É
justamente aqui que a prática contemplativa, aonde o humano com sua própria
“tecnologia” de portar um corpo e uma mente que através do seu auto laboratório
contemplativo, explora dimensões que as máquinas não alcançam, mas que o
silêncio e toda uma estruturação, abordagem e epistemologia de introspecção
meditativa desenvolvidas por esses contemplativos orientais e ocidentais
alcançam. Através de metodologias introspectivas podemos acessar dimensões
ocultas da mente que ainda não foram exploradas pela ciência moderna, como são
totalmente desconhecidas por essa devido as escolhas epistemológicas que
tomamos não contemplarem essas possibilidades de investigação.
O
que está em questionamento aqui, não é a tentativa de desencorajar os
neurocientistas em suas empreitadas pelas correlações neurais entre o cérebro e
as nossas faculdades da mente como um todo. Obviamente, esse também é um campo
de pesquisa e muito frutífero por sinal, mas além dele, precisamos abrir uma
janela de possibilidades que existe para investigarmos as próprias
potencialidades do humano, a partir da introspecção contemplativa aonde o
sujeito investigue no seu próprio “laboratório de ser”. Temos hoje a nossa
disposição, toda uma ciência de métodos e práticas desenvolvidas a milhares de
anos por Yogues Budistas que aprenderam a investigar e exploração dimensões totalmente ocultas
para a maioria de nós, aonde estas compreendem aspectos de nossa mente ou
consciência como um todo que nem se quer fazemos ideia ou quando achamos que
fazemos, explicamos com enormes equívocos do ponto de vista prático e teórico,
como é o caso, das tentativas frustradas de muitos autores ocidentais
explicarem o conceito de iluminação e o que realmente seja isso. De rotina, o
que vemos em centenas destes livros espirituais ocidentais, são muitas vezes,
apenas especulações e conjecturas, não fundamentadas em métodos práticos e
sérios no que diz respeito a introspecção meditativa e à investigação da
natureza da mente através dessas. Os conhecimentos das tradições orientais que
vem sendo colocados a prova de fogo por centenas de gerações e testados
meticulosamente por honestos praticantes da introspecção meditativa, são um
patrimônio, não só cultural e humano, mas também intelectual e científico,
quando nos colocarmos a nos debruçar por esses métodos de investigação da mente
sem precedentes se comparados as epistemologias das ciências naturais
materialistas hegemônicas no ocidente. Alan Wallace com respeito a isso diz: “talvez alguém tenha reparado que, em todas
essas abordagens, algo crucial foi deixado de lado: nossa experiência pessoal
do que é ser uma criatura humana”; a ideia que entendo aqui é no sentido de
pensarmos o que significa sermos uma criatura humana que pensa, que é portadora
de uma mente, aonde não percamos de vista que a nossa humanidade ou o estar
humano, no sentido daquele que sente desejos, apegos, frustrações, aquele no
qual a vida pulsa dentro de si, nesse contínuo laboratório chamado de vida que
nunca para, enquanto estamos vivos biologicamente ou não se pensarmos que
também somos seres espirituais (não físicos), no sentido do que é esse humano
que está ali o tempo inteiro sendo bombardeado pela vida por estímulos
sensoriais incessantes e que é o espectador e protagonista dessa mente
operando, nesse sentido, qual instrumento seria o mais adequado ou o que teria
mais autoridade a investigar a mente humana que se não o próprio humano que a
porta? O estar humano nessa forma de enxergar, se torna de fato o grande
protagonista dessa mente, por conviver junto com a própria o tempo inteiro. É
importante que não percamos essa dimensão quando temos como objeto de estudo a
própria mente se entendermos que nós humanos como aquele que convive com essa
dimensão da mente de maneira incessante, somos o melhor instrumento para investigar
a própria.
Como
venho discutindo em outros artigos e dentro desse livro, a pauta das pesquisas
acerca da meditação nas investigações científicas, está demasiadamente olhando
para o paradigma da mente como um subproduto do cérebro procurando desvendar os
impactos da prática meditativa em nosso cérebro e organismo como um todo, mas
não estão sendo colocados em evidência (apenas em casos excepcionais) as
orientações deixadas pelos yogues que se referiram a essa prática como um
“modus operandi” de investigação da própria natureza da mente. Toda a riqueza
de métodos e práticas compiladas por contemplativos ocidentais e orientais
sinalizando terrenos ainda não explorados por nossa ciência atual, estão sendo
negligenciados por visões epistémicas presas ao materialismo biológico
(neodarwinismo), aonde os “cientistas da mente” (psicólogos e neurocientistas)
se limitam a biologia vendo-a como a única prova possível, assim como os
biólogos não refutam a física como a única ciência que daria o aval do que é
material, porém, essa subordinação dos neurocientistas e psicólogos a biologia,
e essa última a física, são passíveis de refutação, quando pensamos que a
própria física em si, a partir da mecânica quântica nas primeiras décadas do
século XX, já refutara a sua própria noção do que é a matéria, compreendendo-a,
não mais como essa entidade rígida e que ocupa um lugar definido no espaço
podendo desloca-lo nesse. Mas pelo contrário, compreendendo os meandros daquilo
que chamamos de matéria e ao investiga-lo em seu nível atômico ou causal e
então, darmos conta que aquilo que chamamos de matéria enquanto uma entidade
rígida e delimitada por um espaço impertubável não existe, passamos a entender
a partir dessa nova física, que essa noção de matéria que ainda está sendo veiculada
pela biologia e como subserviência da psicologia e neurociência a última, ambas
áreas do saber estão lidando com premissas epistémicas além de refutáveis,
estão tendo como modelos paradigmas já rompidos e refutados pela física
moderna. Essa subordinação dos neurocientistas a biologia e da biologia a uma
física materialista do século XIX, atrasam o nosso progresso em investigarmos a
natureza da mente, nesse sentido, entendo que os psicólogos e neurocientistas
deveriam estar mais preocupados em estudar a mecânica quântica do que a
biologia e uma física ortodoxa quando o assunto seja investigar a natureza da
mente ou o microuniverso das estruturas atômicas. Já com relação as
macroestruturas, não cabe aqui, as críticas supracitadas, pois os avanços da física
do século XIX para trás são inquestionáveis ao meu ver, porém, uma abordagem
epistémica com os dados que temos pela mecânica quântica no que diz respeito a
natureza da matéria não mais dura, mas sutil da matéria, mas mesmo assim, opta
por partir em direção a uma narrativa epistémica através de provas materiais,
porém, compreendendo o que se chama de material uma entidade com propriedades
rígidas, no caso, delimitando que as repercussões de toda fenomenologia mental
ser nada mais que as correlações neurais identificadas em nosso cérebro e a
partir desses dados, definir que a nossa mente e psiquismo como um todo, não
passam de manifestações de um organismo biológico, material, físico, além de
encarar a matéria biológica com tamanha propriedade fenomênica, ao mesmo tempo,
reduzem o que chamamos de matéria em algo muito delimitado, os materialistas
entram em uma verdadeira contradição, para na realidade higienizarem qualquer
tipo de teoria que tente explicar a natureza da mente por um viés epistémico
não físico ou uma entidade sutil, espiritual que seja inteligente. Mesmo a
noção de matéria constatada pela mecânica quântica (e que deveria ser hoje
nossa base epistémica para compreendermos a natureza da matéria) tangenciar a
essas definições de algo da ordem do não quantificável e sim de uma outra
ordem, onde não sabemos ao certo aonde aquilo que chamamos de matéria esteja
localizado, mas sim, que gravita em possibilidades de localização e de uma
maneira “misteriosa” essa matéria da seus sinais de existência, através de suas
manifestações fenomênicas, como quando uma pessoa que morre aparece, pois isso
não é esperado por nossa noção materialista não é mesmo! mesmo assim e diante
disso, os materialistas reduzem a mente a uma fenomenologia biológica e ao
mesmo tempo enaltecem o fenômeno biológico como o nexo casual de tudo aquilo
que entendemos por mente, só para matar tudo aquilo que seja da ordem do não
físico ou do não material, transformam o mundo material biológico em uma
entidade supra material com superpoderes que convenhamos ser muito difícil de
compreender! um correlato neural criador de imaginações, como isso pode
acontecer? Nessa forma e narrativa em se fazer ciência, não está cabendo ou se
dando lugar ou sendo considerado com o devido cuidado os fenômenos não
detectáveis pelas máquinas mas que o humano identifica, senti-os e
classifica-os a partir de suas experiências práticas através da contemplação
meditativa. A esse respeito Alan Wallace diz o seguinte: “a religião se tornou tão dependente da doutrina, e a ciência tão
materialista, que métodos contemplativos de investigação costumam ser
esquecidos. No mundo moderno, a meditação, quando praticada, é muitas vezes
usadas apenas para aliviar o stress e superar outros problemas físicos e
psicológicos. Mas a meditação pode também oferecer algumas das percepções mais
profundas que somos capazes de alcançar sobre a natureza e a identidade
humanas”.
Texto:
@professormichelalves
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