quarta-feira, 26 de julho de 2023

QUEM CRIA IMAGENS, A MENTE OU OS ORGÃOS BIOLÓGICOS E SEUS REPECTORES SENSORIAIS?

 


Questionarmos a aparente objetividade material da realidade há mais de dois mil anos para cá, pode parecer como já supracitado um forma de discurso niilista ou de negação da realidade e principalmente nos momentos aonde as práticas e métodos científicos estavam no apogeu de seus avanços através das correntes materialistas-positivistas, porém, conforme vão surgindo novas descobertas no campo da física quântica e até mesmo pelo apontamentos por parte de alguns neurocientistas que honestamente começam a questionar a possibilidade de uma outra ordem de entendimento sobre do que se trata a natureza da mente, levantando o questionamento que essa não parece ser apenas algo, fadado a esfera biológica, vamos percebendo que os contemplativos Iogues, Budistas, Cristãos e de outras tradições espirituais não estavam tão alucinados assim, como a maioria de nós e principalmente de uma boa parte da comunidade científica pensava até algumas décadas atrás. Quando o neurologista António Damásio comenta: “Não há imagem do objeto sendo transferida do objeto para a retina e da retina para o cérebro. Tais imagens, não importa o que sejam, existem apenas em nossa mente”.

Quando pensamos nessa perspectiva, poderíamos até sustentar que os estímulos sensoriais que recebemos em nossa retina, refletidos pela luz que através de suas ondas eletromagnéticas irradiadas sobre os objetos que serão captados pelos nossos aparelhos sensoriais isso poderia explicar o porque vemos e o porque validamos como real o que vemos. Porém, analisando pela perspectiva sensória e perceptiva, não temos também nenhuma garantia do ponto de vista da nossa neurofisiologia, para afirmarmos que os aspectos visuais e formadores de imagens que codificamos ou até mesmo da nossa própria imaginação, que esses sejam um arranjo neuroquímico ou uma correlação neural específica que é a tradução que faz com que enxerguemos e decodifiquemos a realidade “externa” a nós, ou seja, algo que está “fora”. O que nossa retina e cérebro capta são estímulos físicos do ambiente externo e que a partir de nossos aparelhos sensórios, acionam processos neurais-biológicos, transformando esses estímulos sensoriais externas em correlações neurais, mas absolutamente nada, nos confirma o porque surgem as imagens do que enxergamos. Então, refletindo um pouco mais, vemos que a criação de imagens é outra história! Acontece talvez por outras vias e que não temos indícios para confirmar que seja algo de natureza biológica como alguns cientistas gostam de afirmar!

Como estímulos físicos do ambiente aonde em suas propriedades contendo apenas partículas, átomos e ondas eletromagnéticas, transformam-se em imagens complexas como a vemos? Seriam as partículas físicas e as ondas flutuando pelo espaço capazes de traduzirem-se em belas e organizadas imagens como a vemos mundo afora? Seriam as partículas químicas, o funcionamento biológico de aminoácidos e proteínas, assim como as correlações neurais em nosso cérebro, serem capazes de criar com realismo instantâneo as belas paisagens que vemos ao nosso redor, como se fossem artistas do mais alto calibre, pintando obras simultâneas e decodificando toda a realidade com mudanças de luz e sombra a todo momento, apenas regidas por esses arranjos biológicos? Acredito que teríamos que ser muito crentes na teoria da mente-biológica, para acreditarmos que elementos orgânicos e inorgânicos fossem capaz de criar as realidades “externas” que observamos através de nosso cotidiano! Da mesma forma como os materialistas pensam na possibilidades de fenômenos biológicos serem capazes de criar imagens mesmo não tendo como provar tal fenômeno, seria realmente absurdo pensarmos que existe a possibilidade de uma mente inteligente não física, por detrás dos fenômenos biológicos que cria essa complexidade toda, fazendo com que vamos gerando significados e criando imagens para frequentarmos a realidade? Essa conjectura da mente não biológica para explicar as imagens que recebemos do ambiente é realmente tão mais absurda que a conjectura em acreditar que fenômenos biológicos e arranjos neurais são os que criam as imagens que vemos a todo instante? O máximo que podemos afirmar até o momento, é que quando temos a experiência de olhar para um objeto “fora”, percebe-se por neuroimagem, que determinadas áreas neurais são estimuladas, mas afirmar que esse arranjo neural, seja a causa prima de estarmos tendo a experiência de ver imagens, é outra história completamente diferente! O que podemos afirmar é que simplesmente recebemos estímulos ambientais e a nossa retina e nosso cérebro os codifica, apresentando atividades biológicas em determinadas regiões do corpo e do cérebro! Porém, afirmar que essa é a explicação para compreendermos como vemos e criamos essas imagens, isso não passa de uma conjectura e se entendida como um fato científico, estamos apenas lidando com uma crença ou a propagação da ideologia materialista da mente-biológica que configura-se claramente em uma afirmação pseudocientífica.

Poderia também se argumentar que quando determinada área do cérebro ou vias neurais responsáveis pela visão fossem lesadas, assim como se tivermos a nossa retina e olhos lesados, não captaríamos a realidade externa como a vemos e portanto ela é o reflexo de estímulos captados pelos nossos aparelhos sensórios e decodificadores neurais! Reforço novamente aqui, que os nosso órgãos sensoriais e o nosso cérebro, o que realmente podemos afirmar que desempenham, é a captação de estímulos sensoriais, não a criação de imagens a partir desses. Quando lesamos esses órgãos sensórios receptores dos estímulos físicos do ambiente, fazemos com que esses inputs externos físicos não cheguem da mesma forma até nós como antes, fazendo com que criemos, outros arranjos para captar fisicamente a realidade externa, porém, codificar em imagens em nossa mente, me parece não depender apenas dos aparelhos sensoriais-biológicos de que dispomos. Um exemplo que gosto de pensar, são as pessoas que ficaram cegas mas mesmo assim, continuam sonhando e enxergando imagens ou mesmo criam imagens em sua tela mental quando assim intencionam. O fato de terem os órgãos dos sentidos visuais lesados, não as impedem de ver imagens ou imaginar coisas não vistas antes. Poderíamos pensar, que no caso de ficarem cegas e ainda continuarem a produzir imagens vívidas em sua mente, seja devido a lembranças acessadas da própria memória armazenada em seu cérebro que mantiveram-se preservadas e por isso, a pessoa mesmo cega, continua a ter acesso a essas imagens? Mas nesse caso, as memórias armazenadas em nosso cérebro formando vias neurais e suas interações biológicas específicas, como esses arranjos armazenados em áreas do cérebro traduzem-se em imagens quando bem intencionamos com a nossa mente em acessá-las? E qual a explicação biológica para compreendermos como é possível a nossa intenção em buscarmos mentalmente o nosso passado ou repertório de imagens que armazenamos, tendo livre acesso a esse banco de imagens? Qual é o fenômeno biológico que traduz a intencionalidade mental em acesso simultâneo a imagens armazenadas pela memória? Qual o fenômeno biológico, que faz com que, mesmo depois que uma pessoa se torne cega, ela ainda continue a poder visualizar e criar novas imagens que não foram armazenadas em seu cérebro, quando ainda tinham as suas capacidades biológicas preservadas das quais armazenavam estímulos do mundo externo, para o interior de seu cérebro? No caso de pensarmos que a mente é criativa ao ponto de se utilizar de seu repertório ou banco de dados de memórias armazenadas no cérebro e mesmo que o sujeito hoje estando cego, sua mente é capaz de criar novos arranjos com os dados de memória armazenados e a partir disso, criar livremente novas imagens mentais nunca vistas antes, como é possível biologicamente se fazer isso?

O que me parece mais interessante em pensarmos nesse caso, não é quem cria as imagens, se é nosso aparato biológico e correlatos neurais em nosso cérebro ou se é uma instância mental não física, não biológica. O que me chama atenção, é essa relação entre a forma como a mente cria as imagens e a relação disso com a interface biológica, pois, pessoas que já enxergaram e ficam cegas, continuam sendo capazes de criar imagens mentais, preservando essa mesma capacidade de quando enxergavam, mas quando perdem a visão, não conseguem captar e construir imagens da realidade externa como antes, porém, agora captando-a de maneira distinta devido as alterações biológicos, poderíamos aqui pensar ser um indício de acreditarmos que aspectos biológicos são capazes de formar imagens e não uma entidade mental não física-biológica como venho defendendo. Porém, ao mesmo tempo, as pessoas que nunca enxergaram “como nós”, continuam sendo capazes de criar imagens a partir da forma como captam os estímulos do mundo, ou seja, criam imagens a partir do que vivenciam. Me parece aqui e o que considero mais intelectualmente honesto em afirmar é que, a conjectura de a mente ser algo de natureza estritamente biológica, é pensarmos que enquanto habitamos um corpo biológico, esse têm sim, uma influência forte na forma como a mente interpreta e cria a realidade a sua volta, é como se nessa interface mente-corpo, o biológico e o não biológico de alguma maneira se influenciam, por isso, mesmo que advoguemos em prol do paradigma da mente enquanto uma entidade não física, os cientistas materialistas também têm a sua razão em compreender a importância da biologia como algum tipo de fator de influência na criação dessas imagens. Essa influência nos parece óbvia como no exemplo supracitado que uma pessoa que ficou cega, por estar com os órgãos sensoriais lesados, passa a não enxergar como enxergava antes, porém, entendemos que mesmo cega, ela não é impedida de criar imagens mentais em sua mente, assim, como imaginar imagens de qualquer tipo que bem entender.

Nesse embate paradigmático, temos a corrente dos neurocientistas que querem provar que aquilo que se chama de mente ou consciência, não passa de uma organização dos arranjos neurais e biológicos que através das nossas vias sensoriais, traduzir-se-ão como codificadores da realidade “externa” que ali está, ou seja, tudo que nos cerca é percebido através de nossos aparatos sensoriais e sistemas fisiológicos que codificam esses estímulos externos recebidos, para validarmos o que denominamos como “real”. A mente aqui, não passa de uma manifestação material ou neurobiológica da vida! Agora, por outro lado, temos a corrente dos não materialistas ou dos cientistas que já investigam a complexidade e amplitude do que está por detrás do conceito de matéria a luz da mecânica quântica do século XX, aonde defendem a possibilidade da mente enquanto uma entidade não física, não biológica, trazendo novas questões e fatos científicos para compreendermos aquilo que denominamos enquanto matéria. Um caso bastante intrigante dos experimentos de não localidade quântica entre cérebros correlacionados do Dr. Jacob Grinberg (1994) e das experiências de correlação quântica não local entre fótons do Dr. Alain Aspect, nos experimentos do Dr. Grinberg, se evidência a mente de um sujeito A influenciando a mente de um sujeito B, a distância através do mapeamento de eletroencefalogramas, aonde o espectro de imagem captado pelo eletroencefalograma na pessoa A, surge no eletroencefalograma da pessoa B, quando a pessoa A, mentaliza a pessoa B,  sem nenhum tipo de recurso tecnológico como sinais de ondas eletromagnéticas, mecânicas, correntes de energia ou mesmo nenhum tipo de aparelho que transmita alguma forma de informação ou sinal da pessoa A para a pessoa B e também, nem mesmo qualquer coisa da natureza que intermedia essa comunicação entre esses sujeitos. A partir desses parâmetros, conseguiu-se evidenciar a influência da mente de um sujeito sobre o outro por nenhuma via biológica, eletromagnética ou de energia elétrica ou mecânica e sim, por uma via estritamente mental através dos pensamentos. A pergunta que fica aqui é: Se a mente é uma condição estritamente biológica e física no sentido restrito da palavra, como podem aspectos cognitivos de um cérebro como no caso dos desenhos gerados pelos espectros das frequências cerebrais mapeadas pelo eletroencefalograma de um sujeito, influenciar a distância o cérebro de um outro sujeito sem nenhuma forma de comunicação e veículo tecnológico entre esses, a não ser, a pessoa A, pensar na pessoa B? Como isso é passível de acontecer sendo a mente um subproduto biológico do cérebro?

 A vida mental interna na qual vivenciamos é permeada pela influência dos objetos que percebemos através de nossos sentidos, porém, esses por si só, são percebidos pelos nossos aparelhos fisiológicos como sinais-informações que chegam até nós e são traduzidos por nosso aparato evolutivo biológico e por nossos correlatos neurais que através desses codificam esses sinais externos do ambiente para a parte interna do nosso corpo biológico. Do ponto de vista sensório-perceptivo, biológico, isso é indiscutível! Mas do ponto de vista da mente enquanto uma entidade inteligente não física e não biológica, quando criamos pensamentos de forma espontânea ou imagens ou mesmo de imaginar coisas, entende-se que essa inteligência, não seria explicada por esse via material neurobiológica, mas sim por uma via não material, pois a mente ou consciência como alguns preferem chamar, não estaria restrita a leis biológicas para existir pelo fato de sua natureza não ser nem física, nem biológica ou pelo menos, não como conhecemos aquilo que restritamente chamamos de físico e biológico, porém, entendo que essa entidade não física “a mente” recebe influência de nosso aparato biológico, como já discutido anteriormente. Esse velho e truncado debate entre materialistas e não-materialistas, pode parecer canônico e retrógado se não fossem as novas descobertas pela física quântica que cada vez mais, ao aprofundar-se na investigação sobre a natureza da matéria e suas propriedades, desvendando-as cada vez mais em suas subunidades atômicas, vamos percebendo que essa questão vai ficando cada mais complexas, devido a estranhezas inesperadas pela corrente de físicos deterministas e pelas ideologias materialistas das ciências naturais, pois ao aprofundarmos cada vez mais no núcleo das estruturas atômicas, o que vai se constatando é que a matéria propriamente dita enquanto a conhecíamos e a sustentávamos até o final do século XIX pela física, não existe, pelo o menos como a compreendíamos e como esperávamos. Max Planck ao final de sua vida diz que: ``Na qualidade de alguém que devotou a vida inteira à ciência mais esclarecida, ao estudo da matéria, posso fazer a seguinte afirmativa como resultado de minhas pesquisas sobre os átomos: a matéria, como matéria propriamente dita não existe! Toda matéria se origina e existe apenas em virtude da força que faz vibrar as partículas de um átomo e que consegue manter unido esse extremamente diminuto sistema solar. Devemos assumir que por trás dessa força existe uma Mente consciente e inteligente. Essa é a matriz de toda a matéria”. Correlacionando essa afirmativa de Planck aos estudos de algumas escrituras budistas antigas, vemos por exemplo na prajnaparamita (A perfeição da Sabedoria) quando se diz que: “Forma é vazio e vazio é forma, forma nada mais é do que vazio e vazio nada mais é do que forma”, percebemos semelhanças nas falas de Planck e desse sutra (verso), o que ao meu entender, nos faz contemplar sobre à investigação de uma dimensão de não solidez sobre as experiências sensoriais que temos com relação a matéria propriamente dita. Penso que a partir desses apontamentos, além de termos um questionamento sobre a visão materialista da vida, temos outros olhares que nos apontam para outras formas de visão e investigação epistémica sobre a natureza e da mente. A compreensão dessas estranhezas quânticas e a implicação disso no estudo da natureza da mente, estão próximas de despertar uma nova revolução científica, tão impactante quanto a de Galileu, Darwin como do mapeamento do genoma humano. Estamos falando de finalmente nascer uma ciência que verdadeiramente irá investigar a natureza da mente e não ficar aos rodeios desse debate como as psicologias e neurociências ficaram, restringindo o fenômeno da mente a fenômenos biológicos. Ao meu entender a mecânica quântica junto a introspecção Iogue, serão as peças chaves para essa nova forma epistémica de investigar a natureza da mente. 

@professormichelalves



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