utilizavam-se do divino para legitimar às suas tiranias. Nós tempos de hoje, alguns seres humanos utilizam-se da ciência como forma de manterem as suas tiranias, o ponto que nos cabe realmente estarmos atentos hoje é: compreender se os que se chamam portadores da narrativa científica, o fazem pelo interesse verdadeiro e honesto de investigarem a realidade, ou se estão narrando a partir de uma ciência que serve apenas para legitimar os interesses capitalistas (neoliberais) aonde através de um discurso aparentemente científico o que se prática na realidade é uma forma de manter as suas estruturas de poder, pois esse é o único e somente interesse desses “cientistas do capital”

 

Quando lemos o código de ética praticado pela psicologia brasileira se diz no primeiro item dos princípios fundamentais: “O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos”, sem nenhuma sombra de dúvida se esse princípio for colocado na prática, não deveríamos nos impor sobre as outras formas de práticas terapêuticas e psicoterapêuticas comprovadas, por terem visões de mundo e de práticas no que diz respeito aos tratamentos da saúde física, psíquica, mental e espiritual só porque são distintas às praticadas pelas ciências médicas e psicológicas no ocidente, uma vez que entendamos que essas práticas também carregam as suas próprias racionalidades e eficácias seja pelos seus resultados na prática ou em alguns casos, até mesmo por métodos científicos.

Porém, na prática isso comumente não acontece e muitas vezes por trás de toda a retórica aonde se diz que o trabalho deverá ser baseado no “respeito e na promoção da liberdade”, nem sempre isso acontece e o que comumente impede que esse respeito aconteça muitas das vezes não são a refutação científica de métodos charlatões e ou práticas terapêuticas e espirituais obsoletas de cura que honestamente não funcionam, mas sim, conflitos entre visões de mundo e epistemologias que encontram disparidades ou mesmo contradições com os modelos e paradigmas hegemônicos adotados pelas instituições científicas contemporâneas.

Em nossos tempos, a prerrogativa de dizer que se respeita a espiritualidade, a fé, as distintas crenças e culturas espirituais e religiosas dos outros, assim como de práticas tradicionais das medicinas naturais e das variadas formas de terapias e psicoterapias não acadêmicas, entendo ser por uma parte da classe médica e de psicólogos afirmarem isso muito mais da necessidade de não infligir os seus respectivos códigos de ética para não receberem nenhum tipo de punição e criarem maiores desconfortos, porém, ao mesmo tempo que se diz respeitar à espiritualidade ou práticas religiosas e terapêuticas tradicionais, comumente estás não são olhadas com o devido crédito e cuidado como se é dado à ciência moderna, como se estás no fundo não passassem de crendices e rituais culturais, mas que por motivos éticos e educacionais, “se diz cinicamente respeitar” estás práticas, quando na realidade o que vemos é um profundo desprezo e descrédito a tudo que se gravita no espectro desses temas heterodoxos e advindos de epistemologias não semelhantes às acadêmicas.

O que vemos comumente na prática é na verdade um desinteresse em se engajar para compreender estas práticas sem qualquer espírito de abertura à investigação desses como se engaja para com o conhecimento científico reproduzido e gerado nas grandes instituições acadêmicas mundiais. Vemos claramente que o interesse e iniciativa pelos assuntos das espiritualidades, as psicoterapias e terapias integrativas é ainda um esforço de exceções e ou muitas vezes pesquisadores livres, heterodoxos, outsiders, aonde todos esses, tendem a serem marginalizados das principais fontes de recursos, tanto pelo desinteresse epistemológicos de suas abordagens que atritam com os paradigmas imperantes, quanto pelo capital destinado a ciência, aonde os cientistas do capital, são comumente os mais beneficiados dos recursos do estado e dos setores privados. Se comparamos em volume de artigos, pesquisas e como consequência em investimentos nos estudos e pesquisas relacionadas as práticas espirituais, psicoterapêuticas e medicinais advindas de conhecimentos tradicionais, populares e heterodoxos, esses são enormemente menores do que comparado aos investimentos nas ciências ligadas a medicina, psicologia, biologia, física e química. 

Historicamente, é compreensível entender porque hoje se investi mais nas ciências naturais do que nas ciências humanas e nas práticas espirituais. O fator dessa realidade e interesses, está ligada primeiro ao fato de as ciências naturais entregarem resultados mais factuais como por exemplo: o desenvolvimento das maquinas a vapor, a energia elétrica através de corrente contínua e alternada, cabos de fibra ótica, engenharia genética, internet e por ai vai... Tudo isso, trouxe e traz até hoje, um grande vislumbre pois seus resultados factuais passam a interagir de forma direta e objetiva na vida cotidiana das pessoas através agora de bens e serviços que lhes trazem mais conforto, porém, a parte trágica dessa história que resolvemos dar o nome de “progresso científico e tecnológico”, e que talvez não foi prevista por seus idealizadores, é que ao mesmo tempo que nos ligássemos cada vez mais as tecnologias, gradativamente afastaríamos da natureza que nos cerca. O ser humano tecnológico, rapidamente ia perder-se e não saber mais se relacionar com a própria natureza.

A ciência criadora de tecnologias e serviços com a motivação pura de trazer benefícios para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos, acredito, que houvera a intenção de muitos dos seus propositores que carregavam dentro de si, uma profunda vontade de ajudar a humanidade, porém, quanto mais os interesses econômicos e de poder, viram nessa boa nova das ciências que agora traziam resultados reais, racionais e objetivos de manipular os próprios elementos da natureza para criar novos serviços e bens tecnológicos, aquele princípio puro de uma ciência a serviço da humanidade, passou a ser mais uma ciência a serviço do interesse de algumas minorias que agora ao invés de utilizarem do discurso religioso, secreto, inacessível a maioria dos homens, que então passou a ser descreditado pela ciência da razão, passasse então a utilizar-se do discurso científico como forma de imperar sobre os povos. Mais à frente, com o próprio avanço das tecnologias e das ciências, fomos descobrindo que até mesmo, quando estamos voltados a servir genuinamente a própria humanidade, até nisso, incorremos em graves erros, quando entendemos a natureza como um tipo de “recurso” que deveria ser direcionado ao humano.

Hoje entendemos que uma ciência com consciência, deveria estar a serviço da vida e não da morte de uns em detrimento da vida de outros.

Um segundo ponto para se compreender porque hoje se investi mais nas ciências naturais do que nas ciências humanas e nas práticas espirituais é pelo fato então, de que, ao mesmo tempo que a ciência naturais entregavam todos esses resultados na base de tecnologias que manipulavam a natureza trazendo resultados reais para a vida das pessoas, as práticas religiosas e espirituais, não traziam nada desses resultados diretos aos olhos nus. Nesse sentido, me refiro as práticas espirituais genuínas e não às religiosas sectárias e dogmáticas, que assim como os cientistas pragmáticos que tinham muito a oferecer, não conseguiram entrar na concorrência de suas propostas e narrativas para o curso da humanidade, uma vez que as suas práticas “as suas ciências” eram demasiadamente interiores para serem investigadas ao aparato sensorial dos olhos vistos e da ciência que apenas da crédito àquilo que pode ser medido e observado. Essa qualidade hermética dessas práticas por muito tempo então, foram dadas ao descrédito até mesmo, se pensarmos nas chagas históricas que carregamos por acreditarmos em falsos mestres que na realidade nada sabiam das ciências interiores mas que usavam-se dessa, para manipular as pessoas.

Se pensarmos até mesmo nos tempos de hoje, a concorrência das práticas espirituais interiores, assim como das ciências humanas com relação as ciências naturais, é ainda uma batalha perdida, e perdido aqui, me refiro à adesão aos investimentos e recursos que as ciências naturais conseguem pegar para si comparadas as ciências humanas, pelo simples fato de o maior interesse do capital estar em usar das ciências para criar mais formas de produzir recursos. A partir do advento da ciência pragmática moderna criadora de bens materiais (tecnologias), toda forma de narrativas científicas e práticas espirituais que se adentrem mais no mundo interno do que no mundo externo dos seres humanos, terá a sua concorrência fadada ao fracasso. O ponto a que nos encontramos hoje, é de um mundo, um cultura, que busca se relacionar mais com os aspectos externos da vida do que os internos. A maioria de nós dentro desse emaranhado infinito de bens e serviços, devotamos o nosso tempo, os nossos recursos e as nossas energias para cumprir com nossos obrigações sociais que estão diretamente ligada a manutenção dos bens e serviços dos quais nos colocamos dependentes para viver e narramos para nós mesmos que somos necessitados desses. Todo o tempo que nos sobra, quando não estamos trabalhando para acumular recursos para os adquiri-los, estaremos utilizando para usufruir dos próprios, ou seja, não há tempo, energia, espaço, para devotarmos a qualquer forma de investigação de nós mesmos, salvo, quando nos encontramos em estados tão críticos de nossa saúde física e mental que acordaremos para tal realidade, porém, de maneira tão provisória, até o tempo que precisarmos para apagar os nossos incêndios e voltarmos ao nosso velho hábito dos modos operandis de consumismo exteriores.

Gostaria até de acreditar que isso se dá apenas por uma questão de metodologia e prioridades das instituições científicas modernas, por cada setor trabalhar com aquilo que dialoga com os seus paradigmas e visões de mundo, e como tais, elencar o que é ou não mais importante a ser estudado, no entanto, parte disso é de fato uma verdade, pois pessoas e grupos se juntam para focarem no que consideram ser mais importante, por outro lado, parte dessa história não é verdade, e aí sim, aqueles que querem apenas legitimar como verdade a sua ótica de investigação da realidade, fazendo com que suas respectivas visões e descobertas sejam hegemônicos e se sobressaiam sobre outras formas de investigar a realidade, ou seja, uma prática que vai para além da esfera científica, mas sim, indo para as esferas da legitimação de poderes políticos e a manutenção de estruturas de classe e de poder.

O ponto que quero chamar atenção é que por detrás desse “respeito cínico” existe a sustentação de uma narrativa de dominância, aonde novamente “um tipo de discurso científico” impera sobre outras formas de saber. Vamos à alguns fatos: na maior parte das instituições de ensino superior de Medicina e Psicologia hoje no Brasil, esses passam toda a sua formação de 5 e 6 anos e nada ou quase nada sabem ou aprendem sobre a temática da espiritualidade e das formas distintas de técnicas de cura e tratamentos tradicionais como a fitoterapia, a homeopatia ou mesmo de abordagens psicoterápicas e de pensadores que não ocupam hall da fama dos autores principais que são selecionados para serem ensinados nos centros acadêmicos durante suas formações.

Pensando nisso, deixo algumas reflexões: como pode profissionais que desenvolveram o seu olhar sobre o mundo a partir de bases epistemológicas com as quais aprenderam a pensar o cuidar do tratamento do sujeito, podem validar, invalidar ou mesmo avaliar o que é bom para o cuidado do outro, quando parte desse cuidado foge ao escopo de seus conhecimentos? Como isso seria possível? Um arquiteto irá ensinar um eletricista como fazer seu trabalho? Quando incluímos a espiritualidade como uma das dimensões do cuidar (o ser é biopsicossocial e espiritual) como um profissional médico ou psicólogo que não entendendo das práticas espirituais como um todo e das práticas que o seu paciente exercita, ou mesmo das práticas integrativas oferecidas pensando em outras formas de tratamento, como esses podem tornar-se os juízes a esse respeito daquilo que eles não sabem? Não conhecendo essas áreas do saber, poderão avaliar os limites do até quanto estás práticas podem ou não ser parte do tratamento do seu paciente, sendo que esses, desconhecem os seus princípios, a sua própria epistemologia e prática? E como podem dizer que respeitam quando na realidade nem compreendem os fundamentos e os nexos causais de determinadas práticas espirituais e terapêuticas desconhecendo suas ações, porém, interferem nessas a partir da ótica de seus conhecimentos?

Para contemplar os conflitos implícitos nas questões supracitadas, quero trazer algumas ideias que propiciam a reflexão sobre o assunto:

Se pensarmos no mundo científico, ocidental e pós-moderno das instituições capitalistas, existe e de forma clara a soberania epistemológica das ciências médicas e psicológicas sobre as medicinas tradicionais e abordagens psicoterápicas não pertencentes ao escopo das psicologias elencadas pelas instituições acadêmicas. Uma observação aqui é que, prefiro me utilizar da palavra acadêmica e não científica, pelo fato de que se formos pensar em ciência psicológica do ponto de vista das ciências naturais, a própria psicanálise ficaria de fora das psicologias chamadas científicas, encarando-a como uma ciência com seus princípios fundamentalmente nas áreas humanas não restrita as leis de uma ciência natural, porém, mesmo assim, ela é uma das principais abordagens psicológicas ensinadas nas academias, por isso, prefiro usar acadêmico.

Nessa “paisagem” de soberania epistemológica, quando a prática no caso das ciências médicas e psicológicas estiverem vinculadas a preceitos de poder econômico e institucionais capitalistas o que Pierre Bourdieu vai denominar de “ciências capitalistas e capital científico”, nós temos um panorama de grandes conflitos, pelo fato, de que, o que realmente encontra-se no pano de fundo desse debate são interesses econômicos aonde determinadas narrativas devem prevalecer para se manterem nessas estruturas de poder e não o interesse honesto e verdadeiramente científico pela investigação da realidade. Nesse cenário, o que vemos na realidade, não é o debate intelectualmente honesto e científico para refletirmos a existência ou não de outras racionalidades e práticas médicas que não apenas à da medicina ocidental moderna, assim como outras abordagens psicoterapêuticas que não apenas as abordagens por psicólogos acadêmicos, mas sim, de uma prática que apenas ataca, deslegitima, ridiculariza outras formas de saberes, através da retórica do “cientificamente comprovado” o que sabemos estarem fazendo em última instância o que chamamos de ciência, mas sim, um velho e entranhado jogo de poder, aonde os intelectos mais afiados para promoverem a persuasão de suas falácias, irá manter como legitimado o que devemos entender como verdadeiro.

É importante pensarmos que existe uma prerrogativa radicalmente distinta quando colocamos os nossos espíritos encorajados a buscar a verdade de maneira honesta, mesmo que essa venha a refutar as nossas premissas, paradigmas e predisposições às nossas hipóteses e convicções, se comparado a quando chamamos de verdade, um instrumento político e de poder, mesmo que essa não o seja. Bordieu ao dizer que: “o que poderia haver de assustador nessa espécie de teocracia epistemocrática” esse deixa claro, que o campo científico seja muito frequentemente partilhado como uma tecnocracia da pesquisa, por pesquisadores que não são necessariamente, os melhores do ponto de vista dos critérios científicos, aonde os “melhores” estão condenados à mais completa impotência, nessa instância da ciência presa apenas aos interesses capitalistas e a autolegitimação como instrumento de poder através do capital científico. Nesse sentido, a relação passa a ser algo muito mais funcional para manter o conforto dos pesquisadores do que para um avanço do conhecimento científico, verdadeiro e desprovido da lógica do capital científico por trás dessas instituições.

Quando temos áreas distintas do conhecimento com epistemologias distintas de investigar a realidade porém, tendo essas os mesmos objetos de investigação, no caso aqui, a saúde física e psíquica humana, vemos que por investigarem o mesmo objeto, essas áreas distintas se tocam por estarem em um ambiente de interseção. Quando temos diferentes áreas do saber que implicam-se em investigar um mesmo objeto, acabamos por criar conflitos, principalmente quando esses nascem fundamentados em uma narrativa de dominância e supremacia do saber que quer sobressair-se sobre as outras, como a única forma possível de compreender a realidade do fenômeno observado.

Médicos, Médicos chineses, Médicos Ayurvédicos, Raizeiros, Fitoterapeutas, Homeopatas, Psicólogos, Psicanalistas, Psicoterapeutas, Terapeutas, Terapeutas  Integrativos, Espiritualistas, Padres, Pastores, Yogues, Budistas, Espíritas, Umbandistas entre outros, com suas especialidades distintas, desenvolveram diversas formas de racionalidades e epistemologias únicas no que diz respeito aos tratamentos de ordem física, psicológica e espiritual.

O fato de suas práticas e principalmente RESULTADOS, muitas vezes não serem comprovados por uma determinada forma protocolar específica de investigação científica, não é uma justificativa plausível para que lhes atribuam o demérito pelo fato dos seus métodos não condizer com um corpo de métodos que validamos ser verdadeiros, são apenas práxis diferentes, mesmo que seus métodos possam não ser comprovados pelos métodos científicos.

Quando adentramos nesse terreno, pode-se incorrer em uma análise simplória que é como se estivéssemos regredindo no tempo, aonde todas as práticas de cuidados médicos e psicológicos fossem validadas como verdadeiras e que a ciência e seus instrumentos de avaliação não poderiam adentrar na análise da validade destas práticas e portanto, a partir de agora, tudo é uma questão relativista e de ponto de vista, portanto, todas as coisas, passam a ser verdades de acordo com a sua própria forma de visão e não podem ser passíveis de serem questionadas e refutadas, por terem como base, premissas epistemológicas distintas. Compreender dessa forma simplista, além, de ingênuo é extremamente perigoso, pois, nesse caso, abriríamos portas para todos os tipos e formas de charlatanismos acríticos e práticas psicoterápicas e medicinais ineficazes, aonde regrediríamos aos tempos de validarmos a verdade das coisas, por uma processo de crenças e fés irracionalizadas. Esse não é o ponto da discussão!

O que quero chamar atenção aqui, é justamente quando usei a palavra em negrito e em letra maiúscula; RESULTADO. Quando temos resultados-fatos, independentemente de quais práticas estas foram alicerçadas por quais formas e epistemologias que sustentem essas práticas, ficamos diante daquilo que tanto procuramos nas ciências que são os fatos científicos. Precisamos entender que não é porque determinados resultados-fatos não se enquadrem em nosso repertório epistemológico e paradigmático é que isso significaria que logo, aquilo ou aquela prática geradora desses resultados-fatos, não seja verdadeira. Ao meu ver isso é de uma irracionalidade e desonestidade intelectual por detrás dos cientistas ou daqueles que queiram deslegitimar às práticas medicinais e terapêuticas que não gravitam no campo de seus entendimentos, assim como de uma infantilidade, manter tamanha resistência diante dos resultados-fatos que se apresentam. Para exemplificar essa situação, vou pensar aqui, no contexto aonde a Medicina Homeopática é dada ao descrédito por parte da comunidade médica e farmacêutica alicerçadas no paradigma materialista físico-químico, que dizem que tais medicamentos, não tem resultados verdadeiros, uma vez que na sua composição físico-química, não se encontram presentes os princípios ativos das substâncias das quais estes derivaram-se, logo, podemos afirmar então, que por esses medicamentes homeopáticos não terem tais substâncias, esses medicamentos não podem ter os efeitos almejados uma vez por não conterem tais princípios ativos que gerariam tais efeitos físico-químicos, portanto, não tem as substâncias que promoveriam esses efeitos terapêuticos. Nesse sentido, todo e qualquer tipo de resultado seja positivo ou negativo por meio dessa natureza de medicamentos, fadaríamos ao que gostam de chamar de o “efeito-placebo”, aonde através desse, poderíamos entender que o que operou resultados ou fatos clínico-terapêuticos, estão mais ligados a processos de indução ou sugestão a pessoas que assim, tendem a ser mais sugestionáveis.

Esse é um bom exemplo, para pensarmos como quando uma determinada forma de prática terapêutica não cabe aos moldes epistemológicos e paradigmáticos de uma determinada forma de pensar de um grupo. Grupo aqui, podemos pensar em grupos hegemônicos que se colocam como os “donos da verdade” dentro de uma determinada forma de narrativa científica hegemônica, colocando ao escanteio das concorrências e corridas que vão em direção a verdade científica, todos aqueles que não pensam sobre os mesmos moldes paradigmáticos. Cada vez mais, entendo que toda essa arbitrariedade em relação a quem pode ou não concorrer a verdade, nos mostra por detrás da supremacia de alguns discursos epistemológicos em detrimento de outros, que o que se está em jogo, não é a premissa honesta da investigação científica provida apenas ao interesse da verdade dos fatos, mas sim, de uma grande e emaranhada rede de interesses econômicos e de poder, aonde os articuladores desse jogo, usam a legitimação do que pode ser verdade ou não, muito mais por manterem eu seus status quo do que realmente estarem dispostos a olhar para os fatos que se apresentam.

Em uma atitude intelectualmente honesta e verdadeiramente provida do espírito encorajado de se fazer ciência, poderíamos no caso dos resultados obtidos pela homeopatia, fazermos perguntas simples como: Se mesmo que esses medicamentos homeopáticos, não tendo os princípios químicos em seus compostos devido ao grande processo de diluição a que foram submetidos, será que existem propriedades mais sutis das substâncias que nossos instrumentos não conseguem detectar ainda? Será que existem propriedades reagentes da água ao entrarem em contato com esses elementos que ainda não a conhecemos? E se pensarmos então pelo viés que não passam de “efeitos-placebos” o que faz com que os seres humanos, consigam trazer resultados benéficos e maléficos para si, quando de alguma forma foram sugestionados? E sendo “efeitos-placebos” como pode a homeopatia sugestionar animais e plantas que também já foram constatados de se beneficiarem com o uso desses medicamentos? Como se operam essas capacidade mentais de promoverem autocura ou auto-malefício quando são sugestionados por alguma pessoa ou informação? O que a própria ciência da homeopática com o seu constructo teórico tem a nos dizer, sobre a forma como esses medicamentes funcionam? Perguntas que nos fazem pensar sobre como os resultados-fatos operam-se, assim que estes ocorrem, entendo ser o verdadeiro e honesto propósito de qualquer cientista ou praticante de qualquer tipo de racionalidade médica ou psicológica e não esse enfadonho e limitado discurso de violência epistemológica, aonde por motivos de interesse econômicos e de poder, caem em uma retórica que fada ao ridículo e ao esquecimento aquilo que não se enquadra aos paradigmas e epistemologias que buscam se manter como narrativas hegemônicas.

Para que não haja males entendidos aqui, o que estou questionando não é o fato de que um profissional da Medicina ou da Psicologia precisariam ou teriam que saber afundo sobre racionalidades terapêuticas tradicionais, integrativas e de práticas espirituais milenares, para que assim, verdadeiramente estivessem preparados para respeitar estas, pelo contrário, o respeito em si, é uma condição ética e por isso deveria ser intrínseca ao sujeito independente do quanto entendemos ou não sobre o objeto do qual é alvo de nosso respeito, essa não é a discussão aqui, a discussão, está ligada mais a um falso discurso de respeito, aonde na realidade esse não acontece, pelo fato de se desconsiderar os saberes que estas práticas carregam em si, colocando-as há um mero patamar de crendices, placebos, fés irracionais, compreendidas apenas como uma forma de trazer conforto para o sujeito, porém, sem compreender que estás também tem às suas eficácias clínicas, aonde na realidade o que existe é um total desinteresse em compreender os seus métodos, práticas, bases epistemológicas e mesmo diante de tamanho desconhecimento por parte de médicos e psicólogos, esses são eleitos os protagonistas a tomarem posse por decidir sobre quais práticas podem ou não ser realizadas. Vemos muito disso por exemplo, quando nos defrontámos com muitos obstáculos por uma parte da classe médica que resiste na ampla implementação das práticas integrativas e complementares no SUS (PICS). Outros contextos assim são vistos constantemente, quando por exemplo, uma parte da classe médica no Brasil, querer estabelecer que só eles poderiam fazer acupuntura, sendo que na realidade, a própria acupuntura originária da medicina tradicional chinesa aonde tem o seu nascimento a milhares de anos antes da própria medicina moderna existir, carregando consigo a sua própria racionalidade e epistemologia que alicerçam as suas práticas. Isso faz algum sentido? Como nesse caso, a medicina moderna, poderia se apropriar, tendo exclusividade sobre uma outra forma de Medicina, que fora criada antes dela própria existir? Isso é no mínimo, uma ideia absurda! Se o que não estivesse em jogo, fosse os velhos interesses econômicos e de poder, mantenedores de uma determinada narrativa epistemológica de dominância, poderíamos vislumbrar um cenário completamente diferente, aonde Medicina Moderna e Medicinas Tradicionais, assim como as Psicologias acadêmicas e variadas abordagens psicoterapêuticas heterodoxas, poderiam conviver e trabalharem juntar em prol do ser humano e da ciência como um todo.

Se pensarmos a fundo, dogmas e crenças irracionais, nutridas de convicções a priori não acontecem só em comunidades religiosas, espiritualistas e terapêuticas tradicionais, mas acontecem também dentro da comunidade científica devido a interesses que fogem ao escopo do interesse genuíno em se fazer ciência.

Os médicos e psicólogos como profissionais protagonistas no que diz respeito à responsabilidade social dentro de um contexto cultural aonde estes respondem sobre o que está acontecendo clinicamente com seus pacientes, faz com que esses sejam os principais responsáveis pelas intervenções para com o cuidado dos próprios, nesse sentido é compreensivo que estes profissionais carregam por de trás de suas ações uma grande preocupação com relação às intervenções coadjuvantes ou não que poderão ocorrer dentro do espectro dos tratamentos e cuidados que seus pacientes receberão ao longo de seus tratamentos, devido às escolhas que os próprios pacientes tenham feito, porém, mesmo dentro destes contextos, não significa, que devida a grande responsabilidade desses profissionais, estes devem ser os únicos protagonistas de deslegitimar ou não às outras práticas medicinais, psicoterapêuticas, terapêuticas e espirituais que possam ajudar os seus pacientes, uma vez que elas próprias também contenham os seus métodos e racionalidades clinicas e terapêuticas. Um exemplo: um médico não precisa ensinar a um professor de meditação como esse deve fazer o seu serviço, porém, ambos devem discutir o caso do paciente, para chegarem em um consenso, se devido ao contexto do paciente, a meditação agora, poderia ser adequada ou não para o seu tratamento, assim como um fitoterapeuta e um médico alopata, poderiam avaliar se as prescrições alopáticas e fitoterápicas prescritas e manejadas simultaneamente, se estás poderiam gerar benefícios ao se complementarem nos respectivos tratamentos ou se haveriam interações entre ambos os medicamentos, tendo como resultado final, um prognóstico ruim para o quadro clínico do paciente. Tudo é uma questão de trabalho conjunto e multidisciplinar aonde as distintas áreas se complementam e não tornam-se uma forma de imperar e deslegitimar a prática de uma em prol da outra.

 O que verdadeiramente deveríamos contemplar melhor ao meu entender, é buscar encontrar melhores formas de fazer com que todas essas áreas, a medicina, as psicologias, as práticas medicinais tradicionais e as práticas psicoterápicas distintas as principais abordagens da psicologia acadêmica, assim como todas as práticas espirituais que também estão a serviço de auxiliar o ser humano em seus cuidados psicológicos e mentais, criassem pontes de diálogos, para entender os seus respectivos métodos, racionalidades, modelos teóricos e práticos, fazendo com que esses possam trabalhar de forma conjunta em favor do ser humano. Assim, não só avançaríamos mais rápido, como seríamos mais eficazes, porém, para isso, é necessário que se combata muito ainda, essa forma de pensamento antiquado aonde se coloca o capital na frente dos interesses científicos.

 

@professormichelalves

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