Alan
Wallace diz:
Durante
o século passado, o fato de os cientistas cognitivos não terem conseguido
conceber nenhum meio rigoroso de observar diretamente realidades mentais
levou-os à conclusão similar de que a introspecção não pode ser usada como
método científico de investigação. Essa crença, que continua a ser amplamente
sustentada por psicólogos e neurocientistas, ainda justifica a exploração da
mente por meio de comportamento e atividade cerebral. Mas ao minar o valor da
introspecção, ela implicitamente apoia a suposição de que os processos mentais
realmente nada mais são que processos cerebrais encarados de uma perspectiva
subjetiva. A implicação é que processos cerebrais são reais, mas processos
mentais são ilusórios”.
Esse
é um dos pontos centrais que discutimos até aqui. Se os neurocientistas,
psicólogos, psiquiatras ou os cientistas de modo geral, não são versados na
prática da introspecção, não a realizaram de maneira suficiente e satisfatória,
assim como o fizeram os Iogues, como eles podem afirmar que tal método para
investigar a natureza da mente (a introspeção) não funciona ou não está em
conformidade aos rigores de uma pesquisa científica sobre a mente?
Não
sendo versados no assunto da introspecção e sendo meros amadores sobre o mesmo,
afirmar que a introspecção não pode ser usada enquanto uma alternativa
metodológica e epistemológica na investigação científica da mente, é além de
uma desonestidade intelectual, uma escolha imatura, ansiosa e negligente com
relação a estes métodos que não são familiares a essa comunidade científica que
exclui tais possibilidades epistémicas enquanto abordagens possíveis para se
explicar o fenômeno mental.
De um ponto de vista lógico, colocamos em
desuso, métodos que sabemos não funcionar pela prática que acumulamos com
estes, aonde então poderemos afirmar que tal método não deve ser utilizado, uma
vez que esse se mostrou ineficaz ao longo das investigações científicas. Se
pensarmos na própria história da ciência, é importante que saibamos não só com
relação aos modelos epistemológicos que trouxeram contribuições com relação a
avanços na investigação científica, mas também que estudemos os métodos que não
funcionaram, para que assim, possamos não repetir erros do passado, ou mesmo
“reinventar rodas”, no sentido de trazermos uma proposta que nos parece
inovadora, mas que devido a nossa falta de pesquisa, incorremos em apresentar
propostas que já foram investigadas e na pior das possibilidades, métodos que
se mostraram ineficientes com relação a trazer novas contribuições para o
objeto estudado. Isso sim, seria um erro grosseiro!
Mas quando o assunto é a introspecção-meditativa,
será que de fato, nós ocidentais esgotamos esse assunto em nossos laboratórios
de psicologia e de neurociências? A resposta em mais alto e bom tom é que: mal começamos
as investigações nesse campo! Nossos psicólogos e neurocientistas em sua
maioria “raras exceções” nem começaram a se quer a praticar métodos
introspectivos em primeira pessoa para experimentalmente contemplarem os
fenômenos mentais enquanto observadores da própria mente! O desconhecimento
geral das comunidades científicas quanto aos métodos que foram prescritos pelas
ciências espirituais antigas acerca da natureza da mente é um mundo completo e
desconhecido para a maioria dos cientistas de hoje que se colocam a investigar
a mente.
Essa
postura negligente por parte da comunidade científica com a relação à
introspecção e essa enquanto uma abordagem epistemológica possível para
investigar os fenômenos mentais, têm precedentes em outras áreas do
conhecimento, como por exemplo, ao vermos uma parte da comunidade psicanalítica
afirmar que métodos de hipnose não funcionam tão bem quanto a livre associação
Freudiana, pelo fato do próprio Freud ter abandonado a hipnose. Tal afirmação
além de uma reflexão superficial e simplista, não me parece muito inteligente
do ponto de vista reflexivo, se pensarmos que um método, no caso, a hipnose não
foi tão profundamente investigado por Freud, pois ele não se dedicou muitos
anos a tal natureza de métodos e ainda sim, afirmarmos que a livre associação é
mais funcional comparado a hipnose, quando não se têm um honesto e longo
aprofundamento no último.
Como
podemos comparar com aquilo que não sabemos profundamente? Freud esgotou o
assunto chamado Hipnose? Além dele, quantos mais exploraram profundamente tal
assunto, a ponto de esse ter sido colocado por um tempo e até hoje, pela
maioria se não de toda a comunidade psicanalítica como uma abordagem relegada
ao descrédito e a não funcionalidade terapêutica?
Entre
outros exemplos que poderíamos elencar aqui, o quanto perdemos décadas e até
séculos, quando somos tomados por conclusões precipitadas, a priori e que não
foram devidamente e exaustivamente investigadas, quando simplesmente toda uma
comunidade vai aderindo a essa natureza de opiniões simplistas, mas que de
alguma forma, manipulam o curso da história delimitando quais narrativas
científicas deverão ser creditadas ou não. Infelizmente, assim foi com a
introspecção-meditativa que até os dias de hoje, é assunto restrito aos
pesquisadores outsiders, heterodoxos e os que até então tinham algum prestígio
acadêmico, passam potencialmente a estarem elencados ao time dos pesquisadores
marginais que perdem uma grande parte da possibilidade dos recursos
direcionados a suas pesquisas não bem vistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário