Um
ponto relevante a ser pensando nesse velho e canônico debate entre a dualidade
de substâncias que aqui vou denominar como uma perspectiva dual-mentalista que
defende uma causação descendente aonde os fenômenos biológicos são redutíveis e
reflexo da expressão de fenômenos mentais de origem não biológica, dos
materialistas não dualistas que defendem a não existência da dualidade
cérebro-mente, aonde os fenômenos mentais são redutíveis e subordinados ao
fenômenos biológicos, corrente hegemônica pelas neurociências em nosso tempo e
dos não dualistas que entendem que o fenômeno biológico e o fenômeno mental
coexistem de forma não separada, mas porém que nenhum deles é uma forma
redutível uma da outra, como é o caso dos pesquisadores da neurofenomenologia,
a discussão é: da mesma forma que os dualistas mentalistas não conseguem provar
a maneira de sua epistémologia a existência da mente enquanto um fenômeno não
biológico o que lhes conferem ao julgo dos materialistas não duais e das
ciências naturais como um todo, a sentença de uma prática de pseudociência, por
não se aceitar a contemplação dos fenômenos mentais ao crivo de análises
subjetivas e humanas e ao mesmo tempo que os materialistas não-duais também não
conseguem provar de forma consistente a partir de suas visões epistémicas, o
que de fato são os fenômenos mentais enquanto providos de estruturas
mensuráveis como se consegue fazer com os fenômenos físicos e biológicos
identificando suas estruturas e formas, quantificando-as, tendo os seus
achados, apenas a expressão de uma redução do que acontece na mente e as
repercussões neurais disso no cérebro, o que não configura também do ponto de
vista materialista, uma prova de se explicar o fenômeno mental com um ente
mensurável, mas sim apenas enquanto uma expressão, encontramo-nos em um impasse
epistemológico, pois em ambas as formas, dos duais mentalistas e dos não duais
materialistas, nenhuma perspectiva é satisfatoriamente convincente uma para a
outro e no que tange aos duais materialistas, nem para eles mesmos.
Já
a corrente da neurofenomenologia, classificando-os aqui como não dualistas mas
que entendem a natureza da mente enquanto uma interface entre fenômenos
biológicos e fenômenos mentais que coexistem e por isso não redutíveis um ao
outro como há mais de 400 anos vem se fazendo pelas ciências naturais
separando-a sistematicamente das ciências da mente advogada por diferentes
tradições espirituais como é o caso do Budismo Tibetano, entende-se aqui, ser
uma via possível para a compreensão e cooperação entre essas distintas e
antagônicas visões epistémicas dos dualistas mentalistas e dos não dualistas
materialistas, porém, um ponto importante a ser levantado, é que o uso da
introspecção-meditativa além de ter sido marginalizado das práticas epistémicas
pela filosofia, pelas psicologias e pelas ciências naturais nos últimos
séculos, essa forma de se investigar ciência em nosso tempo, encontra-se
defasada com relação aos modus operandis se comparados ao métodos científico
cartesiano que elegemos como hegemônico, o que nos conferi nesse contexto, uma
“novo-velho” campo de possibilidades que deveria ser mais explorado e
investigado pela ciências naturais e as ciências humanas como um todo.
Acreditar na maneira reducionista e
intelectualmente desonesta que o que chamamos de mente, pensamentos ou
espírito, se reduz apenas à organizações neurais que são estimuladas em nosso
cérebro quando pensamos por exemplo, é claramente uma afirmação
pseudocientífica por parte das ciências naturais em nosso tempo, quando alguns
neurocientistas em alguns casos, ousam afirmar que já se entendem as origens
biológico-causais dos fenômenos mentais. Definitivamente, não podemos ainda
inferir tal juízo! A constatação desses movimentos neurais na matéria densa do
cérebro averiguando repercussões nos quadros de humor e nos comportamentos dos
sujeitos é um fato científico sim! mas é de longe uma prova factual e
conclusiva, aonde podemos afirmar que correlatos neurais são a gênese
estruturadora e a própria mecânica conclusiva daquilo que vivenciamos através
dos fenômenos psíquico-mentais, como os pensamentos, a imaginação e às amplas
faculdades que gravitam em nosso espectro de mente.
O
estar humano, o pensamento e o imagético por trás das nossas experiências tão
naturalmente e fundamentalmente corriqueiras, não podem ser explicadas
cabalmente com tamanha redução diante das fenomenologias e subjetividades
humanas. Talvez, quando tentamos reduzir nossa humanidade e a vida como um todo
à aspectos estritamente materiais, e apenas a isso, compreendo que essa forma
de empreitada, possa nascer ou seja motivada muito mais pela necessidade humana
de reduzir e amordaçar a realidade às suas próprias limitações e necessidades
de controle com explicações intelectuais reducionistas do que adotarmos métodos
mais abrangentes que contemplem visões sejam elas materialistas ou mentalistas
para que construamos investigações científicas correlacionando cooperativamente
distintas visões epistemológicas.
Algumas
perguntas que talvez fossem pertinentes a serem feitas: Se entendermos que a
manifestação de elementos químicos em nossos circuitos neurais tem como
subproduto a geração de fenômenos mentais como o pensamento, a imaginação, ou
as faculdades do psiquismo mais complexas, porque não deveríamos pensar que
existe também, uma forma de inteligência semelhante ao que frequentamos
internamente como os nossos pensamentos ou algo que se assemelhe a todo esse
aparato imagético que vivenciamos como seres sencientes, nos outros elementos e
reinos da natureza como por exemplo: na água, nos minerais, ou em outras
substâncias inorgânicas e orgânicas? Entender que aquilo que chamamos de
mente-consciência ser um subproduto de correlatos neurais ou interações
físico-químicas de partículas físicas, nos abre precedente para entendermos que
a realidade para além só do espectro humano, também fervilha de coisas
inteligentes como assim a entendemos. Por outro lado, é estranho pensarmos
nisso, porque quando o assunto gravita dentro do espectro humano, pensarmos na
complexidade dos fenômenos mentais, não nos parece estranho acharmos que essas
são decorrentes de bases materiais físico-biológicas da vida, tão propagada e
difundida pelas ciências naturais, pela física clássica (não obviamente pela
mecânica quântica), pela química e pela biologia, sendo essas entidades
físicas, a fonte geradora da nossa realidade mental, mas quando revertemos esse
ponto de vista e o contrário é expresso, refutamos como muita gratuidade e
veemência, quando por exemplo, não se aceitando ou dando a devida importância
nas pesquisas sobre as memórias da água como as do Dr. Jean Luc Montagnier e de
todos os achados empíricos contundentes das práticas da Medicina Homeopática,
como indícios e a possibilidade de indicar inteligências amplas e complexas
nesse “simples” elemento da natureza como é no caso da água? Estaríamos aqui,
novamente repetindo os erros de uma mentalidade antropocêntrica em nossa maneira de se fazer
ciência, negligenciando as amplas formas de expressão dos fenômenos mentais,
mas reduzindo-os apenas a espécie humana?
Um
ponto que fique bem claro, quando partirmos de uma perspectiva
neurofenomenológica ou mesmo não-dual mentalista, é entender
que a manifestação inteligente da vida no espectro mental, não é algo que se
restringe ao humano, pois entende-se que os outros seres, reinos ou elementos
da natureza, também são providos de formas de inteligência que são anteriores a
sua materialidade física em outras palavras: existe de alguma forma
inteligente, alguma maneira de se “relacionar-pensar”, entre os minerais, as
plantas, os fungos, as bactérias, os animais, assim como entre nós. Quando me
refiro em formas de se “pensar” gostaria que o leitor, não lesse isso, como
algo restrito a cognição e a experiência humana como a conhecemos, me refiro em
um sentido mais amplo de uma forma de “inteligência” pré-existente também em
toda a forma de manifestação da vida. Podemos contemplar um pouco disso, quando
por exemplo, observamos como os líquens povoam regiões inóspitas, criando
terreno fértil para o surgimento de plantas ou do reino vegetal como um todo,
assim como quando olhamos para uma rede complexa de aminoácidos que atuam de
maneira extremamente organizada, aonde esses se agrupam para formar proteínas e
que se organizam para formar órgãos e tecidos, criando sistemas biológicos cada
vez mais complexos. Se tudo isso, não for uma espécie de inteligência com essas
formas de organizações “comportamentos” orgânicos, micro e macro estruturados e
às inter-relações de cooperação e interdependência na natureza como um todo e
ao mesmo tempo, se pensarmos em todos os reinos: animais, minerais, vegetais e
os demais reinos que poderíamos classificar aqui, como não inteligentes, que
nome daríamos a esses fenômenos? São apenas meras relações causais da expressão
físico-químico-biológica da interação entre esses distintos entes da natureza
desprovidos de fenômenos mentais inteligentes?
@professormichelalves
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