Bibliotecas
são mandalas de sabedoria
Aprendi
com a vida, que as bibliotecas são verdadeiras mandalas de sabedoria. Essa
pequena biblioteca na foto, é uma pequena biblioteca particular do meu pai, da
qual comecei a vasculhar desde o início da minha adolescência aonde passei a me
interessar pelos livros e de lá para cá nunca parei essa jornada. Esse interesse
nunca cessou e cada vez mais, os livros são adquiridos, mesmo que muitos dos
livros comprados, talvez nunca serão lidos, assim como ocorrera com o meu pai.
Essa
biblioteca, por mais pequena e simples que pareça, para mim, ele sempre pareceu
MÁGICA e gigante, pois
misteriosamente, mesmo já tendo revisitado através de olhares e foleado todos
os livros desta pequena biblioteca caseira várias vezes, procurando sempre uma
nova empreitada para a leitura e que de alguma forma que considero misteriosa,
sempre aparecia os livros necessários a cada nova etapa da vida e dos
interesses desses momentos.
Inicialmente
como uma espécie de “iniciação” pelo gosto da leitura, foi me apresentado
através da literatura chamada pelo meu pai de “realismo fantástico”, termo não
usado muito hoje, que fora substituído pelo que chamados hoje de ficção
científica. Como uma forma de rito de passagem para adentrar ao interesse pelo mundo
da leitura, eu me iniciei na leitura destes livros de ficção do qual já me
convidavam a expandir minha visão de mundo e da vida para possibilidades de
coisas, que até hoje, ainda não vivemos em nossas realidades cotidianas e
talvez nem viveremos.
Quando
me refiro ao aspecto misterioso dessa pequena biblioteca particular, é porque
mesmo depois de mais de 25 anos revisitando-a, é como se dela sempre brotasse
de algum lugar misterioso, um livro que fosse condizente com as buscas que
estava empreendendo em meu momento de vida e a sensação de espanto por nunca
ter visto tal livro sempre foi a mesma, pois a pergunta sempre era retórica: “Como
eu nunca tinha visto esse livro aqui antes?”
Pode
parecer engraçado, mas com o passar dos anos, eu percebi que fui desenvolvendo
uma espécie de olhar devocional a essa biblioteca, acreditando que realmente
ela tinha “e têm” a capacidade de transmutar um aspecto mágico e sutil de
sempre brotar de algum lugar de sabedoria, aquilo que estou precisando começar
a enveredar em minhas investigações pessoais.
Quando
tive interesse pelos assuntos ufológicos, boom... lá estavam os livros sobre o
assunto, quando me interesse pela filosofia de novo, quando me interessei pelas
religiões e a espiritualidade mais uma vez, quando me interessei pela questão
social, antropológica e política, novamente e hoje sei, que mesmo sendo varrida
pela impermanência (pois desde a morte do meu pai) muitos dos livros já foram
doados e novas configurações foram montadas nessa pequena biblioteca, ela de
alguma forma, sempre carrega essa potência misteriosa de trazer as boas novas
para cada momento da minha vida.
Com
a experiência de sempre revisitar e vasculhar a biblioteca de meu pai ao longo
desses anos, descobri que as bibliotecas por menores e mais caseiras que sejam,
são potenciais mandalas de sabedoria. As mandalas dentro do budismo tibetano,
assim como as iconografias de um modo geral, são representadas como uma forma
de inteligência da qual aprendemos pelo viés do simbólico, ou seja, aquilo que
não é objetivo (diabólico), aquilo que carrega o potencial da leitura subjetiva,
única e intrínseca a cada um, em outras palavras, a linguagem através dos
símbolos, carrega as potências dos olhares vivos da subjetividade humana, pois
cada um cria a sua forma um olhar sobre o mundo que o rodeia, assim como
interpretar os seus significados (os signos, as imagens). As imagens são
símbolos que atuam a partir de nossas subjetividades, nesse sentido, diante de
tantas e distintas formas e entendo que infinitas de frequentar essa pequena
biblioteca e a sua potência em se desvelar a cada momento de vida, esse
fenômeno só podia ocorrer conforme a minha visão interna mudava.
Para
mim é tão misterioso perceber que os livros de uma mesma biblioteca brotam e
como se nascessem a cada época de minha vida, como se nunca tivessem estado por
lá antes, como de pensar sobre qual inteligência misteriosa, regia as
motivações de meu pai, para comprar livros que eu sei que ele mesmo nem chegou
a vasculhar. O mesmo sinto hoje, com relação a minha própria biblioteca
particular pois sei que mesmo não entendendo claramente como ela se ergueu e
vem se desenhando, consigo perceber que ela carrega uma potência misteriosa que
servirá para alguém na posterioridade.
As
bibliotecas são verdadeiros altares de sabedoria, para aqueles que se entregam
indo abertos e desnudos ao encontro desses altares de sabedoria. Enquanto
estivermos com a sede do saber, as bibliotecas por menores que sejam, se
apresentarão misteriosamente como verdadeiras mandalas de sabedoria que jorram de
um lugar misterioso, todo potencial de conhecimentos que precisaremos, para
iniciar uma nova jornada de investigações.
@professormichelalves

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