A necessidade da
imobilidade
Em
tempos como os nossos aonde as sociedades são estruturalmente programadas ao
incessante movimento e à incessante novidade
A
imobilidade de nossos corpos, como no caso da prática da meditação, se torna um
ato de subversão, a essa sociedade estruturada no incessante movimento
Na
imobilidade adoramos o imaterial, aquilo que não se toca, mas pode se sentir
Já
no movimento adoramos aquilo que se toca, aquilo que é material objetificável
Pessoas
que imobilizam-se, passam a frequentar os mundos internos insondáveis para
aqueles que vivem no incessante movimento do correr daqui para lá
Porém,
nas sociedades da frenesi do movimento, fazemo-los incessantemente não por uma
questão de opção, mas sim de obrigação
A
sobrevivência impele ao movimento, isso seria bom se os esforços dos nossos movimentos
gerados por nós, fossem destinado de forma interdependente a uma consciência
coletiva acerca do impacto das nossas ações a comunidade que nos cerca
Porém, hoje a maioria de nós, nos movimentos de
forma alienadamente estruturada para manter os privilégios de um seleto grupo
de pessoas e nesse movimento, nos violamos e nos violentamos uns aos outros de
todas formas possíveis e imagináveis
Na
alienação estruturada através do incessante movimento, temos até a sensação que
estamos fazendo uma boa coisa para nós mesmos
Essa
sensação de boa coisa, foi implantada através de uma reversão da adoração do
espiritual para o material, aonde trocamos a imobilidade da prostração sobre o
divino que habita em nós e passamos a nos prostrar a objetos materiais (bens) e
serviços
Essa
reversão aonde deixamos a imobilidade da busca pelo interno sagrado, foi
trocada pelo movimento do externo efêmero
Configurou-se
então, para o espirito do nosso tempo, do tempo do movimento e da adoração aos
objetos materiais
A
imobilidade em algumas culturas já fora conduta padrão como é o movimento hoje,
porém, a imobilidade nos tempos de hoje, se torna um ato cada vez mais raro e
caro de se fazer
Caro,
é porque imobilizar-se é subverter escolhas, é subverter o ir ao contra-fluxo
dos movimentos incessantes nas corridas pela sobrevivência
Estar
imóvel é pagar preços muito altos, é renunciar a muitas coisas
Estar
imóvel do ponto de vista de uma cultura materialista é ganhar menos, é até
mesmo empobrecer economicamente, materialmente
Mas
até onde precisamos nos impelir ao movimento a troco de coisas materiais?
Estar
sistematicamente imóvel é diminuir nossos consumos a bens e serviços
Estar
sistematicamente imóvel é deixar de concorrer cada vez mais a fama, ao status,
ao reconhecimento à ganância, ao poder, aos privilégios como um todo
As
sociedades do movimento não é um terreno fértil para os contempladores que
dedicam suas vidas a imobilidade
Temos
aqui, uma grandeza inversamente proporcional: quanto mais a mobilidade dos
nossos corpos é impelida por nossas sociedades do consumo, menor será o número
de pessoas que poderão se dedicar a imobilidade de seus corpos
Ou
seja, os contempladores ou aqueles que se dedicam a imobilidade, estão cada vez
mais em extinção
A
extinção da imobilidade e de tudo aquilo que se arremete a tal ação, foi
estruturalmente ridicularizada com discursos que entranharam em nossas
culturas, aonde se coloca o incessante movimento como algo bom e digno, vitorioso
e a imobilidade como algo ruim e vadio, a derrota
Na
sociedade do incessante movimento, aquele que contempla é visto como vagabundo,
sem futuro, aquele que não quer nada com a vida e como consequência se torna um
marginalizado
Como
podemos dizer que nos movimentos incessantes, estamos querendo algo com a vida,
sendo que na realidade nem paramos, nos imobilizamos para sentir a própria
vida?
Por
outro lado, aquele que se impele no incessante movimento, mesmo não entendendo
o porque desse, é entendido como trabalhador, como digno
Mas
o ponto é: nos incessantes movimentos que nós impelimos, nós trabalhamos para o
que ou para quem? Para onde os nossos movimentos se destinam?
Porém,
se também escolhermos dedicar sistematicamente parte do nosso tempo a imobilidade,
também deveríamos nos perguntar, para que motivo nós estamos nos imobilizando?
Se
continuarmos na lógica do incessante movimento, ao ponto de amarrarmos todos a
esse, veremos cada vez mais a morte dos contempladores, daqueles que resolveram
imobilizar-se
Porém,
se entendêssemos o quanto é poderosa a imobilidade, o quanto os
“custos-benefícios” dessa prática impactariam profundamente nossas sociedades
Entenderíamos através dessa, o quanto desperdiçamo-nos em movimentos desnecessários incessantes, que no fim são verdadeiros curto circuitos para consumirmos o nosso tempo de viver para evitar o inexorável encontro com nós mesmos
@professormichelalves

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