sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Bibliotecas são mandalas de sabedoria


Bibliotecas são mandalas de sabedoria

 

Aprendi com a vida, que as bibliotecas são verdadeiras mandalas de sabedoria. Essa pequena biblioteca na foto, é uma pequena biblioteca particular do meu pai, da qual comecei a vasculhar desde o início da minha adolescência aonde passei a me interessar pelos livros e de lá para cá nunca parei essa jornada. Esse interesse nunca cessou e cada vez mais, os livros são adquiridos, mesmo que muitos dos livros comprados, talvez nunca serão lidos, assim como ocorrera com o meu pai.

Essa biblioteca, por mais pequena e simples que pareça, para mim, ele sempre pareceu MÁGICA e gigante, pois misteriosamente, mesmo já tendo revisitado através de olhares e foleado todos os livros desta pequena biblioteca caseira várias vezes, procurando sempre uma nova empreitada para a leitura e que de alguma forma que considero misteriosa, sempre aparecia os livros necessários a cada nova etapa da vida e dos interesses desses momentos.

Inicialmente como uma espécie de “iniciação” pelo gosto da leitura, foi me apresentado através da literatura chamada pelo meu pai de “realismo fantástico”, termo não usado muito hoje, que fora substituído pelo que chamados hoje de ficção científica. Como uma forma de rito de passagem para adentrar ao interesse pelo mundo da leitura, eu me iniciei na leitura destes livros de ficção do qual já me convidavam a expandir minha visão de mundo e da vida para possibilidades de coisas, que até hoje, ainda não vivemos em nossas realidades cotidianas e talvez nem viveremos.

Quando me refiro ao aspecto misterioso dessa pequena biblioteca particular, é porque mesmo depois de mais de 25 anos revisitando-a, é como se dela sempre brotasse de algum lugar misterioso, um livro que fosse condizente com as buscas que estava empreendendo em meu momento de vida e a sensação de espanto por nunca ter visto tal livro sempre foi a mesma, pois a pergunta sempre era retórica: “Como eu nunca tinha visto esse livro aqui antes?”   

Pode parecer engraçado, mas com o passar dos anos, eu percebi que fui desenvolvendo uma espécie de olhar devocional a essa biblioteca, acreditando que realmente ela tinha “e têm” a capacidade de transmutar um aspecto mágico e sutil de sempre brotar de algum lugar de sabedoria, aquilo que estou precisando começar a enveredar em minhas investigações pessoais.

Quando tive interesse pelos assuntos ufológicos, boom... lá estavam os livros sobre o assunto, quando me interesse pela filosofia de novo, quando me interessei pelas religiões e a espiritualidade mais uma vez, quando me interessei pela questão social, antropológica e política, novamente e hoje sei, que mesmo sendo varrida pela impermanência (pois desde a morte do meu pai) muitos dos livros já foram doados e novas configurações foram montadas nessa pequena biblioteca, ela de alguma forma, sempre carrega essa potência misteriosa de trazer as boas novas para cada momento da minha vida.

Com a experiência de sempre revisitar e vasculhar a biblioteca de meu pai ao longo desses anos, descobri que as bibliotecas por menores e mais caseiras que sejam, são potenciais mandalas de sabedoria. As mandalas dentro do budismo tibetano, assim como as iconografias de um modo geral, são representadas como uma forma de inteligência da qual aprendemos pelo viés do simbólico, ou seja, aquilo que não é objetivo (diabólico), aquilo que carrega o potencial da leitura subjetiva, única e intrínseca a cada um, em outras palavras, a linguagem através dos símbolos, carrega as potências dos olhares vivos da subjetividade humana, pois cada um cria a sua forma um olhar sobre o mundo que o rodeia, assim como interpretar os seus significados (os signos, as imagens). As imagens são símbolos que atuam a partir de nossas subjetividades, nesse sentido, diante de tantas e distintas formas e entendo que infinitas de frequentar essa pequena biblioteca e a sua potência em se desvelar a cada momento de vida, esse fenômeno só podia ocorrer conforme a minha visão interna mudava.

Para mim é tão misterioso perceber que os livros de uma mesma biblioteca brotam e como se nascessem a cada época de minha vida, como se nunca tivessem estado por lá antes, como de pensar sobre qual inteligência misteriosa, regia as motivações de meu pai, para comprar livros que eu sei que ele mesmo nem chegou a vasculhar. O mesmo sinto hoje, com relação a minha própria biblioteca particular pois sei que mesmo não entendendo claramente como ela se ergueu e vem se desenhando, consigo perceber que ela carrega uma potência misteriosa que servirá para alguém na posterioridade.

As bibliotecas são verdadeiros altares de sabedoria, para aqueles que se entregam indo abertos e desnudos ao encontro desses altares de sabedoria. Enquanto estivermos com a sede do saber, as bibliotecas por menores que sejam, se apresentarão misteriosamente como verdadeiras mandalas de sabedoria que jorram de um lugar misterioso, todo potencial de conhecimentos que precisaremos, para iniciar uma nova jornada de investigações. 

 

                                                                                                      @professormichelalves

 

 

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