segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

A necessidade da imobilidade

 

A necessidade da imobilidade

 

Em tempos como os nossos aonde as sociedades são estruturalmente programadas ao incessante movimento e à incessante novidade

A imobilidade de nossos corpos, como no caso da prática da meditação, se torna um ato de subversão, a essa sociedade estruturada no incessante movimento

Na imobilidade adoramos o imaterial, aquilo que não se toca, mas pode se sentir

Já no movimento adoramos aquilo que se toca, aquilo que é material objetificável

Pessoas que imobilizam-se, passam a frequentar os mundos internos insondáveis para aqueles que vivem no incessante movimento do correr daqui para lá

Porém, nas sociedades da frenesi do movimento, fazemo-los incessantemente não por uma questão de opção, mas sim de obrigação

A sobrevivência impele ao movimento, isso seria bom se os esforços dos nossos movimentos gerados por nós, fossem destinado de forma interdependente a uma consciência coletiva acerca do impacto das nossas ações a comunidade que nos cerca

 Porém, hoje a maioria de nós, nos movimentos de forma alienadamente estruturada para manter os privilégios de um seleto grupo de pessoas e nesse movimento, nos violamos e nos violentamos uns aos outros de todas formas possíveis e imagináveis

Na alienação estruturada através do incessante movimento, temos até a sensação que estamos fazendo uma boa coisa para nós mesmos

Essa sensação de boa coisa, foi implantada através de uma reversão da adoração do espiritual para o material, aonde trocamos a imobilidade da prostração sobre o divino que habita em nós e passamos a nos prostrar a objetos materiais (bens) e serviços

Essa reversão aonde deixamos a imobilidade da busca pelo interno sagrado, foi trocada pelo movimento do externo efêmero

Configurou-se então, para o espirito do nosso tempo, do tempo do movimento e da adoração aos objetos materiais

A imobilidade em algumas culturas já fora conduta padrão como é o movimento hoje, porém, a imobilidade nos tempos de hoje, se torna um ato cada vez mais raro e caro de se fazer

Caro, é porque imobilizar-se é subverter escolhas, é subverter o ir ao contra-fluxo dos movimentos incessantes nas corridas pela sobrevivência

Estar imóvel é pagar preços muito altos, é renunciar a muitas coisas

Estar imóvel do ponto de vista de uma cultura materialista é ganhar menos, é até mesmo empobrecer economicamente, materialmente

Mas até onde precisamos nos impelir ao movimento a troco de coisas materiais?

Estar sistematicamente imóvel é diminuir nossos consumos a bens e serviços

Estar sistematicamente imóvel é deixar de concorrer cada vez mais a fama, ao status, ao reconhecimento à ganância, ao poder, aos privilégios como um todo

As sociedades do movimento não é um terreno fértil para os contempladores que dedicam suas vidas a imobilidade

Temos aqui, uma grandeza inversamente proporcional: quanto mais a mobilidade dos nossos corpos é impelida por nossas sociedades do consumo, menor será o número de pessoas que poderão se dedicar a imobilidade de seus corpos

Ou seja, os contempladores ou aqueles que se dedicam a imobilidade, estão cada vez mais em extinção

A extinção da imobilidade e de tudo aquilo que se arremete a tal ação, foi estruturalmente ridicularizada com discursos que entranharam em nossas culturas, aonde se coloca o incessante movimento como algo bom e digno, vitorioso e a imobilidade como algo ruim e vadio, a derrota

Na sociedade do incessante movimento, aquele que contempla é visto como vagabundo, sem futuro, aquele que não quer nada com a vida e como consequência se torna um marginalizado

Como podemos dizer que nos movimentos incessantes, estamos querendo algo com a vida, sendo que na realidade nem paramos, nos imobilizamos para sentir a própria vida?

Por outro lado, aquele que se impele no incessante movimento, mesmo não entendendo o porque desse, é entendido como trabalhador, como digno

Mas o ponto é: nos incessantes movimentos que nós impelimos, nós trabalhamos para o que ou para quem? Para onde os nossos movimentos se destinam?

Porém, se também escolhermos dedicar sistematicamente parte do nosso tempo a imobilidade, também deveríamos nos perguntar, para que motivo nós estamos nos imobilizando?

Se continuarmos na lógica do incessante movimento, ao ponto de amarrarmos todos a esse, veremos cada vez mais a morte dos contempladores, daqueles que resolveram imobilizar-se

Porém, se entendêssemos o quanto é poderosa a imobilidade, o quanto os “custos-benefícios” dessa prática impactariam profundamente nossas sociedades

Entenderíamos através dessa, o quanto desperdiçamo-nos em movimentos desnecessários incessantes, que no fim são verdadeiros curto circuitos para consumirmos o nosso tempo de viver para evitar o inexorável encontro com nós mesmos

                                                                                                                              @professormichelalves

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