quarta-feira, 26 de julho de 2023

WILLIAM JAMES PROPÕE A INTROSPECÇÃO COMO FORMA DE INVESTIGAR A NATUREZA DA MENTE, PORÉM, DIANTE DA NÃO IMPORTÂNCIA DADA AO TEMA, MANTIVEMOS NOSSO ELO PERDIDO COM OS IOGUES


 

B. Alan Wallace em seu livro, Mente em equilíbrio diz que: “William James (1842 – 1910), o grande pioneiro americano da psicologia, sentiu que a compreensão científica da mente em seu tempo estava praticamente tão pouco desenvolvida quanto a física antes de Galileu. Desde 1600, ele observou, os cientistas tinham concebido métodos para investigar o mundo externo que podiam ser submetidos à análise matemática. Desse modo, questões há muito discutidas por filósofos foram finalmente resolvidas pelos métodos empíricos da ciência. Quanto mais a ciência progredia, menor o número de problemas nas mãos dos filósofos. William James definiu a psicologia como “a Ciência da Vida Mental, tanto de seus fenômenos quanto de suas condições. Os fenômenos são as coisas que chamamos de sensações, desejos, cognições, raciocínios, decisões e assim por diante”. Enquanto os físicos estudavam coisas físicas que eram acessíveis a todos os observadores competentes, os psicólogos deviam examinar processos mentais subjetivamente experimentados e as relações deles com seus objetivos, com o cérebro e com o resto do mundo. Mas as experiências mentais são coisas particulares e inacessíveis à observação direta pelas ferramentas da ciência. Então James propôs que a psicologia deveria usar fundamentalmente a introspecção para estudar os processos mentais. Contudo, a observação direta dos estados e processos mentais da pessoa, ele argumentou, deve ser completada pela pesquisa comparativa, como o estudo do comportamento animal e a ciência experimental do cérebro. Enquanto James se concentrava na observação introspectiva da experiência mental consciente, o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856 – 1939) ficou bem conhecido pelas teorias sobre a mente inconsciente. Seu trabalho foi pioneiro no qual o terapeuta procura descobrir conexões entre os comportamentos inconscientes dos processos mentais dos pacientes com base em seus relatos verbais feitos pelos pacientes de suas experiências subjetivas no estado desperto e no sonho, Freud procurou sondar os mecanismos ocultos da mente”.

Talvez esse tenha sido o momento de nossa história que poderíamos também ter escolhido a pesquisa sobre a introspecção como mais uma possibilidade de investigação científica, mas que infelizmente não foi um caminho tomado pelas epistemologias ocidentais dominantes. Fico sempre pensando nesse ponto de nossa história aonde, assim como de muitas outras, desde os processos de colonização aonde os europeus munidos de suas verdades e inflamados em catequizar os ditos “povos primitivos” com as suas visões de mundo, forçavam esses povos através da propagação de suas ideológicas, fazendo-os pensar sobre os seus ângulos de visão e consequentemente eliminando toda uma diversidade de saberes e culturas, conforme iam homogeneizando os povos conquistados com os seus conhecimentos ditos “superiores”. As colonizações não eram apenas colonizações territoriais, mas também, colonizações culturais, colonizações de visões de mundo, aonde reduz-se a diversidade contida na visão dos outros à custo de uma visão que se julgue ser a melhor, mantendo essa última viva a custo que outras morram, para que então se torne hegemônica.

Nesse aspecto, transpondo para o nosso contexto de mundo ocidental científico materialista do homem positivista, exceto em casos de evidente refutação a olhares e perspectivas distorcidas sobre a realidade que foram categoricamente refutadas através de fatos científicos, nem sempre como até os dias de hoje a ética e o interesse genuíno pela verdade, são o terreno básico de fundo que alicerça e ampara os bastidores das comunidades científicas, aonde em muitas situações, o que vemos não é o interesse genuíno pelo saber e pela verdade, mas sim, a manutenção de uma estrutura institucional aonde a narrativa “científica” é usada mais como moeda de poder para manter essas estruturas e seus recursos, do que outra coisa, como dito por Pierre Bourdieu em seu livro: “Os usos sociais da ciência, por uma sociologia clínica do campo científico” ele apresenta diferenças claras  entre os cientistas ocupados com a verdade científica e os cientistas ocupados com o capital por de trás das instituições científicas, aonde essas ocupações se voltam a questões ideológicas das quais manterá suas estruturas de poder e não pela investigação da verdade dos fatos científicos em si.

De alguma forma, no amplo espectro das possibilidades do campo científico para a investigação da mente-consciência ou a psique, os protagonistas eleitos como peças em um tabuleiro de xadrez para investigar a história da mente no ocidente foram o comportamento que no Behaviorismo radical nega até mesmo a completa e total existência de uma mente, o inconsciente, a área da fenomenologia-existencial-humanista que gravita naquilo que tange ao espectro do que é consciente, a cognição amparada pelos estudos do cérebro através das neurociências, mas a introspecção foi deixada de fora, a margem desse “campo eletromagnético de epistemologias possíveis”! Qual o motivo ela não encontra-se nesse debate? Só em meados da segunda metade do século XX começamos a chamar essa última para um conversa franca e honesta acadêmica e intelectualmente falando. Para nossa sorte, por outro lado, a introspecção nunca foi deixada de lado pelos “cientistas espiritualistas Iogues” de matriz oriental e até mesmo ocidental com alguns focos isolados dentro do cristianismo.

Enquanto seguíamos sistematicamente medindo e controlando tudo que diz respeito a matéria e mesmo quando resolvíamos investigar o subjetivo através das ciências humanas, o fazíamos com uma certa timidez e cuidado para não flertar com tudo aquilo que parecesse soar da ordem do não físico ou mais próximo do espiritual, aonde tentávamos ajustar a “mente-consciência” humana através dos estudos do comportamento e do inconsciente com um certo receio e cuidado para que se parecesse congruente com as ciências positivistas naturais, mesmo como no caso da Psicanálise que não o é, nesse sentido, entendo que fizemos um mergulho, porém, um mergulho tímido e não tão desbravado quanto a perspectiva introspectiva dos Iogues, pois esses sabendo do que sabem pelos seus laboratórios vivos de práticas, não foram convencidos que a sua ciência era retrógrada e primitiva, e diante disso, não deixaram de seguir praticando e fazendo as suas auto-investigações sem receios e rodeios no que tange as origens e causas do espírito e da consciência como um todo.

Porém, mesmo diante dessa nova abertura a introspecção, não sejamos inocentes e ingênuos, pois essa ainda é bastante mal compreendida por boa parte da comunidade científica e ainda sim, é vista como algo retrógrado e superado quando na realidade, ainda nem se quer, foi devidamente investigada pela a maioria de nós. William James, assim como muitos outros, acredito terem tido momentos conflitivos, por enxergarem um via epistémica “nova de certa forma”, fértil e possível de investigações científicas, mas que infelizmente, por desprezo, não valorização e principalmente incompreensão por parte da comunidade científica a sua volta, não enxergaram as possibilidades, “ o ouro” a potência que a introspecção abria como mais um dos elementos gravitando o campo da investigação de uma ciência esclarecida e destemida de ir ao encontro aos fatos científicos por caminhos ainda não testados. As vezes penso que o terreno talvez não estivesse realmente fértil para germinar a introspecção como forma epistémica de investigar a natureza da mente, mas nos tempos de hoje, não só pelas descobertas através da neurociência contemplativa que está alicerçada pelas ciências naturais, mas também em nossos tempos, esse terreno encontra-se mais que adubado para refletirmos sobre a investigação da mente ao viés de epistemologias humanas e não estritamente materialistas, como as descobertas que venhamos realizando através da mecânica quântica. 

@professormichelalves

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